O ofício da arte carrega consigo inúmeros potenciais: a oportunidade de transição de carreira, o auxílio para superar dificuldades pessoais, o domínio de uma ferramenta que pode ser propagada a outros. Prova disso foram as experiências vividas na manhã desta quarta-feira (24) durante uma oficina de crochê realizada nas dependências da Assembleia Legislativa do Paraná. A atividade integra o projeto “A Arte é um Bom Negócio”. A iniciativa é da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Paraná, presidida pelo deputado Nelson Justus (União), em parceria com a Escola do Legislativo e o Sebrae/PR.
O artista Júlio César Ferreira viu no projeto uma oportunidade para reforçar sua luta de quase três décadas contra a drogadição. Ex-morador em situação de rua, condição que abandonou nos últimos três meses quando passou a morar em um hotel social gerido pela prefeitura de Curitiba, ele soube da oficina após ver a programação colada nas paredes do Centro Pop, instituição que oferta diversos serviços para a população que não tem lar. “Acho que esse edital foi feito para mim”, brincou Ferreira.
Ele esteve entre os 20 alunos que aprendiam num espaço reservado nos fundos do Plenário como realizar os pontos básicos do crochê, orientados pela professora Juliane Gonçalves, que os ensinava a confeccionar uma bolsa. Ferreira buscou no aprendizado do ofício ampliar seus conhecimentos artísticos, somando-o a sua experiência na pintura. Algumas de suas telas o acompanharam na oficina.
A dedicação nesta nova fase é tamanha que ele participou de todas as atividades realizadas desde o início do projeto “A Arte é um Bom Negócio” na terça-feira (23). No primeiro dia de atividades, aprendeu a fazer laços e bola de Natal. “Quando cheguei aqui, fiquei de canto. A primeira impressão foi que seria ignorado nesse lugar. Cinco minutos depois, estava [integrado] fazendo as coisas”, conta. Ele agora pretende participar todas as atividades que serão fornecidas pelo projeto. A agenda segue até esta sexta – veja no fim da reportagem.
"Me mantendo ocupado fazendo arte, eu deixo de fazer ‘arte’, entende? Faço uma arte boa para deixar de fazer a arte ‘ruim’”, afirmou o artista. “É importante para mim, estar aqui está sendo voltar a ter uma vida normal, é voltar a ser uma pessoa com dignidade. Para mim é isso: está sendo dignidade", ressaltou.
Difusão de conhecimentos
A educadora social Olívia de Carvalho Vivi também estava entre as alunas que manuseava as agulhas de crochê pela primeira vez. Servidora municipal de Curitiba há 14 anos pela Fundação de Ação Social (FAS), ela pretende aprender o ofício para ensiná-lo a pessoas atendidas nas unidades do Centro POP da Capital. "O objetivo é trabalhar a mente deles. De repente, com os aprendizados, eles podem ter uma oportunidade para torná-lo um trabalho depois", conta a educadora. "O principal objetivo é ajudá-los a sair daquele ambiente [de vulnerabilidade], de pensamentos às vezes não muito positivos”, refletiu. A entidade atende muitas pessoas em situação de drogadição.
Conforme Vivi, as aulas que pretende lecionar supririam um “vácuo” na oferta de oficinas pela Fundação à população atendida. Há algum tempo as unidades disponibilizavam, com o auxílio de professores voluntários, aulas de miçangas, crochê, entre outras técnicas. No entanto, essa oferta cessou.
Também a artesã Juliane Gonçalves, que ensinava o ofício aos inscritos, encontrou no aprendizado do crochê uma forma de se recolocar no mundo, após trabalhar em funções que a frustraram. "Em algum momento vi um refúgio na arte, em fazer o crochê eu nem imaginava que aquilo se tornaria a minha profissão. Que eu realmente seria uma artesã e viveria daquilo", conta a professora. Ela se tornou artesã há seis meses.
Para ela, a iniciativa da Assembleia Legislativa com o Sebrae representa uma oportunidade única. “É um suporte que eu não tive lá atrás, eu busquei sozinha”, relembra a artesã, que aprendeu a técnica do crochê há seis meses. “As pessoas não têm noção de que elas podem viver disso. E ninguém busca elas em casa e fala: ‘vamos aprender a fazer alguma coisa e viver disso’".
Semana da Arte
Na quinta (25) e sexta-feira (26), a Comissão de Cultura da Casa promove um ciclo de palestras de capacitação para artisitas. Na quinta, no Plenarinho, serão realizadas as seguintes palestras: Como a Arte Transformou Minha Vida (das 9h às 10h), Finanças Pessoais e Precificação (das 10h às 11h), Comunicação Digital e Marketing (das 11h às 12h), Captação de Editais (das 14h às 15h) e Comportamento Empreendedor (das 15h às 16h).
Já na sexta, também no Plenarinho, serão realizadas as atividades Acesso ao Microcrédito (das 9h às 10h), Formalização sem Mistério: MEI para Profissionais da Cultura (das 10h às 11h), Consultoria Contábil – Sebrae (das 10h às 12h) e Emissão da Carteira Nacional do Artesão (das 14h às 16h).
OFICINAS DO PROJETO “A ARTE É UM BOM NEGÓCIO“
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