
O climatério, fase na vida da mulher marcada pela transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo, é cercada de desafios e transformações. A necessidade de combater os tabus e promover a conscientização sobre o tema mobilizou uma audiência pública realizada na manhã desta quarta-feira (7) na Assembleia Legislativa do Paraná. “Precisamos comunicar e informar as mulheres, porque inclusive muitas desconhecem o que é o climatério”, ressaltou a deputada Mabel Canto (PP), líder da Bancada Feminina e uma das proponentes do evento.
Mabel relembrou a sanção da Lei nº 22.478 no último mês de junho, de autoria de 13 parlamentares estaduais, que estabelece como prioridade a atenção à saúde no climatério no Paraná. No rol de objetivos estão a realização de campanhas, a promoção de assistência às mulheres, o fomento a pesquisas e a produção de estatísticas, entre outras iniciativas. Primeiro autor da proposição que resultou na norma, o deputado Luiz Claudio Romanelli (PSD) relembrou o processo de concepção do projeto e destacou como o tema foi cercado, nos últimos anos, por silêncio e desinformação.
Também organizaram o evento e são proponentes da lei as deputadas Ana Júlia (PT), Cantora Mara Lima (Republicanos), Cloara Pinheiro (PSD), Cristina Silvestri (PP), Flávia Francischini (União), Luciana Rafagnin (PT), Secretária Márcia Huçulak (PSD), Marli Paulino (SD) e Maria Victoria (PP). Bem como os deputados Artagão Júnior (PSD) e Ney Leprevost (União).
Conforme explicou a médica ginecologista Bruna Toppel, o climatério é um período que antecede a última menstruação da mulher. A mulher costuma ingressar na menopausa no Brasil, em média, entre os 48 e 50 anos. Com as mudanças na pirâmide etária previstas para as próximas décadas, o tema se tornará ainda mais relevante: a proporção de mulheres com mais de 50 anos era de 21,5% em 2010 e deve ser 47% em 2060, anotou a especialista.
Segundo ela, há mais de 200 sintomas atrelados ao climatério, período marcado pela diminuição progressiva dos hormônios sexuais. Dentre eles, o “calorão” e a sudorese noturna, a irregularidade menstrual, com ocorrência de ciclos curtos ou mais longos; distúrbios de sono, com impactos no desempenho, memorização e concentração da mulher; sintomas psicoemocionais, como ansiedade e tristeza; ganho de peso, disfunção sexual, entre outros.
“O primeiro tabu é que as mulheres sequer sabem o que é climatério. Existe uma grande dúvida”, ressaltou a médica ginecologista Alexandra Ongaratto. “Ele tem um impacto laboral gigantesco, há mulheres que saem do mercado de trabalho”. A busca por ajuda muitas vezes é coibida pelo constrangimento sentido por elas diante dos sintomas. “Elas têm vergonha de trazer o tema para o ambiente de trabalho e para as suas famílias, porque acabam estigmatizadas diante da perda de produtividade e com o envelhecimento”.
Ongaratto destrinchou um estudo chamando Warm, realizado com mais de 500 mulheres brasileiras. Ele revela que as mulheres na menopausa enfrentam mais de quatro ondas de calor diariamente, sintoma sentido por cerca de 80% das mulheres passam pela fase. A condição compromete a realização de atividades diárias, o trabalho e o sono. No entanto, mais da metade (51%) não tem nenhum tipo de tratamento e 35% sequer compareceram ao médico.
Outra pesquisa citada pela ginecologista, de envergadura internacional, revela que apenas 28% das pessoas – entre homens e mulheres - considera a menopausa como algo positivo. Apenas 38% acham que ela é retratada de forma positiva nos canais de comunicação. Outro dado destacado mostra que dois terços dos entrevistados avaliam que os seus sintomas não são levados a sério.
Atuação parlamentar
As parlamentares da Assembleia Legislativa compartilharam experiências pessoais com a menopausa e o climatério, refletiram sobre os vácuos no Poder Público e a negligência diante da saúde das mulheres depois que elas deixam de engravidar. "A sociedade olha a mulher como reprodutora, e esquecemos dela nessa outra fase", destacou Marcia Huçulak (PSD).
"A saúde pública sempre se preocupou muito com a fase reprodutiva da mulher, a gravidez, o parto e a contraconcepção”, ressaltou a deputada Cristina Silvestri. Apesar da fase já ser tema de política pública no Paraná, ela pontuou a necessidade de incluí-la como tal na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Mulheres (PNAISM). "É uma fase importante e difícil da mulher, que também envolve toda a família e o casamento”.
A deputada Cantora Mara Lima (Republicanos) relembrou como viveu o climatério, período que a tornou mais sensível e que exigiu apoio de toda a família.
Vereadora de Curitiba, Rafaela Lupion (PSD) tratou do seu projeto de lei que cria a Campanha Municipal de Conscientização sobre o Climatério e a Menopausa, a ser realizada no mês de outubro. O texto ainda tramita na Câmara de Vereadores e será tema de uma audiência pública no próximo dia 13. A parlamentar citou uma pesquisa que conduziu na qual 7 a cada 10 mulheres indagadas na Capital desconheciam o que é o climatério.
Iniciativas do Executivo
O evento também foi uma oportunidade para representantes do governo do Estado destacarem as políticas públicas em curso para atender as mulheres no climatério. O Sistema Único de Saúde (SUS) registrou cerca de 100 mil atendimentos ao público feminino que enfrenta esta fase entre 2022 a 2024, destacou Carolina Bolfe Poliquesi, chefe da Divisão de Atenção à Saúde da Mulher da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa).
A gestora citou a iniciativa Carreta Saúde da Mulher, anunciada em setembro pela pasta e que promete fortalecer o atendimento às mulheres. Ela consiste em uma unidade móvel que prestará exames médicos gratuitos a 18 mil mulheres de 48 municípios paranaenses até o fim deste ano, como mamografia, ultrassonografia e Papanicolau.
Mariana Neris, diretora de Políticas Públicas para as Mulheres na Secretaria de Estado da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa (Semipi), destacou a atuação da pasta na implementação de programas e projetos estaduais para potencializar ações nos municípios, com a transferência de recursos.
AUDIÊNCIA PÚBLICA - "A SAÚDE DA MULHER NO CLIMATÉRIO"
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