Reajuste, sindicato, partido e governoLuiz Cláudio Romanelli O reajuste de 6% nos salários dos servidores estaduais, aprovado pela Assembléia Legislativa neste mês de maio, faz parte da política do governador Roberto Requião, iniciada em 2003. É o terceiro ano consecutivo que o reajuste geral ao funcionalismo é concedido em função da lei proposta por Requião instituindo a data-base dos servidores. É bom lembrar que, diante da crise financeira global, a maioria dos estados brasileiros não cogita a possibilidade qualquer reajuste e alguns falam até em cortes nas vagas. Só para se ter uma idéia a massa salarial do funcionalismo estadual Paraná saltou de R$ de R$ 3,4 bilhões em 2002 e saltou para R$ 7,4 bilhões em 2008 – um aumento de 118%. O reajuste anual coroa uma série de iniciativas tomadas pelo governo nos quatro anos do primeiro mandato, quando se procedeu a uma readequação geral das carreiras funcionais, ato que por si só já significou reajuste real para a maioria das categorias. Depois de oito anos de salários congelados, os servidores públicos do Paraná passaram a ser tratados com respeito e dignidade. É desnecessário, aqui, citar todos os dados condizentes a melhorias salariais das várias categorias do funcionalismo, mesmo porque já me detive nessa questão em artigo anterior. Diante da proposta do governo, os sindicatos se mobilizaram e fizeram contrapropostas, não se contentando com o índice proposto de 6% e exigindo mais. Ora, a principal ação dos sindicatos é lutar por melhorias salariais, alcançar um valor maior para o trabalho de seus representados. Mesmo assim, levando-se em conta que hoje o governo dialoga com os sindicatos com toda a clareza e transparência, é estranho que as direções sindicais não se tenham dado conta dos limites a que o Estado, para manter o equilíbrio de suas contas, poderia chegar. É curioso, mas até certo ponto compreensível, que os deputados da atual legislatura que apoiavam o governo anterior, aquele que não dava nenhum reajuste, tenham formado ao lado dos sindicatos e de suas propostas de emendas. Jogar para a platéia é muito comum em nossa história política. Porém, não custa lembrar que os parlamentares e os partidos devem se posicionar de forma política, e não corporativa, para atender os interesses gerais da população, e não os específicos de um setor da sociedade. Entretanto, mais grave foi a postura dos deputados do Partido dos Trabalhadores, que faz parte do governo estadual. Dos seis deputados do PT, dois votaram com a oposição, fazendo média com os sindicatos, três se abstiveram, não se entende o porquê, e apenas um, o bravo deputado Pedro Ivo Ilkiv, votou responsavelmente com o governo. Por que é grave essa posição? Porque o PT, participando do governo, conhece a situação. Os deputados do PT acompanham a implementação de todas as medidas do governo, bem como estão cientes das bases concretas em que essas medidas se fundamentam. Mais ainda, os deputados do PT sabem que o governo Lula, que nós também apoiamos, concedeu um reajuste de 13% aos servidores federais, parcelado em três etapas (2009, 2010 e 2011) e que ainda estão dependendo da “existência de disponibilidade orçamentária e financeira para a realização da despesa”. Por que cobrar do nosso governo, que não estabeleceu essa condição, um reajuste maior? A resposta é simples: os deputados do PT, com a ressalva já indicada acima, deixaram de agir como representantes responsáveis do povo do Paraná para não correr o risco de uma erosão em suas bases; deixaram de agir como governo para se alinhar à oposição. A sorte dos deputados do PT (e dos demais oposicionistas) é que a Assembléia Legislativa aprovou o reajuste de 6%. Dessa forma, vai haver reajuste. O que significa que as bases não jogarão nas costas dos deputados do PT a responsabilidade pela não concessão de nenhum reajuste. Agora que foi um enorme equívoco político e uma posição muito estranha do PT não há como negar. É triste e doloroso ver esses companheiros darem as costas ao governo do qual participam.Luiz Claudio Romanelli, 50 anos, advogado, especialista em gestão urbana, deputado, vice-presidente do PMDB do Paraná e líder do Governo na Assembleia Legislativa