20/07/2005 15h04 | por Thea Tavares
SUDOESTE DO PARANÁ LANÇA O SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIARDepois de ajudar a construir um modelo avançado de sindicalismo rural, que caminha para uma atuação cada vez mais regionalizada (Fetraf-Sul/CUT), da criação de um sistema de cooperativismo de crédito próprio (Cresol), das experiências de sustentabilidade das cooperativas de leite da agricultura familiar (Sisclaf) e da atuação na rede de certificação dos produtos agroecológicos (Rede Ecovida), o Sudoeste do Paraná, berço da agricultura familiar organizada no Estado, inova com a proposta de criação de um sistema integrado de comercialização dos produtos da agricultura familiar e de apoio às agroindústrias familiares de pequeno porte. São alimentos, insumos agroecológicos, artesanatos coloniais e indígenas comercializados, inicialmente, por sete cooperativas singulares (Coopafi’s) integradas, com área de abrangência, hoje, em 17 municípios. Essa atuação integrada se dá na organização da produção e na venda direta aos consumidores (feiras livres), mas também em espaços fixos próprios e na parceria institucional com os governos, como é o caso do programa de compra direta de alimentos da agricultura familiar pelo governo federal, através da Conab — Companhia Nacional de Abastecimento — para atender aos objetivos do Programa Fome Zero, de formação de estoques e doação simutânea local. Uma vez integradas, essa cooperativas de comercialização também somam esforços na formação profissional, no acompanhamento técnico e de extensão rural para as agroindústrias familiares e na organização dos consumidores. “Há toda uma preocupação também com a capacitação e a circulação de informações de forma permanente entre as cooperativas que integram o sistema, desde o acompanhamento das dinâmicas do mercado até a construção de uma rede mesmo de apoio prático às agroindústrias familiares de pequeno porte, o que passa por dar suporte para que elas estejam bem esclarecidas quanto à documentação, legislação, tributação e por organizar o funcionamento e o gerenciamento dessas unidades”, explica o agricultor de Capanema, Ivo Antônio Vial, que é um dos idealizadores do projeto.Artesanato Indígena – Uma iniciativa vem ganhando destaque nessa integração e derrubando um antigo tabu na relação entre os povos indígenas e os agricultores familiares, grande parte descendente dos colonizadores europeus no Sul do Brasil. “Índios” e “colonos” (como são chamados até hoje) dão trégua aos conflitos históricos e firmam parceria para a comercialização de seus produtos. Quem visitar os espaços de comercialização da Coopafi Coronel Vivida ou da Coopafi Capanema, por exemplo, encontrará lá os artesanatos produzidos na reserva indígena de Mangueirinha, além de sementes crioulas de milho cultivadas há gerações pelas famílias kaigang e guarani da aldeia, o feijão, o pinhão e já estão sendo feitas experiências de comercialização da jabuticaba, também cultivada pelos povos indígenas da região e de seus derivados, como sucos concentrados, vinhos e vinagres.A Coopafi Capanema, na região fronteiriça do Sudoeste paranaense, abriu, há pouco mais de seis meses, um ponto de venda direta ao consumidor de produtos orgânicos, onde vende frutas, verduras, embutidos, queijos, doces, panificados, derivados de cana-de-açúcar, farinhas de trigo e milho, sucos, vinhos e licores artesanais, além do artesanato indígena e colonial. Na base da troca com as cooperativas da região, ela consegue colocar seus alimentos nos demais municípios da área de abrangência do Sistema Coopafi. Para a agricultora Rosalene Willms o movimento da cooperativa local tem girado, até o momento, em torno de 6 mil a 7 mil reais e essa iniciativa vem conseguindo unir e expor nos comércios municipal e regional a produção das 52 famílias cooperadas de Capanema. “Nunca nos queixamos do trabalho e é justamente isso que a Coopafi está trazendo para a agricultura familiar daqui: está dando muito trabalho! Porque cada vez mais nossos produtos estão sendo conhecidos, valorizados, e isso aumento a procura por nossos produtos essa demanda toda resulta em mais produção”, comenta Rosalene.Referência Nacional – As experiências de comercialização do Sudoeste do Paraná foram apresentadas com destaque em seminário nacional, promovido pela Conab, no início do mês de julho em Brasília, DF. O diretor da Crapa — Coordenação Regional das Associações de Pequenos Agricultores —, José Carlos Farias, outro idealizador do sistema de comercialização da agricultura familiar integrada, apresentou para o governo federal as experiências da entidade no programa de compra direta da agricultura familiar do Governo Lula, desde 2003. A Crapa, de Marmeleiro, e a Cercoopa, de Guarapuava, foram as duas primeiras organizações paranaenses a participarem do programa governamental. Até hoje elas trabalham em boa sintonia, levando o açúcar mascavo da agricultura familiar do Sudoeste para o consumo da população da região Centro do Estado e colocando o mel produzido na região central nas mesas dos consumidores sudoestinos. No primeiro ano, foram vendidos à Conab, 70 toneladas de açúcar e 8 toneladas de mel, no valor de 180 mil reais. Os alimentos foram doados para as APMI’s e às regionais da APAE — Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais — no Sudoeste do Paraná, ligadas às coordenações de Pato Branco e Francisco Beltrão, e também para as APAE’s da região Centro.No segundo ano (2004), a Conab comprou diretamente da Crapa e da Cercoopa mais 44 toneladas de açúcar, 3,5 toneladas de mel e 6 mil unidades de pepino em conserva, além de 1.500 unidades de rapadura e 5 mil de doces, no valor de 157 mil reais. Esses alimentos, por sua vez, foram repassados para a Pastoral da Criança em 53 paróquias da Diocese de Palmas, PR, beneficiando 25 mil crianças. Para 2005, as duas entidades já apresentaram à Conab proposta orçada em 221 mil reais para a comercialização direta com o governo federal de doces, pepino em conserva, rapaduras e mel. A doação simultânea, ou seja, a distribuição desses alimentos para entidades assistenciais da região produtora, está sendo discutida pelas entidades e representações municipais que compõe o projeto regional. A partir da doação simultânea, as cooperativas da agricultura familiar somarão, em 2005, projetos para venda direta à Conab de produtos diversificados no valor de 523 mil reais e com atuação nos 10 municípios. “Nossa proposta é a de organizar a produção e comercialização de alimentos saudáveis e que tragam a marca da sustentabilidade da agricultura familiar, da agroecologia em respeito à natureza e, principalmente, se diferenciem pelo nosso compromisso e responsabilidade sociais com a segurança alimentar da população”, conclui José Carlos Farias.A primeira exposição do Sistema Coopafi acontecerá oficialmente em estande na Feira da Produção Orgânica de São Jorge D’Oeste, de 4 a 7 de agosto, quando serão demonstrados produtos e experiências acumuladas pelo Sistema.Jornalista: Thea Tavares (MTb 3207-PR) 3350-4087/9658-7588Contatos: Com o Diretor-Presidente da Crapa, José Carlos Farias – (46) 3524-3997 / (46) 9104-2266 e com o agricultor de Capanema e articulador do sistema de comercialização, Ivo Antônio Vial - (46) 9975-2170. Na Coopafi Coronel Vivida, com Antônio Deitos, (46) 3232-3524; e na Coopafi Capanema, com Rosalene Willms, (46) 3552-2497.