A Assembleia Legislativa do Paraná promoveu nesta segunda-feira (3), no Plenarinho da Casa, o seminário “Inteligência Artificial e Políticas Públicas de Cultura”, realizado pela Comissão de Cultura, presidida pelo deputado Nelson Justus (União). O encontro reuniu gestores, pesquisadores e representantes de diferentes segmentos culturais para discutir como as novas tecnologias podem transformar a gestão pública da cultura e seus modelos de financiamento.
O coordenador da Comissão de Cultura, Guilherme Cherobim, destacou que o objetivo do seminário foi incentivar a participação dos agentes culturais nesse debate contemporâneo. “A inteligência artificial é uma ferramenta que está posta, e precisamos aprender a utilizá-la de forma ética e positiva. Ela vem para somar à atividade dos gestores culturais, nunca para substituir a criatividade humana”, afirmou.
Abrindo as discussões, o presidente do Fórum de Gestores de Cultura do Paraná, Fernando Cordeiro, ressaltou que a inteligência artificial pode ser uma aliada essencial na gestão pública municipal, especialmente em cidades pequenas. “Mais de 60% dos municípios paranaenses têm menos de 20 mil habitantes e equipes reduzidas. A IA pode apoiar esses gestores, oferecendo soluções práticas e otimizando processos. Mas é preciso discutir o uso ético dessas ferramentas, pois certas avaliações culturais devem continuar sendo exclusivamente humanas, como a análise de obras de arte e projetos”, pontuou.
Na palestra “IA e Democracia Cultural”, o conselheiro estadual de Cultura Leonardo Barroso abordou a necessidade de o poder público lidar com a inteligência artificial de forma responsável e regulada. “Toda tecnologia que transforma a forma como o ser humano atua merece a atenção do Estado. É essencial que a IA seja usada para ampliar o acesso, facilitar inscrições em editais e avaliar se as políticas públicas estão sendo realmente inclusivas”, afirmou.
No período da tarde, o seminário seguiu com quatro painéis temáticos: “Transformações no Trabalho e na Economia da Cultura”, com Thayse Cancela Christo de Souza; “Ética, Direitos Autorais e Propriedade Intelectual”, com Renata Caroline Kroska; “Cultura Digital, Memória e Patrimônio”, com Fernanda Luiza Schweig Baú; e “Experiências e Boas Práticas”, conduzido por Alberto Schramm Portugal.
Em sua fala, a conselheira municipal de Cultura de Curitiba Thayse Cancela Christo de Souza refletiu sobre o impacto da inteligência artificial na criação artística, a partir da provocação: “A IA não substitui o criador. Ela desloca o lugar da criação – e o desafio das políticas públicas é garantir que o humano continue no centro desse processo”.
A procuradora do município de Pato Bragado, Renata Caroline Kroska, abordou as implicações éticas e jurídicas dos avanços tecnológicos. “A ética é muito mais importante do que a legalidade”, destacou, ao defender que os princípios éticos devem ser o “padrão seguro” para lidar com as novas tecnologias. Ela também citou casos de conflitos entre criadores e empresas de IA: “Houve uma condenação de 1,5 bilhão de libras pela violação de direitos autorais com ferramentas de inteligência artificial”.
JA gestora de Cultura de Nova Santa Rosa, Fernanda Baú, apresentou exemplos práticos de como a IA pode impulsionar a cultura digital em pequenos municípios. Ela destacou o potencial das ferramentas gratuitas: “Hoje, se eu tenho uma foto cuja qualidade já não está tão boa, consigo usar IAs que restauram essa imagem sem custo e sem alterar o original”. Fernanda também mencionou iniciativas de acessibilidade, como a criação de peças em 3D para exibição em totens: “A pessoa pode usar o recurso de áudio para entender sobre a peça, o que amplia o acesso e a inclusão”.
Encerrando o seminário, o secretário municipal de Cultura de Ponta Grossa e coordenador da AMCG Cultura, Alberto Portugal, apresentou boas práticas no uso responsável da inteligência artificial na gestão cultural. Entre elas, destacou a metodologia pipeline, “uma métrica de compilação de dados para que a cultura possa chegar a mais lugares, atendendo mais pessoas e de forma cada vez mais democrática”.
Para ele, o debate realizado na Assembleia é fundamental. “A cultura é ferramenta de transformação da cidade, transformação da vida das pessoas, e é muito importante que a gente tenha esse momento para falar de ferramentas novas sendo usadas conscientemente e responsavelmente na gestão pública”, afirmou.
"SEMINÁRIO INTERMUNICIPAL DE CULTURA"
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