Artigo do deputado Luiz Cláudio Romanelli* Quero com o presente artigo responder ao companheiro Marcelo Almeida, deputado federal pelo meu partido, o PMDB, que articula um grupo de parlamentares de diversas agremiações, com o objetivo declarado de renovar a política paranaense e exercê-la “sem ódio”. Deixo claro, como ponto de partida, que não conheço essa categoria sócio-política e que o ódio ou a ausência de ódio, no meu entender, não definem concepções, metas e projetos políticos. As idéias do companheiro Marcelo Almeida estão explicitadas em artigo publicado no dia 15 de maio último, pelo jornal “Gazeta do Povo”, sob o título “Renovar é preciso”. Com todo o respeito que nutro pelo companheiro, devo afirmar minha discordância com o método de discussão proposto. Em minha opinião, falta exatamente conteúdo político a essa proposta de uma “nova política”. Marcelo começa por afirmar que “políticos e até jornalistas e formadores de opinião do Paraná estão acostumados à beligerância, ao conflito e à autofagia”, e adiante acrescenta que “o processo político no Paraná está sob o comando de três únicas lideranças: Roberto Requião, Jaime Lerner e Álvaro Dias”, que, ressalvadas as qualidades que o deputado lhes atribui, “contribuíram, em maior ou menor proporção para a formação de uma cultura política onde o ódio prevaleceu sobre a tolerância...”. Eu admito que as asperezas da luta política possam incomodar muitos jovens políticos, mas, prezado Marcelo, acho que você não localizou corretamente esse ódio que você pretende combater. A menos, é claro, que você identifique o ódio apenas com as escaramuças verbais perfeitamente naturais na ação política. E aí, Marcelo, se for este o seu entendimento, você acaba deixando claro que, dos três políticos citados em seu artigo, seu verdadeiro alvo é o governador Roberto Requião. Todos sabem que o governador Requião não tem papas na língua, o que não é exatamente o caso de Lerner e Álvaro Dias. Será isto o ódio? Eu vou por outro caminho. O regime que nos governou de 1964 a 1984 produziu, ao lado de políticos e generais extremamente truculentos, outros (muitos dos quais estão aí até hoje, no cenário político) que podiam ser considerados exemplos de boa educação, de cordialidade e, se duvidarem, excelentes cônjuges e pais de família. A urbanidade desses senhores, vista superficialmente, dificilmente poderia ser entendida como instigadora do ódio, a não ser por um pequeno detalhe: o regime a que serviam era, sim, um regime de ódio social, de repressão, tortura e morte. Vamos a outro exemplo. O governador Requião, com toda a sua franqueza, volta e meia critica deputados da oposição. Por isso, é muitas vezes acusado de fazer política com ódio. O que fez o governo anterior? Mandou a polícia fechar a Assembléia Legislativa, constranger deputados com cachorros e metralhadoras, isso tudo sem lhes fazer uma crítica sequer. Muito educado, concedamos. Quando digo que falta conteúdo às ponderações do deputado Marcelo Almeida é porque me parece que ele retira do debate político que propõe qualquer menção às metas e projetos que definem as ações políticas dos mais variados matizes. É isso que lhe permite ser arauto de um grupo de parlamentares de partidos variados, porque as divergências entre esses partidos, muitas vezes inconciliáveis, ficam ocultas. Nós defendemos, sim, uma nova forma de fazer política. Uma política que promova o desenvolvimento econômico, com inclusão social, com a promoção da dignidade e da cidadania e com participação popular. Temos sido parceiros do governo Lula na consecução desses objetivos. Assumimos o governo em 2003 com o firme propósito de tirar o Paraná e o Brasil do atoleiro onde os governos anteriores nos colocaram. As políticas implementadas no Brasil e no Paraná nos últimos anos reverteram a situação e, o que é mais importante, o povo brasileiro passou a ser sujeito consciente desse processo. As Conferências Nacionais das Cidades, da Educação Básica, da Juventude (todas com exaustiva preparação nos municípios e Estados), os inúmeros fóruns e conselhos populares que passaram a ter vida nos últimos anos expressam, sem dúvida, um jeito diferente de fazer política, com consideração, com carinho, com solidariedade, com respeito por aqueles que mais trabalham e mais necessitam das ações do poder público. Não vejo aí nenhum traço de ódio. Pelo contrário. Encerrando, digo que o título do artigo de Marcelo, “Renovar é preciso”, segue a mesma indefinição. Preciso, no sentido que lhe dá Fernando Pessoa em seu famoso poema “Navegar é preciso”, quer dizer exato. Ora, é exatamente isso que a política, com ou sem renovação, não é. Parafraseando o grande poeta brasileiro Chico Buarque de Hollanda, nem toda a lucidez é jovem, nem todo jovem é lúcido. *Luiz Cláudio Romanelli, deputado estadual, vice-presidente do PMDB do Paraná e líder do Governo na Assembléia Legislativa.