Assembleia reúne setor produtivo para debater avanços e desafios da transição energética e dos biocombustíveis no Paraná

A Frente Parlamentar do Hidrogênio Renovável e Biocombustíveis da Assembleia Legislativa reuniu, na manhã desta segunda-feira (8), representantes da indústria, do comércio, de órgãos ambientais e pesquisadores para debater a transição energética para o biodiesel. Com o tema “Os desafios para o desenvolvimento do mercado de biocombustíveis no Estado do Paraná”, o encontro discutiu o avanço já alcançado e as possibilidades de ampliação do uso de combustíveis renováveis em substituição aos de origem fóssil.

De acordo com a deputada Maria Victoria (PP), coordenadora da frente parlamentar, a reunião foi importante para ampliar a discussão sobre a regulamentação do setor.

“A nossa lei inovadora do hidrogênio renovável abriu essa possibilidade da frente parlamentar para ouvir os setores de todos os tipos de energia que nós temos no Paraná, com todo o seu potencial, como o biogás, o biometano e a biomassa. Essa parceria com a sociedade civil organizada e com o setor produtivo de energia, que traz suas recomendações, contribui para essa regulamentação, que coloca o Paraná à frente de todo o Brasil na produção de energia limpa. Nós queremos que o setor de produção de energia limpa seja também um condutor da economia do nosso Paraná, com geração de emprego e renda, e qualidade de vida para os paranaenses. Temos o potencial, temos tudo o que é necessário para isso: inteligência, mão de obra, tudo para protagonizar a produção de energia limpa no Brasil”, explica.

O papel da frente parlamentar para incentivar a transição energética também foi destacado pelo deputado Fábio Oliveira (PODE). “Essa questão do hidrogênio renovável e dos biocombustíveis é essencial para o Estado do Paraná. Nosso estado já é referência na área ambiental e, logicamente, a Assembleia não poderia se furtar de participar desse debate. Temos que olhar para o mercado, não apenas para manter a produção atual, mas também para entender como poderemos ampliá-la em nosso estado.”

Congresso

A transição energética para os biocombustíveis também é tema de discussão no Congresso Nacional. Por isso, alguns parlamentares enviaram depoimentos para contribuir com o debate.

Para o deputado federal Alceu Moreira (MDB/RS), “tanto do ponto de vista econômico quanto social e ambiental, esta é uma bandeira gigante para o Brasil. Uma economia circular que começa na lavoura e termina no tanque dos nossos veículos, poluindo menos o meio ambiente e causando menos problemas de saúde. Como presidente da frente do biodiesel, tenho orgulho de dizer que o Estado do Paraná está aprofundando este debate, que é de grande importância para o país”.

Já o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania/SP), titular da Comissão Especial sobre Transição Energética e Produção de Hidrogênio Verde da Câmara dos Deputados, afirma que o assunto foi um dos pontos centrais dos debates da COP30, realizada recentemente em Belém do Pará.

“O tema do hidrogênio e dos biocombustíveis ganhou relevância internacional na COP30, e o Brasil integra uma aliança global pelos biocombustíveis. Os países que ainda não haviam apostado nisso estão convencidos de que a segurança energética pode se combinar bem com a segurança alimentar. O Brasil demonstrou que é capaz de produzir mais alimentos e, ao mesmo tempo, mais agroenergia e biocombustíveis”, disse.

Produção

O diretor-superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Querosene, Donizete Tarsotomia, afirmou que o estado tem a oportunidade de se tornar um grande produtor de biocombustíveis.

“Esse caminho para os investimentos em biocombustíveis mostra a maturidade que atingimos. Produzir biocombustíveis não é apenas produzir o combustível líquido, é muito mais do que isso. É produzir empregos, oportunidades e desenvolvimento econômico e agrícola. É deixar de importar combustíveis fósseis. O governo federal levou para a COP30 a proposta de multiplicar por quatro a produção de biocombustíveis até 2035. E o Paraná pode fazer isso em muito menos tempo, a partir dos investimentos que estão sendo feitos pelas cooperativas, como Cocamar e Coamo. Não podemos ficar dependentes dos combustíveis fósseis”, explicou.

Miguel Rubens Tranita, vice-presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), lembra que outros setores podem se beneficiar da transição energética.

“Já temos no Paraná um crescimento muito significativo neste setor, especialmente na produção de etanol. Temos muitas oportunidades para trabalhar com outros biocombustíveis, como os destinados à aviação e à navegação. Mas há a necessidade de uma regulamentação, com leis federais e estaduais, que deem ao empreendedor a segurança necessária para investir e, assim, promover o crescimento do mercado. Neste momento, felizmente, há uma consciência política e empresarial sobre a grande oportunidade que temos no Paraná. O hidrogênio é, com certeza, o futuro e a garantia de reduzir as emissões.”

RMC

O gerente-geral de Operações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) no Paraná, Vinicius Sant’Ana, apresentou o projeto Selene, voltado à produção de hidrogênio renovável em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba. O projeto prevê a implantação de uma planta de hidrogênio produzido por eletrólise da água — processo que utiliza energia de fontes renováveis para separar o hidrogênio do oxigênio, sem emissões de carbono. O gás será utilizado na própria operação da empresa, contribuindo para a descarbonização industrial e a redução de custos energéticos, além de poder suprir parte das necessidades de outras indústrias da região.

Na mesma linha, o diretor de Novos Negócios e Inovação da Sanepar, Anatalício Risden Júnior, destacou a produção e o uso do biogás para gerar a energia necessária ao funcionamento de diversas estações de tratamento de esgoto no estado, além das parcerias internacionais que permitirão a produção de hidrogênio a partir do lodo gerado pelo processo de tratamento.

“Corredores verdes”

Alexandre Parker, diretor de Assuntos Corporativos do Grupo Volvo na América Latina, destacou que os caminhões novos são capazes de utilizar qualquer proporção da mistura entre diesel fóssil e biodiesel, inclusive o chamado B100, composto integralmente por biodiesel. Ele propôs a criação de “corredores verdes” em rodovias, com postos que ofereçam B100 ao longo de toda a rota. Um desses corredores poderia ser implementado em todo o trecho rodoviário entre Mato Grosso do Sul e o Porto de Paranaguá, garantindo a descarbonização do transporte da soja produzida no estado vizinho e no Paraná. Ele também ressaltou a importância de comprovar que o Brasil é capaz de produzir biocombustíveis sem comprometer a produção de alimentos.

Marlon Maués, da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar), também destacou a necessidade de criar corredores sustentáveis que garantam a oferta de biodiesel, dando segurança para que os empresários do setor realizem a conversão da frota. Já o superintendente do Sistema Ocepar, Robson Mafioletti, reforçou a importância da ampliação do foco da comissão e mencionou as iniciativas de substituição energética já implementadas pelas cooperativas em diferentes regiões do estado.

O diretor-presidente do Instituto Água e Terra, Everton Luiz da Costa Souza, falou sobre a importância da transição energética para a preservação ambiental.

“O Paraná tem sido premiado nos últimos cinco anos como o estado mais sustentável do Brasil porque tem crescido economicamente e gerado benefícios sociais, sem descuidar do nosso patrimônio natural — seja o solo, a floresta ou a água. A complexidade da sustentabilidade é muito grande, mas temos um diálogo constante com o setor produtivo para criar um ambiente favorável aos investimentos, sempre com a garantia da preservação ambiental”, afirmou.

A reunião contou ainda com a participação de Diego Ribas, prefeito da Lapa, que comentou os investimentos recebidos pelo município para a produção de biocombustíveis pelo Grupo Potencial, representado também pelo vice-presidente Carlos Eduardo Hammerschmidt.