Agostinho Rodrigues: da guerra aos nazistas à Presidência da Assembleia Com destacada participação na campanha da FEB, na Itália, Agostinho Rodrigues foi eleito presidente do Legislativo Estadual no ano de 1963.

19/09/2018 15h48 | por Vanderlei Rebelo
Agostinho José Rodrigues.

Agostinho José Rodrigues.Créditos: Sandro Nascimento/Acervo Assembleia Legislativa do Paraná

Agostinho José Rodrigues.

Membro da FEB na luta contra os nazistas na Itália, na II Guerra Mundial, de onde voltou condecorado por bravura, Agostinho Rodrigues (1915-1987) seguiu bem-sucedida carreira no Exército até que decidiu trocar a farda pela política: elegeu-se deputado, tornou-se presidente da Assembleia Legislativa do Paraná e chegou a assumir interinamente o cargo de governador por duas semanas, em 1963.

Esta foi, em síntese, a trajetória deste paranaense de Curitiba nascido numa família de classe média com posses suficientes para custear seus estudos iniciais no Colégio Partenon, frequentado pelos filhos da elite local – mas sem recursos para lhe pagar um curso na universidade (ainda não havia ensino superior gratuito no Estado).

Agostinho Rodrigues alistou-se no Exército, uma opção atraente, na época, para os jovens que não tinham acesso à universidade. Nos anos seguintes, dividiria sua preferência entre a farda verde-oliva e a sua paixão no futebol, com a camisa rubro-negra do Atlético Paranaense – ele foi um frequentador relativamente assíduo da Baixada, o estádio do clube no bairro Água Verde (onde hoje está a Arena da Baixada), assim como dos bailes de carnaval da Sociedade Thalia.

Em 1942, aos 27 anos, fez o curso de aperfeiçoamento de sargentos do Exército e em junho de 1944 embarcou rumo à Itália, como membro da Força Expedicionária Brasileira (FEB), sob o comando do general Mascarenhas de Moraes.

Rodrigues assumiu o comando do segundo pelotão de fuzileiros do 11º Regimento de Infantaria, que concentrava um grande número de expedicionários paranaenses. No 11º RI participou dos combates de Monte Castelo e da Ofensiva da Primavera (abril de 1945), que levou à conquista de Montese, marcada por ferozes confrontos com as tropas nazistas, nos quais a FEB sofreu pesadas baixas. Rodrigues estaria presente ainda na ofensiva final do Vale do Pó, que resultou na rendição e aprisionamento de milhares de soldados inimigos no início de maio, às vésperas da capitulação alemã.

A intervenção da FEB nestes confrontos da II Guerra Mundial foi decisiva, como reconhecem historiadores militares e oficiais do Exército dos Estados Unidos em documentos públicos e publicações especializadas. Alguns desses episódios foram reconstituídos por Agostinho Rodrigues em livros que ele viria a publicar nas décadas seguintes. O Paraná na FEB (1953), Pé de Trincheira (1966), Segundo Pelotão, Oitava Companhia (1968), 35 Anos Depois da Guerra (1980) e Terceiro Batalhão, o Lapa Azul (sem data conhecida), livros de sua autoria, relembram momentos dramáticos do conflito, quase sempre do ponto de vista do soldado comum como personagem central no campo de batalha.

A ênfase na coragem do expedicionário brasileiro (precariamente treinado, fardado e equipado para enfrentar a mais poderosa máquina de guerra da época, em condições climáticas hostis) singulariza Agostinho Rodrigues como um importante memorialista da FEB. 

De volta ao Brasil promovido a primeiro-tenente, Rodrigues supervisionou a criação da 5ª Companhia de Polícia do Exército, da qual foi o comandante por três anos. Experiência que o credenciou a participar, em 1950, da reestruturação da 5ª Região Militar do Exército, sediada em Curitiba. Em seguida ele foi nomeado diretor da Guarda Civil do Paraná, em que permaneceu até 1955. Pouco antes disso Rodrigues foi aposentado do Exército com a patente de major.

Sua entrada na política se deu em 1954. Incentivado pelo governador Bento Munhoz da Rocha, ele se filiou ao Partido Republicano (PR), apoiou a candidatura vitoriosa de Ney Braga – também oficial oriundo do Exército – à Prefeitura de Curitiba e disputou uma vaga na Assembleia Legislativa. Ficou como primeiro suplente, mas assumiu várias vezes o mandato em lugar de deputados de sua coligação que se licenciaram por razões diversas.

Em junho de 1955, ao assumir o mandato pela primeira vez, apresentou projeto de lei tornando obrigatória a realização de concursos públicos para a contratação de servidores estaduais, alegando que era preciso dar um basta nas nomeações feitas por meio do “pistolão” – mas só décadas depois a proposta se tornou lei.

Outro projeto de sua autoria fixava uma verba de 50 mil cruzeiros anuais que o Estado deveria repassar às prefeituras para a instalação de bibliotecas municipais. No início de 1958 ele apresentou um polêmico projeto de lei que previa a readmissão de ex-funcionários públicos demitidos por ligações com “movimentos revolucionários nacionais” – espécie de anistia que não prosperou, num período recheado de revoltas e sublevações militares.

Agostinho Rodrigues se elegeu deputado estadual em outubro de 1958 e obteve novo mandato quatro anos depois, agora já pelo PDC. No início da legislatura, havia dois candidatos à presidência da Assembleia, os deputados Nilson Ribas e Antônio Rüppel, mas Rodrigues surgiu como terceira via e foi eleito numa composição entre o PDC, a UDN, o PSD e o PRP, com ampla maioria do plenário.

Como presidente da Assembleia Legislativa, em 22 de maio de 1963 Rodrigues assumiu o governo no lugar de Ney Braga, que saiu em viagem aos Estados Unidos a convite do Departamento de Estado. Agostinho Rodrigues exerceu as funções de governador até o dia 7 de junho, quando Ney reassumiu o governo.

A interinidade transcorreu sem problemas, mas em fevereiro do ano seguinte Agostinho Rodrigues rompeu temporariamente com o governador, que relutava em sancionar o aumento salarial do funcionalismo público aprovado pela Assembleia.

Rodrigues apoiou o golpe militar de 31 de março de 1964 que depôs o governo constitucional de João Goulart e no final do ano seguinte, depois que o presidente Castelo Branco baixou ato criando o sistema bipartidário, ele se filiou à Arena, a sigla que deu sustentação política à ditadura.

Elegeu-se deputado federal em 1966 e em 11 de dezembro de 1968 assumiu a Secretaria de Segurança Pública, a convite do governador Paulo Pimentel. No dia seguinte à posse foi anunciada a primeira grande ação de sua gestão: a descoberta de uma fazenda de maconha em Loanda, Noroeste do Estado.

Dois dias depois, em 13 de dezembro, uma sexta-feira, o presidente Costa e Silva baixou o Ato Institucional nº 5, que fechou o Congresso Nacional e mergulhou o País no período mais duro do regime militar, com prisões, tortura, cassação de mandatos e o recrudescimento da guerra contra facções revolucionárias clandestinas. O ex-presidente Juscelino Kubitschek e o ex-governador da Guanabara Carlos Lacerda foram presos na mesma noite da sexta-feira em que foi baixado o famigerado AI-5.

Rodrigues durou apenas oito meses no cargo de secretário: em agosto de 1969 ele foi substituído pelo general da reserva Mário Carneiro Portes. Soube de sua demissão pela imprensa e só reassumiu o mandato de deputado em outubro, quando o Congresso foi reaberto, depois de dez meses de recesso imposto pelo AI-5.

No ano seguinte, seu nome foi incluído numa lista tríplice de candidatos a vice do governador nomeado Haroldo Leon Peres (o regime abolira as eleições diretas para governador), junto com Alípio Ayres de Carvalho e Pedro Viriato Parigot de Souza, este último escolhido para compor a chapa.

Agostinho Rodrigues exerceu ainda dois mandatos na Câmara dos Deputados, encerrando sua vida pública em janeiro de 1979. Quando morreu em Curitiba, em julho de 1987, aos 72 anos, vários de seus livros sobre a participação da FEB na Itália já tinham novas edições. Era casado com Adélia Dalagassa Rodrigues, com quem teve três filhos. 

 

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