Walter Pecoits foi o primeiro deputado estadual vítima da ditadura no Paraná, em 1964 O ex-prefeito de Francisco Beltrão só voltaria à vida pública 20 anos depois, como secretário-chefe da Casa Civil no governo de José Richa.

01/10/2018 11h00 | por Vanderlei Rebelo
Ex-deputado Walter Pecoits.

Ex-deputado Walter Pecoits.Créditos: Flávio Ogassawara / Arte: Lucas Lambertucci

Ex-deputado Walter Pecoits.

Cassado em 14 de abril de 1964 pelo regime implantado em 31 de março, o médico e deputado estadual Walter Pecoits foi um dos primeiros paranaenses vítimas da truculência da ditadura. Gaúcho de Santa Maria, Pecoits havia se radicado em Francisco Beltrão, Sudoeste do Paraná, em 1952, e não demorou a se tornar um médico popular na região. Sensível às desigualdades sociais, começou a militar na política, filiado ao PTB. Foi eleito prefeito de Francisco Beltrão em 1960 e, dois anos depois, virou deputado estadual.

Por suas posições consideradas progressistas, teve o mandato cassado já na primeira onda repressiva patrocinada pelo regime. No dia 17 de abril de 1964, em seu discurso de despedida no Plenário da Assembleia Legislativa do Paraná, Pecoits reiterou sua profissão de fé na democracia e rechaçou as acusações de ligação com o comunismo, que baseavam a cassação de deputados apontados como “esquerdistas e subversivos”. Recebeu a solidariedade de todos os líderes partidários, inclusive de deputados vinculados ao novo governo.

Sem noção clara dos rumos que o regime tomava, o Plenário da Assembleia aprovou uma moção remetida ao Comando Supremo da Revolução pedindo a revogação do ato de cassação de Pecoits. A resposta não tardou e veio na forma de cassação de outros três deputados – os petebistas Waldemar Daros, Luiz Alberto Dalcanalle e Leon Naves Barcelos.

No início de julho, Pecoits saiu em viagem pelos países do Cone Sul com a mulher, dona Manoela, e uma afilhada do casal. Longas férias de um mês para espairecer e refletir sobre o futuro – o passeio incluiu uma parada em Montevidéu, no Uruguai, para visitar seu amigo, o senador cassado Amauri de Oliveira e Silva, correligionário no PTB.

Em 10 de agosto, uma segunda-feira de manhã, apenas dois dias depois de voltar de viagem, Walter Pecoits estava em Cascavel, a caminho de Pato Branco, quando foi surpreendido pela voz de prisão dada por um delegado de polícia. Ao chegar à delegacia, o policial o acusou de incitar uma rebelião de posseiros na localidade de Três Barras, em Catanduvas (no Sudoeste). Um episódio sangrento em que, na semana anterior, dois funcionários do DGTC (Departamento de Geografia, Terras e Colonização, já extinto) e um lavrador haviam sido mortos por pistoleiros. Como Pecoits havia participado ativamente do levante de posseiros no Sudoeste, em 1957, a polícia suspeitou, apressadamente, que ele estava por trás do incidente de Catanduvas.

Pecoits foi submetido a um violento interrogatório, espancado por quatro policiais até a manhã do dia seguinte, sem direito a chamar um advogado. Em sua defesa, ele afirmou que no período em que se registraram os conflitos de Catanduvas estava com sua família de férias no exterior.

Como se recusasse a “confessar” sua “culpa”, apanhou muito. Durante o interrogatório, um dos policiais enfiou-lhe na vista o cano do revólver. Começou a sangrar bastante, foi levado para o Hospital da Cruz Vermelha, em Curitiba, e submetido a uma cirurgia, mas ficou cego do olho esquerdo, vazado na agressão.

A Assembleia Legislativa instaurou uma CPI para investigar o caso e o relatório com as conclusões foi enviado à Justiça e à Secretaria de Estado da Segurança, apontando os nomes de três responsáveis pelas agressões – um coronel (que respondia como delegado de polícia), um sargento e um escrivão de polícia. 

Ainda assim, Pecoits foi processado, acusado de comandar o bando armado que se rebelara em Três Barras, e mantido sob prisão preventiva. Só em setembro ele obteve habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça, garantindo que ficasse em liberdade.

Walter Pecoits foi à Justiça por uma justa reparação e em 1978 o Supremo Tribunal Federal decidiu que o Estado deveria lhe pagar uma indenização e uma pensão vitalícia. Mas o governo estadual só acatou a decisão depois que o Supremo ameaçou decretar intervenção federal no Estado.

Pecoits voltou à vida pública 20 anos depois de sua cassação como secretário-chefe da Casa Civil no governo de José Richa. O regime militar dava seus estertores e o País se reencontrava com a democracia.

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