 
                            A força do artista curitibano Poty Lazzarotto (1924–1998) está presente em diversos cantos da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Na exposição “Poty retrata o Paraná”, aberta no último dia 21 e que permanecerá disponível à visitação do público até o fim de março no Salão Nobre, é possível compreender melhor a influência decisiva do artista no Prédio do Plenário. Entre as 25 obras expostas, a mostra apresenta estudos de Poty que permitem entender como ele concebeu obras marcantes da edificação, inaugurada há cerca de 50 anos. 
Desenhados em papéis de calendário com amplos espaços brancos e o aviso “risque e rabisque”, há esboços que detalham a criação do painel "Sol, pinhão e três planaltos"; e do amplo mural de concreto aparente "Símbolos do Paraná", ambos presentes no térreo do edifício. Também estão expostos os rascunhos que resultaram nos entalhes de madeira batizados de “Ceifador” -  inicialmente previstos para compor a Tribuna de Honra, e que hoje estão na entrada do Plenário. Por fim, há ainda os traçados iniciais de “Assembleia”, o imenso mural de madeira do Plenarinho que faz uma leitura da política no Paraná.
Os projetos foram produzidos entre 1974 e 1976, período que abrange os meses anteriores à inauguração do Prédio do Plenário e o seu primeiro ano de funcionamento. Responsável por abrigar o Salão Nobre, o Plenário, o Plenarinho e o Auditório Legislativo, o Prédio do Plenário é a segunda edificação erguida na atual sede da Assembleia Legislativa do Paraná. Doze anos antes, em 1963, era inaugurado o Palácio 19 de Dezembro (Prédio Administrativo), enquanto o Edifício Presidente Tancredo Neves, que abriga os gabinetes, entrou em funcionamento somente em 1986.  
Os quadros mostram que o painel “Assembleia” está entre os trabalhos cujo resultado final apresenta mudanças em relação aos estudos iniciais, explica o historiador Ricardo Freire, integrante do Núcleo Curatorial do MON e responsável pela seleção das obras expostas na Alep. Feita com entalhe em madeira, a obra que enaltece o Plenarinho em suas audiências públicas e eventos traz, de um canto ao outro, a passagem de tempo e as transformações desde os modelos de agrupamentos políticos antigos, formados por povos originários, até a constituição da Casa de Leis contemporânea. De forma poética, a passagem do tempo é retratada com pássaros e rostos humanos, que olham ao futuro, ao passado e ao presente. A disposição dos desenhos e alterações na retratação da assembleia contemporânea estão entre as transformações realizadas pelo artista na obra final. 
Conforme Freire, os demais estudos mostram como o artista trabalhou a representação dos diferentes ícones que formam a identidade paranaense: os três planaltos, o ceifador e o sol – todos os três presentes no brasão de armas do Paraná – bem como a gralha azul e o pinhão. Eles resultaram nas obras “Ceifador”, "Sol, pinhão e três planaltos" e "Símbolos do Paraná".
Quanto ao último, os rascunhos mostram que Poty realizou uma série de mudanças no trabalho final, mas prezou por manter no amplo mural de concreto a figura do semeador (ou ceifador). Na perspectiva do curador, outro toque do artista também pode ser visto na representação de um lenhador derrubando uma araucária, momento em que Poty imprime uma crítica sutil na obra e demonstra preocupação ambiental.
 “Eu acho que ele ressaltou bastante a figura do agricultor. Nessa época, década de 1970, o Paraná já tinha outras possibilidades econômicas além da agricultura, que ainda era bastante forte”, interpreta Freire. O período foi marcado pela intensa industrialização no Estado. “Acredito que ele pensou na Assembleia Legislativa como algo importante para não apenas proteger o meio ambiente, mas também para promover o agricultor”.
A interpretação é necessária diante da lacuna dos motivos que levaram Poty a realizar as transformações nas obras. “Não temos documentos ou diários. Não vieram com as obras e os documentos dele”, explica o curador.  Em 2022, o irmão do artista, João Lazzarotto, doou 4,5 mil peças de Poty ao MON. O museu possui outros estudos referentes às obras produzidas pelo artista.
"O Poty teve certa liberdade para influenciar a disposição do ambiente. Ele ajudou, de certa forma, a pensar e a idealizar os espaços da Assembleia", pontua Freire. Ao ser questionado sobre o diferencial que as obras de Poty trazem ao prédio, ele reflete: "para aqueles que estão atentos, são símbolos que de certa forma exercem uma agência, uma atividade seja no emocional, seja no ambiental, no sentido de reforçar o sentimento de identidade do povo paranaense e de pertencimento”. 
Restauração
A mostra ocorre em um momento em que a Alep trabalha na restauração de obras de seu acervo próprio do autor, explicou o presidente da Alep, Alexandre Curi (PSD), na abertura da exposição, realizada no último dia 21. “Para nós, a presença do Poty é muito simbólica e poderosa. O dia de hoje é o dia em que a Assembleia abre as portas de forma definitiva para a cultura e para a história", ressaltou Curi na ocasião.
Ao todo, três obras do autor estão em processo de restauração: os já citados "Sol, pinhão e três Planaltos" e “Assembleia”, e a porta em madeira do Salão Nobre. A última é a única obra do Poty presente na edificação que não tem estudo exposto na mostra. A estrutura conta com os símbolos do Paraná (ceifador, os três planaltos e o sol) representados em metal. 
A restauração tem como objetivo a limpeza geral das obras, remover sujeiras e riscos, reverter a perda de cores das peças e outras avarias.  Os procedimentos começaram em 2024.
Mostra
Além dos estudos, a exposição “Poty retrata o Paraná” traz obras que realizam uma linha cronológica da formação do Paraná, com a presença de indígenas, tropeiros e imigrantes europeus, e suas diferentes atividades ao longo do tempo — como a produção da erva-mate, o cultivo do café, a extração da madeira e o desenvolvimento da indústria. Diferentes técnicas e suportes são utilizados nas obras, como nanquim, litogravura, carvão e concreto.
A mostra é fruto de um termo de cooperação firmado entre a Assembleia Legislativa e a Associação dos Amigos do Museu Oscar Niemeyer (AAMON). O objetivo é promover ações culturais conjuntas e ampliar o acesso da população à arte e à cultura paranaense. Assinaram o documento o deputado Alexandre Curi, Colmar Chinasso Filho, diretor administrativo e financeiro da AAMON, e o diretor Wellington Dalmaz. Luciana Casagrande Pereira e a vereadora de Curitiba Rafaela Lupion (PSD) assinaram o termo como testemunhas.
A parceria entre as instituições prevê a realização de ações culturais, exposições itinerantes e empréstimos de obras pertencentes ao acervo do Museu Oscar Niemeyer (MON), administrado pela AAMON, com o intuito de valorizar a arte e a cultura paranaense em espaços públicos do Legislativo.
“Poty retrata o Paraná”
Local: Salão Nobre da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep)
Período: Até o fim de março de 2026
Horário: De segunda a sexta-feira, das 9h às 18h
Entrada: Gratuita
EXPOSIÇÃO: POTY RETRATA O PARANÁ - 23/10/2025
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