Um antigo sonho do deputado estadual Nereu Moura (PMDB) está sendo materializado pelo governo Requião. Catanduvas vai ganhar no ano que vem o Memorial da Revolução de 1924, ao mesmo tempo em que dois cemitérios nos quais estão enterrados os soldados legalistas serão revitalizados.A construção do Memorial foi um dos temas de ontem (07) da Escola de Governo, em Curitiba, que esteve sob a responsabilidade da secretária da Cultura, Vera Mussi. A convite do governador em exercício Orlando Pessuti, Nereu Moura falou sobre a importância deste projeto que vai inserir Catanduvas no roteiro histórico e turístico paranaense.Muitas das armas e munições que farão parte do Memorial foram reunidas por Nereu Moura no período de sua infância e juventude em Catanduvas, “com o objetivo de que um dia estas peças fossem colocadas num museu para que todos pudessem conhecer a história do nosso município”. Ele explicou que muitos agricultores ao ararem suas terras, desenterravam objetos usados pelos revoltosos e os legalistas durante os conflitos armados.Todas estas peças que o deputado e um grupo de amigos reuniram foram deixadas, na época, na casa paroquial de Catanduvas e, posteriormente, com o professor Alberto Rodrigues Pompeu, diretor geral do Hospital Universitário do Oeste do Paraná, em Cascavel. Este material estará exposto no Memorial como forma de resgatar “um acontecimento histórico rico que ocorreu na nossa região”, destacou o deputado. Nereu Moura agradeceu ao governador Requião que ficou sensibilizado com o potencial histórico do local, quando no ano passado participou de uma cavalgada no município percorrendo trechos da revolução, “o que foi o ponto de partida para esta grandiosa obra”. O agradecimento foi extensivo também ao governador em exercício Orlando Pessuti.Pessuti destacou que nas suas andanças por Catanduvas, “onde tive o prazer de conhecer os seus pais Nereu, você já me contava esta história”. O governador em exercício falou também sobre a importância de que os casos que marcaram a história do Paraná sejam mostrados à sociedade.Presente na Escola de Governo, o prefeito Aldoir Bernart aproveitou a oportunidade para agradecer o governo do Estado, “nas pessoas do Requião, do Pessuti e do Nereu” por esta obra significativa que o município vai receber. “A partir do ano que vem, poderemos mostrar aos nossos filhos e aos nossos netos a história que aconteceu em Catanduvas”, comentou ele.CemitérioDentro do projeto do governo do Estado está a revitalização dos cemitérios das localidades de Roncador e Tormentinha, distantes cinco quilômetros da sede do município. Neles, serão construídos um portal e lugares temáticos que vão contar a história da época. Segundo estimativas, existem no cemitério de Roncador sete soldados da força pública, hoje Polícia Militar do Paraná e vários soldados do Exército Brasileiro. Em relação ao cemitério de Tormentinha, os historiadores não conseguiram precisar o número de legalistas enterrados no local. Quando aos mortos do lado revolucionário, não existe um cemitério oficial e, conforme relatos de autores da época e depoimento dos próprios combatentes, eles eram enterrados ao lado das trincheiras e de forma improvisada, em função da batalha. Acredita-se que o número de mortos em toda a contenda revolucionária chegue a mil pessoas. HistóriaO historiador e jornalista Adelar Paganini foi um dos palestrantes de ontem, tratando especificamente dos seis meses da Revolução de 1924 em Catanduvas. Na ocasião, ele lembrou que os cerca 600 revolucionários aguardavam a chegada da coluna Prestes que vinha do Rio Grande do Sul. O governo do presidente Arthur Bernardes designou Rondon para chefiar as tropas legalistas, a partir de Guarapuava, e combater os revolucionários. Ele chegou em Catanduvas comandando 17 generais e quatro mil soldados do Exército e policiais das forças públicas dos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo.Rondon atacou o reduto principal dos revolucionários, o telégrafo de Catanduvas, de importância estratégica por ser o único meio de comunicação possível na época. Lutando desesperadamente, com poucas armas, quase sem comida, muitos descalços, doentes e seminus, 407 deles se entregaram no dia 31 de março de 1925 às forças legalistas, dando fim aquela que ficou conhecida “como a revolução esquecida”.A maioria dos chefes revolucionários que escaparam do cerco feito por Rondon à Catanduvas, reuniu-se em Foz do Iguaçu com Luiz Carlos Prestes que havia chegado do Sul no dia 12 de abril e resolveram dar continuidade à luta armada para derrubar o presidente Artur Bernardes com a criação da coluna Miguel Costa/Prestes. A partir daí, foi formada a maior epopéia do mundo, percorrendo 25 mil quilômetros pelo Brasil, sem nunca ter sido vencida. E após dois anos e meio de lutas, a coluna internou-se na Bolívia em 1927. Segundo Adelar Paganini, a Revolução de 1924 em Catanduvas redescobriu o Oeste do Paraná e nacionalizou a região que vinha sendo explorada por empresas estrangeiras, principalmente anglo-argentinas, que comercializavam a erva mate e a madeira em países europeus. De acordo com Paganini, o objetivo dos revolucionários foi alcançado com a Revolução de 1930 que deu fim à chamada República Velha e início à República Nova da era Vargas.