“Todos sabemos o que é um navio á deriva. Ocorre quando um barco perde o rumo e anda sem direção ao sabor dos ventos. O governo Requião inova. Inventou o porto que segue sem rumo e sem comando". A declaração é do deputado Valdir Rossoni (PSDB), depois de nova audiência sobre o Porto de Paranaguá, na noite de terça-feira (22), ao demonstrar sua preocupação com a situação do terminal marítimo que acumula problemas gravíssimos sem que o superintendente Eduardo Requião dê sinais que tem capacidade ou disposição para equacioná-los. “O governo só demonstra energia em perseguir e demitir pessoas que denunciam os problemas do Porto”, disse Rossoni. “É o caso do diretor técnico, Leopoldo Campos, que foi demitido em setembro do ano passado, após denúncias de graves irregularidades e desvios feitos em carta ao superintendente Eduardo Requião. A única preocupação, aliás, é calar a boca dessas vozes discordantes. O Porto em si não preocupa, tanto é assim que até agora o importante posto de diretor técnico sequer foi ocupado”. O deputado considerou a nova audiência sobre os problemas do Porto um fiasco porque as pessoas apontadas como especialistas não demonstraram estar gabaritadas para responder as perguntas, assumir as declarações. “O que dizer então da responsabilidade pelas inúmeras denúncias de irregularidades que envolvem diversas áreas da APPA. Quem é o responsável, afinal?”. Rossoni não descarta a possibilidade de convidar os membros da extinta Comissão Especial de Dragagem para dar as explicações sobre o processo turbulento da dragagem do Canal da Galheta. Ele quer chamar também os ex-diretores da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) Leopoldo Campos e Ruy Zibetti, demitido neste mês. Ele recebeu carta de um funcionário com denúncia de sumiço de farelo de soja do silo público. Estiveram na audiência, pela Appa, o diretor do Porto de Antonina, Luiz Henrique Dividino e o diretor financeiro Daniel Lúcio Souza. Dragagem “A questão da dragagem, que vem impondo sucessivas reduções do calado dos navios que atracam em Paranaguá, provocando imensos prejuízos, continua na estaca zero”, constatou Rossoni. “A alternativa apresentada pelo governo de comprar uma draga para fazer o serviço não é a solução imediata para o problema. A confirmação foi dada pelo diretor do Porto de Antonina, Luiz Henrique Dividino”. “Levaria no mínimo um ano para que todo o processo fosse realizado. A situação ficou mais preocupante porque não se vê uma saída a médio e curto prazo. Ficou claro nesta audiência que a compra da draga não é a solução”, relatou. De acordo com o que foi apresentando na audiência, a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA) não conseguiu localizar uma draga disponível para realizar a contratação direta, já que a última licitação foi considerada deserta. “Aparentemente, não tem draga disponível. Mas na licitação passada duas empresas fizeram propostas, só foram recusadas porque a APPA alegou que estava fora do preço proposto”. “A APPA não parece disposta a lançar um novo edital. Se a licitação passada não teve sucesso é porque algo está errado nesse processo. O edital precisa ser revisto dentro de um patamar que seja viável à execução dos serviços e que apareçam empresas em condições de realizar a dragagem”, destacou Rossoni. O Canal da Galheta deixou de ser dragado desde 2005 e desde então a Marinha do Brasil tem reduzido com freqüência o calado para diminuir os riscos de acidentes. “O calado já chegou a 11,3 metros. Isso gera prejuízo para os agricultores que tem que embarcar uma menor quantidade de produtos nos navios, mas o valor do frete é integral. Apesar das restrições o risco de acidente existe e é alto. Um descuido pode causar uma tragédia”, alertou. A largura de um determinado ponto do Canal também foi apontada por Rossoni durante a audiência. O deputado contestou o fato de que a largura está em 90 metros e o risco de acidente aumenta em razão da largura dos navios. “O senhor Dividino apesar de ter que defender as ações do Porto deixou claro que existem problemas. A largura do Canal está no limite e isso também foi confirmado por ele”, apontou. Apesar de algumas explicações apresentadas, o diretor do Porto de Antonina, Luiz Henrique Dividino, deixou claro que ele não seria a pessoa ideal para prestar as informações. “Não sou o diretor técnico do Porto e nem o responsável pela dragagem. Temos um grupo de engenheiros que são os responsáveis. Eu não tenho atribuição de diretor técnico nem de engenheiro, pois não sou engenheiro”, atestou Dividino. Comissão de Dragagem A explanação do diretor do Porto de Antonina, Luiz Dividino, deixou claro que os estudos realizados pela Comissão Especial de Dragagem, criada em 2007 para viabilizar a realização da dragagem em Paranaguá, foram em vão. Segundo Dividino, os estudos foram elaborados, mas “A APPA não tem a obrigação de licitar o que a comissão definiu”. O líder da Oposição se mostrou preocupado com essa alegação. “Criaram a comissão especial, vieram aqui na Assembléia e mostraram que aquele projeto era perfeito para as condições do Porto e convenceram todos os deputados. Passados alguns meses lançam o edital e fazem totalmente o contrário. É muito preocupante esse desencontro de informações”. Praia de Matinhos Apesar de técnicos admitirem que a areia dragada do Canal da Galheta não é compatível com a da praia de Matinhos, o diretor do Porto de Antonina, Luiz Henrique Dividino, é favorável à obra. Segundo Dividino, só no transporte seriam gastos R$ 5 milhões. “O engordamento da praia não é garantia de que o problema será solucionado. O Dividino admitiu que até agora não há um projeto pronto. Os estudos estariam sendo realizados ainda”, disse. “O governo defende esse projeto, faz a propaganda no litoral e nem sabe se realmente é viável esse engordamento. Mais uma vez estão iludindo a população”. Terminal de Álcool Outro assunto debatido foi a construção do Terminal Público de Álcool, inaugurado em outubro de 2007 e que está sem operar até o momento. Segundo o diretor administrativo e financeiro da APPA, Daniel Souza, o terminal foi construído para operar com álcool fármaco e álcool para bebidas e não etanol. Souza admitiu que para operar com álcool carburante existe a necessidade de se fazer reparos no terminal. “Não é aceitável essa justificativa. Todas as notícias que envolvem a construção do Terminal de Álcool, em nenhuma delas consta que seria para álcool fármaco. Se o Brasil é o principal produtor de álcool carburante porque construir um terminal em que não é possível armazenar este produto?”, questionou Rossoni. Diante da afirmação de que o Terminal de Álcool foi construído de maneira correta, o deputado Valdir Rossoni sugeriu que a APPA processe as entidades que alegam que o projeto foi executado de maneira errônea. “O processo é viável para resguardar os interesses do Porto. Se está tudo correto é essa a medida a ser tomada. Não entendo porque não fizeram até agora”. Silão “A situação continua caótica no silão”, disse Rossoni diante das afirmações do diretor Daniel Souza de que o “silão não é o que eu gostaria de ter. Os ratos e pombos não possuem crachás e é difícil controlar o acesso”. Souza admitiu ainda que o silão precise de reforma na estrutura e também tecnológica. “A sujeito ainda impera no silão. Já faz alguns anos que o visitei e pelas informações nada foi mudado. O líder do governo admitiu que os ratos e pombos são enviados junto com a soja. É uma situação lastimável e que ninguém toma providências para reverter. Farelo de Soja Questionado sobre o suposto sumiço de 4,5 mil toneladas de farelo de soja do silo público, o diretor Daniel Souza não soube precisar o volume exato que está faltando nos estoques, mas admitiu que uma investigação está sendo feita. Sobre a demissão do diretor Ruy Zibetti, que teria recebido a denúncia da falta do farelo, Souza disse ser uma decisão da Superintendência da APPA e também do governador Requião e não sabia os motivos. A mesma resposta foi dada sobre a transferência do funcionário Orley de Souza Miranda.para um outro setor. “A história se repete. Basta alguém apontar as irregularidades no porto que é demitido ou transferido para o porão do Porto”, disse Rossoni.