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íntegra do Discurso do Governador Roberto Requião No Encontro do Pmdb Em Maringá

É um prazer que estou em Maringá com vocês nesta nova fase do PMDB. O nosso PMDB tem história. Eu quero nessa minha curta intervenção render a minha homenagem aos antigos dirigentes que mantiveram o partido vivo durante todos esses anos. E faço essa homenagem saudando todos os antigos militantes na pessoa do meu velho companheiro Umberto Crispim. A fase nova é a fase do Gilberto Cezar Pavanelli e o partido tem que se mobilizar. Um partido é como uma bicicleta tem que estar sempre pedalando. Quem não pedalar uma bicicleta, sem sombra de dúvida, perde o equilíbrio. A contribuição dos dirigentes anteriores foi maravilhosa e eu espero que a nova contribuição seja também extremamente consistente na abertura do velho MDB de guerra para o conjunto da sociedade maringaense. O Carlos Lessa é um amigo velho. Eu quando era menino chamava o Lessa de tio no partido. O Lessa com o doutor Ulisses Guimarães participavam da elaboração do estatuto e do programa do PMDB. Naquela época, montamos o programa que definiu o PMDB como partido das classes populares, o partido desligado das decisões do grande capital, o partido das maiorias marginalizadas como são as mulheres, dos funcionários públicos, das minorias segregadas pela sociedade. Não era uma definição marxista, era uma definição que avançava em cima da contradição localizada pelas comunidades eclesiais de base da Igreja Católica no Brasil.E esse partido, das classes populares, jamais, no entanto, ao longo de sua história se transformou realmente num partido. Porque o PMDB surge realmente como frente, uma frente que se opunha à ditadura e é isto que caracteriza uma frente. Frente é um agrupamento de várias tendências ideológicas com um inimigo comum. E o inimigo comum do PMDB era a ditadura que se opunha à democratização do país. Redemocratizado o país, o PMDB não conseguiu se construir pela base na configuração de um verdadeiro partido político. Esse sim que caracteriza por ter propostas para todas as instâncias da administração pública. Não é um partido que se contrapõe a algo, mas é um partido que se propõe a mudar a estrutura de um município, dos estados federativos e da união. É essa tentativa que estamos retomando agora: a construção do PMDB como um verdadeiro partido. E eu diria que a grande discussão que fazemos é a discussão entre mercado e nação. A discussão que mundo faz hoje. O que somos num país como o Brasil? Num país maravilhoso, de gente inteligente, que consegue construir e produzir como todos os grandes países do mundo. Somos o quintal das grandes potências? Somos um mercado? Ou somos uma nação?O que separa o conceito de nação do conceito de mercado? O mercado é instantâneo, o mercado não tem história, o mercado não é conclusão de um processo cultural civilizatório, o mercado se realiza de forma imediata, com a velocidade da internet nas bolsas de valores. E o seu único objetivo é o lucro, é o capital financeiro se sobrepondo ao capital produtivo, é o capital financeiro se sobrepondo ao conceito nacional.Já a nação é algo muito diferente. A nação tem território e o território nacional foi conquistado ao longo da história com o sangue derramado de um povo num processo cultural e civilizatório que nos leva onde estamos hoje. A nação tem história e tem tempo, tem o tempo da história construída e o tempo da história futura. E tem uma responsabilidade fundamental com as pessoas. O mercado não. Para o mercado somos todos consumidores e além da característica de consumidores, não servimos rigorosamente para nada. Eu tenho feito uma comparação muito interessante entre a visão de mercado e a visão nacional, a visão fraterna, a visão solidária. Expondo duas propostas de previdência. A proposta do mercado é a previdência que se estrutura em cima de cálculo aturial, quem pagou tem previdência, quem não pagou não tem rigorosamente nada.Do ponto de vista nacional, a previdência é um pacto do estado com o seu povo e ela considera os deficientes, as minorias, da mesma forma que os contribuintes. A previdência pública do ponto de vista da solidariedade é o pacto, no nosso caso, entre o estado brasileiro e o conjunto da sua população. Ela considera os mais velhos, ela considera os portadores de deficiências, ela considera as pessoas portadoras das necessidades especiais da mesma forma que os contribuintes. E essa diferença básica entre a visão fraterna, a visão nacional, da política feita com amor e solidariedade, que se contrapõe à visão crua e materialista do mercado. O mercado que não tem compromisso, o mercado que não tem responsabilidade e que se dirige apenas para o controle dos países pelo grande capital financeiro.Eu acho que, detalhadamente, vai ser a essência da palestra do Carlos Lessa, velho amigo, velho companheiro. No meu primeiro governo, o primeiro convite que eu fiz foi para o Carlos Lessa sair do Rio de Janeiro e vir ser secretário de Planejamento do Paraná. Não deu certo. Ele tinha uma mãe velhinha e doente que não podia sair do Rio de Janeiro. Foi bom para ele, para mim, não, para o Paraná também não. Ele acabou como reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, deixou a reitoria no meio caminho para atender um pedido do Lula e assumir, inicialmente o Ministério do Planejamento. E o Lessa não aceitou, não aceitou porque ele tinha uma posição muito clara a respeito do Brasil e desde os primeiros momentos já não concordava com a visão do ministro da Fazenda, Antônio Palocci. E o Lessa disse a mim naquela ocasião: eu não vou renegar tudo o que eu escrevi e falei, não posso ir para o Ministério do Planejamento com o Palocci na Fazenda. Então, surgiu uma sugestão da Maria de Conceição Tavares e o Lessa foi convidado para o BNDES. Renunciou a reitoria e assumiu o banco para promover o desenvolvimento do Brasil. Mas não era bem isso que as autoridades econômicas do país queriam. Estavam neste caminho da supremacia dos bancos, do capital financeiro, cujos os detalhes vocês conheceram ao longo da palestra do Lessa.E o Lessa acabou saindo do BNDES para cumprir essa tarefa formidável. Transformar a velha frente peemedebista num partido de verdade com consistência ideológica e assumindo um papel fundamental na construção nacional. Minha gente, eu podia falar com vocês dos programas de governo, do panela cheia, do bom emprego, da isenção da microempresa, do fundo de aval para os agricultores, do imposto zero para os pequenos empresários, mas eu acho que temas peemedebista no varejo regional, vocês já conhecem de sobra. E o que nos precisamos aprofundar hoje é essa visão que será exposta pelo Lessa, refletida por vocês e que se destina a construir na média de opinião dos nossos quadros, o novo PMDB. O verdadeiro partido da mudança, uma vez que a mudança que esperávamos, e da qual participamos na última eleição presidencial, lamentavelmente não ocorreu. Pelo contrário, se acentuou a política do mercado, o favorecimento do capital financeiro, a política dos grandes bancos. Eu diria, para ser honesto, de certa forma se freou a privatização de empresas brasileiras, das poucas que ainda nos restaram.Mas o fundamental é o seguinte: esse PMDB que estamos construindo não é um partido maniqueísta, muito mais do que a crítica da política do Lula e do PT. Nós queremos construir as bases de uma política concreta e consciente de mudança. Porque afinal de contas, como nos ensina o velho italiano Antonio Gramsci: não existe o canalha absoluto. Ninguém se acredita um canalha, o comportamento é sempre o comportamento da circunstância e se nós olharmos com atenção, nós enxergaremos sempre, em qualquer pessoa ou em qualquer administração, algumas qualidades. Como eu enxergo, por exemplo, na política externa do governo federal hoje, da mesma forma que vejo como tragédia absoluta a política interna, que destrói a infra-estrutura nacional, de estradas, de portos, de silos, e compromete a possibilidade de desenvolvimento do país no médio e longo prazo.O que eu quis dizer: é que nós estamos aqui para construir um programa e não para radicalizar como nós estivéssemos num palanque exaltado de véspera de eleição com críticas sem reflexão e sem aprofundamento. Nós viemos reconstruir o velho MDB de guerra.Zé Beto MacielLiderança do Governozbm@fnn.net - 41-33504191
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