
A Assembleia Legislativa do Paraná promoveu, nesta quarta-feira (6), uma sessão solene em homenagem à 22ª Jornada de Agroecologia. O evento, realizado no Plenário da Casa de Leis, foi organizado pela Frente Parlamentar da Agroecologia e da Economia Solidária, coordenada pelo deputado Professor Lemos (PT).
“A agroecologia vai além da produção de alimentos livres de agrotóxicos, aditivos químicos e transgênicos. Ela representa o cuidado com o planeta e a promoção da vida em abundância para todos. É mais do que produzir sem veneno: é cuidar da terra, da água, da biodiversidade e das pessoas”, afirmou o parlamentar.
Também integram a Frente os deputados Goura (PDT), Moacyr Fadel (PSD), Dr. Antenor (PT), Arilson Chiorato (PT), Luiz Claudio Romanelli (PSD), Evandro Araújo (PSD), Requião Filho (PDT), Renato Freitas (PT) e as deputadas Ana Júlia (PT) e Luciana Rafagnin (PT).
A Jornada reúne 150 núcleos de agroecologia de diferentes regiões, que participam de uma intensa programação entre os dias 6 e 10 de agosto, no Centro Politécnico da UFPR, em Curitiba. “Os principais protagonistas do evento são os camponeses e camponesas, que produzem alimentos saudáveis, sem veneno, e que defendem a agroecologia como modelo de vida, de economia e de resistência. Eles retornam à capital paranaense para compartilhar, além da produção, a cultura e os saberes do campo”, observou o Lemos.
Presente no evento, a deputada Ana Júlia (PT) destacou a importância da Jornada para o debate de temas como a luta pela reforma agrária, a alimentação saudável e de qualidade e a construção de um mundo melhor. “Fico feliz de ver este Plenário lotado para homenagear e discutir temas importantes para a agricultura familiar”, afirmou.
O deputado Renato Freitas (PT) também reforçou a relevância do evento para o debate agroecológico. “Fico feliz de estar aqui hoje, somando-me a essa luta, exigindo a transição agroecológica. Viva a reforma agrária, a agroecologia, o povo de luta, o MST e todas as demais organizações que estão na linha de frente na luta por justiça” disse.
Antes da solenidade na Assembleia, ocorreu uma Marcha por Terra e Teto pelas ruas de Curitiba, com a participação de integrantes da Jornada.
Diálogo e missão
O superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis no Paraná (Ibama/PR), Ralph Medeiros de Albuquerque, reforçou o apoio histórico ao evento e destacou o alinhamento das pautas da agroecologia com as diretrizes do órgão ambiental.
“A agroecologia propõe uma nova relação com a natureza, baseada no cuidado com a vida e no uso responsável dos recursos naturais. A carta da Jornada, por exemplo, traz como um de seus eixos centrais a recuperação massiva da Mata Atlântica. Essa pauta dialoga diretamente com a missão e a visão do Ibama”, afirmou.
Ele ressaltou que o fortalecimento da agroecologia também é estratégico para o enfrentamento ao desmatamento e à degradação ambiental.
Além disso, para o superintendente, iniciativas legislativas e de parlamentares são fundamentais para consolidar a agroecologia como política de Estado. “É essencial garantir apoio financeiro, técnico e institucional para que projetos agroecológicos prosperem e contribuam com a preservação ambiental, a geração de renda e a segurança alimentar”, disse.
“A Jornada cumpre um papel fundamental ao dar visibilidade à construção de políticas públicas voltadas à agroecologia, à regularização fundiária e à proteção ambiental. Ela mobiliza, informa e capacita”, afirmou o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária no Paraná (Incra/PR), Nilton Bezerra Guedes.
Ele destacou ainda que a Jornada dialoga diretamente com a missão do Incra.
“Nosso papel envolve garantir o direito à terra, mas sempre considerando que toda propriedade deve cumprir sua função social. Identificamos áreas que não estão cumprindo essa função e, a partir disso, avançamos na criação de assentamentos que hoje já nascem com a agroecologia como base”, explicou.
O Incra também atua no desenvolvimento dos assentamentos, com políticas integradas de moradia, infraestrutura e acesso a direitos básicos. “Esta Jornada está diretamente conectada com tudo isso. Ela representa o povo em movimento, construindo conhecimento e reivindicando o que é justo. Está plenamente alinhada com nossas diretrizes internas”, completou.
Grito de alerta e de esperança
Para a superintendente do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar no Paraná (MDA/PR), Leila Klenk, a Jornada é um grito de alerta e de esperança por um futuro saudável no campo e na cidade. Ela também celebrou o que antes parecia um sonho distante e hoje se consolida como realidade: a agroecologia como alternativa viável, sustentável e necessária.
“O mundo pede alimentos saudáveis. A agroecologia oferece mais do que isso. Ela oferece um modo de vida saudável para as famílias do campo, que se transforma em comida de verdade na mesa das pessoas da cidade”, afirmou.
Ela ressaltou ainda que a Jornada cumpre o papel de chamar a atenção da sociedade e do poder público para a urgência de políticas que protejam e valorizem a agricultura familiar.
"Temos agricultores produzindo de sol a sol, muitas vezes sem o apoio necessário. Precisamos de leis específicas que incentivem a compra de alimentos agroecológicos e garantam renda, segurança e dignidade a quem está na linha de frente da produção de alimentos saudáveis”, destacou.
“Eventos como este são fundamentais para o avanço das pautas da agroecologia e da segurança alimentar. A Conab sempre esteve presente e continuará apoiando iniciativas que defendem a produção orgânica e agroecológica”, afirmou o superintendente regional da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Valmor Luiz Bordin.
Ele destacou a importância de ações como a Jornada para ampliar o debate sobre políticas públicas e sustentabilidade. “Falar em sustentabilidade hoje sem falar em agroecologia é incoerente. A agroecologia é parte essencial desse processo”, reforçou.
Para Bordin, os governos devem ampliar o apoio à agroecologia, criando mais espaços, políticas específicas e fomentando a formação técnica e acadêmica.
“É preciso que a agroecologia entre nas universidades, nos cursos da área de ciências agrárias. Ainda se fala muito pouco sobre isso nas grades curriculares. Precisamos dar mais visibilidade aos estudantes, aos professores e às práticas agroecológicas”, concluiu.
Sociedade sustentável
Roberto Baggio, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), afirmou que a Jornada reforça a luta por uma sociedade sustentável, com equilíbrio ambiental, justiça social e alimentação saudável. Para ele, a solenidade na Casa de Leis é um gesto de reconhecimento e gratidão.
“Esse momento nos motiva a seguir nesse caminho de construir uma sociedade agroecológica. É um incentivo à luta e ao fortalecimento de políticas públicas que assegurem um modelo de desenvolvimento baseado no cuidado com a natureza, com o alimento e com as pessoas”, declarou.
Baggio também falou sobre as principais pautas defendidas nesta edição: o fortalecimento da agroecologia como política de Estado, a ampliação de legislações voltadas à proteção ambiental e ao incentivo à produção de alimentos sem veneno, além de investimentos em infraestrutura pública para que essa produção chegue às cidades.
“A agroecologia não é só uma forma de produzir; é também uma forma de viver, de cuidar da terra e das relações humanas”, pontuou.
“Fazemos da produção de alimentos um ato político. Apresentamos uma crítica à destruição da natureza e ao modelo de produção em escala, e propomos a reforma agrária como saída, com alimentos saudáveis e respeito à natureza. A agroecologia é o caminho”, afirmou Armelindo Rosa da Maia, assentado no Acampamento Valmir Mota de Oliveira, em Cascavel.
Produtor agroecológico, Maia contou que a programação da Jornada inclui não apenas debates e seminários, mas também uma grande feira agroecológica, onde os camponeses comercializam seus produtos e compartilham seus modos de vida.
“Estamos construindo um projeto de campo que apoia a reforma agrária, valoriza a cooperação, respeita a natureza e tem a agroecologia como base”, destacou.
Durante o evento, foi lida a carta da 22ª Jornada de Agroecologia, com propostas para o fortalecimento da agroecologia e para a transição agroecológica no Paraná. Também foi entregue uma cesta com produtos da agricultura familiar aos integrantes da mesa.
Participaram da solenidade os deputados Luiz Claudio Romanelli (PSD) e Hussein Bakri (PSD); a vice-reitora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), professora Camila Fachin; o procurador de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná (MP/PR), Olympio Sotto Maior; o diretor de Integração Institucional do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR/PR), Richard Golba; vereadores; lideranças; camponeses; trabalhadores da economia solidária; militantes de movimentos e organizações populares do campo e da cidade; artistas e apoiadores da agroecologia de todas as regiões do Paraná.
Jornada
A Jornada de Agroecologia é realizada desde 2002 e se consolida como um dos maiores encontros sobre o tema no Brasil. Reúne agricultores e agricultoras, povos indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais, movimentos populares, pesquisadores e estudantes. É organizada por uma articulação de mais de 60 organizações sociais, movimentos populares, coletivos e instituições de ensino.
Com conferências, seminários, oficinas, feiras e intervenções artísticas, o evento busca apresentar à sociedade a agroecologia como alternativa ao modelo do agronegócio, com foco na produção de alimentos saudáveis, na justiça social e no enfrentamento da crise ambiental e climática.
Esta é a sexta vez que a UFPR sedia o encontro em Curitiba, em seu Campus Centro Politécnico.
Mais informações: www.jornadadeagroecologia.org.br