Com vários mandatos seguidos na Alep, João Mansur iniciou a carreira como vereador e prefeito de Irati O líder político chegou à Presidência da Assembleia e ocupou interinamente o Governo do Estado, com a morte de Parigot de Souza, em 1973.

23/10/2018 10h47 | por Vanderlei Rebelo
Ex-deputado estadual Cezar Silvestri.

Ex-deputado estadual Cezar Silvestri.Créditos: Pedro de Oliveira/ALEP

Ex-deputado estadual Cezar Silvestri.

Já houve um tempo em que políticos se orgulhavam de selar seus acordos com um mero aperto de mão. Palavra dada, vida empenhada, dizia o provérbio português que baseava entendimentos feitos no “fio do bigode”. A confiança na palavra empenhada se mantém como princípio universal da vida pública, segundo a análise de sociólogos e especialistas, constituindo elemento central da imagem do homem público. Mas ela se desdobra agora num contexto mais amplo, que inclui a formulação de programas de governo e cartas de intenções descrevendo compromissos a serem cumpridos.  

João Mansur (1923-2012) foi um dos últimos remanescentes desta cepa de políticos dos acordos no fio do bigode, que vicejou nos tempos de um Brasil rural e conservador. Franco e de modos quase rudes, Mansur evitava rodeios, era econômico nos elogios e gostava de ir direto ao ponto na conversa, embora pontuasse suas escolhas pelo pragmatismo. Desde os 13 anos, o revólver no coldre, um canivete e o cigarro de palha eram seus companheiros inseparáveis.

Filho de um bem-sucedido madeireiro de Irati, município que na época tinha maior relevância econômica no estado, o jovem Mansur trabalhou como motorista de caminhão na empresa da família e seguia os passos do pai, mas em 1951 entrou na política, elegendo-se vereador pelo PSD. Quatro anos depois, foi eleito prefeito de Irati como candidato único. Neste mesmo ano, 1955, apoiou as candidaturas vitoriosas de Moysés Lupion governador e de Juscelino Kubistchek presidente.

João Mansur se elegeu deputado estadual pela primeira vez em 1958, numa eleição acirrada em que teve de disputar os votos da sua região com o candidato integralista Antônio Lopes Júnior, também de Irati.  Nas décadas seguintes ele exerceu seguidos mandatos na Assembleia Legislativa do Paraná, da qual foi presidente em três momentos diferentes: 1967, 1973-74 e 1981-82.

Em 1961, Mansur trocou o PSD pelo PDC do governador Ney Braga. Isso foi providencial para a sua reeleição, pois nas eleições do ano seguinte o PSD viu encolher sua bancada na Assembleia, ao passo que o PDC, que tinha três parlamentares, elegeu 13.

Mansur filiou-se à Arena em 1965, na reforma partidária imposta pelo regime militar, reelegeu-se no ano seguinte e em 1967 foi eleito presidente da Assembleia pela primeira vez, impondo-se ao nome apoiado pelo então governador Paulo Pimentel.

Retornou à Presidência da Casa no início de 1973 e no dia 4 de julho assumiu o governo com a morte do governador Pedro Viriato Parigot de Souza, que adoecera meses antes.  Permaneceu no Palácio Iguaçu por cinco semanas e em 11 de agosto transmitiu o governo a Emílio Gomes, eleito governador pela Assembleia Legislativa (Parigot de Souza era o vice de Haroldo Leon Peres, que renunciara ao cargo em dezembro de 1971 por pressão do regime militar).

Passou o cargo de governador ao mesmo Emilio Gomes que, em 1955, chegara a ser cogitado para disputar a prefeitura de Irati, mas preferiu apoiar Mansur. Agora os dois estavam ainda mais próximos: Gomes ficava na casa de Mansur, em Guaratuba, quando passava os finais de semana no litoral do estado com a família.

No início de 1974 ele fez parte do Colégio Eleitoral que elegeu o general Ernesto Geisel sucessor do presidente Emilio Médici e, aos 51 anos, acreditou que chegara a hora de voos mais altos: seu nome foi incluído na lista de pré-candidatos a governador – João Mattos Leão, Ivo Arzua Pereira e Affonso Camargo eram os demais.

Mas o ministro da Educação, Ney Braga, que voltara ao comando da política paranaense depois de oito anos de quase ostracismo, determinou que o novo governador seria o empresário Jayme Canet Júnior, logo ungido pelo regime, depois de um teatrinho encenado pelo presidente da Arena, o senador Petrônio Portella, que veio a Curitiba consultar os arenistas e dar ao processo de escolha um verniz de democracia interna.

Mansur manifestou seu desagrado num discurso em Irati, na inauguração da Faculdade de Ciências e Letras, em que anunciou seu retiro da vida pública. Na mesma cerimônia, o governador Emílio Gomes fez um apelo, quase em tom de súplica, para que Mansur reconsiderasse sua decisão. Ao final das contas, Mansur foi convidado a disputar o Senado – o que, naquele momento, era um belo prêmio de consolação, pois significava quase uma nomeação. Na eleição de 1970 a Arena paranaense elegera os dois senadores, Mattos Leão e Accioly Filho. Não havia razões para imaginar que em 1974 fosse diferente. Especialmente porque o principal nome da oposição, José Richa, se elegera prefeito de Londrina pelo MDB e agora o partido não dispunha de liderança com peso suficiente para enfrentar a hegemônica Arena.

A vitória de João Mansur tornou-se ainda mais factível quando o deputado José Alencar Furtado, nome de prestígio no MDB, optou por concorrer a um mandato na Câmara dos Deputados e o partido teve de se resignar com a candidatura de Leite Chaves, um obscuro advogado de Londrina.

Mansur cumpriu os compromissos de campanha confiante na vitória, sem supor que as eleições de 1974 marcariam uma acachapante derrota do regime. Abertas as urnas, o loquaz Leite Chaves foi eleito senador com quase 1,1 milhão de votos, contra 700 mil dados a Mansur. A oposição, que elegera apenas quatro deputados federais em 1970, pulou para 15. O choque foi tamanho que o presidente Ernesto Geisel apelou a novos casuísmos – a Lei Falcão e o Pacote de Abril, de 1977 – para garantir uma sobrevida à ditadura.

João Mansur voltou a se eleger deputado em 1978 para exercer seu quinto e último mandato na Assembleia Legislativa. Depois disso ele se recolheu à vida privada, mas anos mais tarde um incidente dramático o trouxe de volta às páginas de jornais.

Um grupo armado invadiu o prédio em que o ex-deputado morava, em Curitiba, e dois dos assaltantes entraram no apartamento dele, surpreendendo-o quando tomava chimarrão na cama. Mansur reagiu, houve troca de tiros e os dois invasores acabaram baleados e mortos por ele. Dias depois, Mansur escreveu um artigo defendendo o porte de armas, mas desaconselhando que as pessoas reagissem daquela forma numa situação semelhante.

Anos mais tarde, numa entrevista, lembrou que desde adolescente andava com a arma. “Só sai da cinta pra baixo do travesseiro”, afirmou. “Ele dizia que, se tirasse o revólver da cintura, perdia o equilíbrio”, contou Emilio Gomes no dia do enterro de Mansur, em 2012.

João Mansur morreu de problemas pulmonares aos 88 anos, deixando a viúva e um casal de filhos. Com ele, também dava seu último suspiro a política dos acordos do fio do bigode.

 

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