Mãe Conta, No Rádio, Como Morreu Sua Filha “por Falta de Uti”, Em 31 de

22/11/2006 10h55 | por Castilho
Patrícia Ferreira da Silva, 28 anos, se pronunciou, nesta terça-feira, no programa do deputado estadual Jocelito Canto, na Antena Sul FM, para relatar, com detalhes, como faleceu sua filha, Marielle Batista, de dois anos e meio, no dia 31 de outubro deste ano. O caso ganhou enorme repercussão e motivou, inclusive, atrito entre políticos da cidade. Pelo relato da mãe, Jocelito concluiu que não foi somente por falta de um leito de UTI que a menina perdeu a vida, mas, também, por procedimentos que foram adotados no sistema de Saúde do Município. Abaixo, na íntegra, o que disse Patrícia Ferreira.A transcrição é feita da maneira como se pronunciou aquela mãe. Observe-se que o depoimento é de pessoa simples, de uma mãe que, há poucos dias, perdeu a filha. E vale salientar que, de acordo com Jocelito Canto, a manifestação foi espontânea, pois Patrícia foi quem tomou a iniciativa de ligar para o programa para fazer o relato.Como foiNa manhã desta terça-feira, Jocelito comentava, em seu programa de rádio, a respeito de outra morte de criança, um garoto com seis meses de idade, João Pedro Abreu de Souza. Sobre este fato, o Jornal da Manhã publicou matéria, dando conta que a criança (conforme o promotor de Justiça, Fuad Faraj), deu entrada numa casa hospitalar às 19h de sexta-feira, e inspirava cuidados intensivos. E que, embora a Central de Regulação de Leitos tenha sido acionada imediatamente, não havia leito adequado de UTI disponível. O primeiro leito vago foi encontrado em Irati, mas já na tarde de sábado. Para João Pedro, era muito tarde: o garoto faleceu às 16h daquele dia, diz o jornal. A casa hospitalar, conforme noticiou o jornal Diário dos Campos, é o Santana Unimed.MãeApós seu comentário, em que tratou a respeito de Unidades de Terapia Intensiva, Jocelito Canto, no espaço denominado “Tribuna Livre” (por volta de 7:40 horas), dentro do seu programa, recebeu telefonema, para participação no ar, de Patrícia Ferreira da Silva, que prestou este depoimento:Jocelito Canto – E a dona Patrícia está conosco. Você mora na Cipa, Patrícia?Patrícia Ferreira da Silva – Moro. Eu moro na Cipa.Jocelito – Na Cipa. O fato foi quando? Foi dia 31, né? Patrícia – Foi dia 31 de outubro, só que nós levamos ela no dia 30, às três horas da manhã, no hospital, domingo.Jocelito – Então, dia 30 era um domingo.Patrícia – Domingo, três horas da manhã.Jocelito – Às três da manhã, a criancinha não estava bem...Patrícia – Tava com febre, vômito e dor de cabeça.Jocelito – Você a levou ao Hospital da Criança.Patrícia – No Hospital da Criança. Chegando lá, o médico, Dr. Osni, atendeu ela, deu duas injeções e falou que era pra mim pegar um medicamento no postinho, até amanhã.Jocelito – No dia seguinte. Patrícia – No dia seguinte.Jocelito – Ele deu duas injeções nela...Patrícia – Plasil e uma Dipirona, pra febre.Jocelito – E mandou para casa.Patrícia – Mandou pra casa.Jocelito – Isso as três da manhã?Patrícia – Às três da manhã.Jocelito – E como é que você chegou ao hospital, sozinha?Patrícia – Não, eu fui com meu marido.Jocelito – Foi com teu marido.Patrícia – Isso, com meu marido.Jocelito – foram de carro? Patrícia – Fomos de moto.Jocelito – De moto. A criancinha junto?Patrícia – Junto.Jocelito – A criancinha na moto, chegaram até o Hospital da Criança.Patrícia - Até o Hospital da Criança.Jocelito – A criança com febre e vômito.Patrícia – Com febre, vômito e dor de cabeça.Jocelito – Desde quando a criança estava com febre?Patrícia – Ah, começou de madrugada, mesmo.Jocelito – De madrugada. Patrícia – Foi bom, o domingo, sabe, de dia. E, aí, começou de madrugada. Aí, eu...Jocelito – Então, de madrugada de domingo, a criança começou a ter muita febre.Patrícia – E vômitoJocelito – E, às três da manhã, você pegou a moto e levou a criança até o hospital.Patrícia – Até o Hospital da Criança.Jocelito – Da Criança. E já às três da manhã.Patrícia – Três da manhã, chegamos lá.Jocelito – De domingo.Patrícia – De domingo, isso.Jocelito – O dia seguinte seria segunda-feira.Patrícia – Segunda-feira. Daí, ela passou bem, tudo, de manhã, meu marido foi trabalhar, eu fui lavar roupa. Daí, quando foi umas onze e pouco, ela levantou e pediu mamá. Aí, eu fui, dei de mamar pra ela, e ela já vomitou. Aí, eu peguei ela e meu piá de seis anos, e subi no postinho. Cheguei lá, anotei a receita...Jocelito – Isso segunda-feira.Patrícia – Segunda-feira.Jocelito – Você não tinha dado o remédio que o médico mandou?Patrícia – Não, porque ele falou que ela ia passar tudo bem, que ela podia esperar, né?Jocelito – Então, a criança... você chegou em casa, por volta de quatro horas da manhã?Patrícia – É, umas quatro horas, mais ou menos, da manhã. Aí, ela dormiu.Jocelito - Dormiu.Patrícia – Febre (...) vômito e tudo.Jocelito – Certo!Patrícia – Aí, eu pensei: Vou lavar roupa e vou subir no postinho, pegar o remédio.Jocelito – Certo.Patrícia – Aí, e fui... Ela veio, pediu mamá, eu peguei nela, vi que estava muito quente, aí, peguei ela e já fui para o postinho. Jocelito – Isso onze horas da manhã?Patrícia – Isso!Jocelito – De segunda-feira.Patrícia – Daí, ela foi atendida e, daí, pediram uma ambulância. Jocelito – Tá, mas, nesse dia, às onze horas da manhã, você já tinha dado aqueles remédios que ele havia receitado?Patrícia – Não, não tinha dado, ainda. Não tinha subido ao postinho, né?Jocelito – Porque o médico havia dito que você tinha que pegar o remédio no dia seguinte.Patrícia – É, se ela continuasse com vômito e febre, era pra pegar o remédio e dar.Jocelito – Ele deu o remédio pra segunda-feira.Patrícia – Isso. Era pra pegar na segunda-feira, no postinho, né.Jocelito – Certo.Patrícia – E, daí, eu pensei: Vou subir lá, ver se tem o remédio, daí, se não tiver, já dou uma consultada. Aí, cheguei lá, conversei com eles, daí mediram a febre, que tava alta, e passaram para o médico. Aí, o médico pegou, viu a receita dela, né, e me encaminhou para o hospitalzinho. Aí, eu fiquei esperando a ambulância, porque ela tava com muita febre, eu tava com medo de sair de ônibus, sabe?Jocelito – Você voltou pra casa, ou estava no posto?Patrícia – Oi?Jocelito – Você voltou pra casa?Patrícia – (...) hora, mais ou menos. Aí, eu peguei...Jocelito – Você tava esperando uma ambulância?Patrícia – Fiquei esperando de uma e meia, Jocelito, às quatro e meia da tarde.Jocelito – Espera um pouquinho, ficou da uma e meia...Patrícia – Às quatro e meia.Jocelito – Às quatro e meia, esperando uma ambulância da p....Patrícia – Uma ambulância, no postinho, me pegar com a menina.Jocelito – Pra levar para o hospital.Patrícia – Pra levar para o hospital, porque a febre dela tava muito alta. Eu tava com medo de ir de ônibus e acontecer alguma coisa.Jocelito - Então, às onze horas da manhã, quando você foi no posto, ela estava com muita febre, o médico do posto detectou que ela precisava de uma ambulância.Patrícia – Isto. Daí, eles chamaram, daí a ambulância falou que ia demorar um pouco, porque só tinha uma ambulância pra Ponta Grossa inteira. Jocelito – Hum, hum. Isso é mentira, viu? Patrícia – é?Jocelito – Isso é mentira, porque o governador Requião mandou três ambulâncias para o Pronto Socorro. Patrícia – Daí, eu sei que eu fiquei lá. Daí, eu liguei para uma amiga minha e falei pra ela: Será que dá pra você subir aqui e me trazer dez reais pra mim, que estou sem dinheiro, que meu marido foi trabalhar com a carteira, né. Aí, ela pegou e subiu. Eu falei pra ela, vá ali na lajinha e compre um bico pra filha, porque, na hora, eu esqueci o bico dela.Jocelito – Sei.Patrícia - Daí, ela foi, comprou o bico, e tudo, (...) o médico pra atender.Jocelito – Eles deram algum remédio no postinho, pra criança, nesse período?Patrícia – Oi? Deram. A enfermeira deu parafetamol, em gotas, pra baixar a febre dela, que tava muito alta.Jocelito – Isso, por volta do meio-dia?Patrícia – É, uma e pouquinho, mais ou menos, por aí, né? Que, daí, tinha bastante gente pra atender, né? Daí (...) meio rápido, sabe? Só que a demora, mesmo, foi da ambulância, né.Jocelito – Quer dizer que você, depois de consultar, por volta do meio-dia, ficou esperando até que horas a ambulância? Patrícia – Até quatro e meia. Da uma e meia, que eles pediram, até quatro e meia da tarde.Jocelito – Quer dizer que você ficou da uma, uma e pouquinho até as quatro e meia, esperando a ambulância?Patrícia – Até quatro e meia, esperando a ambulância. Jocelito – Na Vila Cipa.Patrícia – Na Vila Cipa. Jocelito – No postinho, você ficou lá, com febre?Patrícia – Ficou. Daí, eu peguei... Daí, o postinho fechou ás quatro horas, aí, eles deixaram o portão aberto pra mim, pra mim botar o cadeado depois. Jocelito – Como é que é? O postinho fechou às quatro horas, e você saiu pra fora...Patrícia – Não, eu fiquei lá em baixo, assim, do eternit, dentro do postinho.Jocelito – Com a criança com febre.Patrícia – Com a criança com febre. Baixava e voltava a febre dela, sabe? Jocelito – E a ambulância não tinha chegado.Patrícia – E a ambulância não tinha chegado, chegou quatro e meia. Jocelito – Chegou quatro e meia. Patrícia – Aí, eu peguei e falei pra ele, nossa, como você demorou. Ele falou: “Pois, é, nós só temos uma ambulância em Ponta Grossa”. Daí, pra atender todo mundo, né? Daí, eu peguei e fomos para o hospitalzinho. Aí, chegando lá, (...) tinha tomado o remédio, ela tava boa, tava conversando comigo, tudo, aí, a médica internou e falou assim: “Vou colocar, aqui, febre a esclarecer, pra ver porque ela estava com febre. Jocelito - Isso, a que horas tu chegou no hospitalzinho?Patrícia – Era quase cinco horas, mais ou menos. Jocelito – Quase cinco horas, você chegou no hospitalzinho de volta.Patrícia – No hospitalzinho! Aí, a médica mandou internar e mandou dar um banho nela, pra por soro e fazer uns exames, né. Jocelito – Sei.Patrícia - Aí, peguei, internei, dei banho, ela tava conversando, Jocelito, comigo, sentadinha na cama, sabe. Aí, quando foi mais ou menos... Daí, ela ficou dormindo, sabe? Daí, deu febre nela, eu chamei a enfermeira, a enfermeira veio dar uma injeção no soro, sabe? Aí, passadas mais ou menos umas duas horas, mais ou menos, que ela estava lá, eu falei...eu fui atrás da enfermeira e falei: Olha, moça, ela tá com muita febre, eu acho muito quente.Jocelito – Isso por volta de sete horas. Patrícia – Ahã. Daí, ela me falou assim: “Olha, mãe, nós não podemos fazer mais nada, porque eu já dei a injeção de Dipirona, nós não podemos dar mais remédio, é muito remédio”. Daí, eu voltei pro quarto, daí meu marido chegou, sete e pouquinho, sete e meia, mais ou menos, oito horas, lá do serviço. E entrou lá, ela tava dormindo na cama. E, daí, pegou ela no colo e, quando foi conversar com ela, daí ela chorou e queria vir comigo. Aí, e peguei ela, ela dormiu, eu pus na cama, e aí, meu marido falou: “Eu vou embora, então, e, amanhã, e trago as roupas pra você e pra ela”, né. Aí eu falei, tudo bem. Daí, ele saiu, daí, as mulheres apagaram a luz do quarto, sentaram no sofá e começaram a dormir. Só que eu não consigo dormir em hospital, Jocelito, não consigo. Aí, quando foi mais ou... Aí, sentei no sofá, assim, na cadeira, e fiquei segurando na mãozinha dela.Quando foi duas horas da manhã, eu tava de relógio bem certinho, a minha mão começou a chacoalhar, chacoalhar, chacoalhar, sabe, que eu olhei, assim, pra minha menina, ela fez: “Ahhh!”, assim, sabe, estanhou os olhos, e ficou me olhando sem se mexer, assim. Daí, eu pus a mão na boquinha dela, ela não tava respirando. Daí, eu gritei pra mulher: Pelo amor de Deus, socorro, né, do lado. Daí, ela pegou e levantou, segurou minha menina, assim, e eu saí gritando pelo hospital, sabe, chorando. Daí, a enfermeira veio e: “Calma, não precisa fazer escândalo”, não sei o que, “está no hospital”, não sei o que. Eu falei: Pelo amor de Deus, a minha menina não tá respirando. Daí, a enfermeira veio correndo, pegou ela, fez massaginha no coração dela, sabe, aí, puxou ela perto do oxigênio, colocou oxigênio nela, aí, ela voltou. Daí, o médico veio correndo, lá, da frente do hospital, examinou ela, e falou.... Daí, a enfermeira: “Doutor, ela teve uma parada respiratória”. Ele: “Não, foi uma convulsão”. Daí, eles ficaram, os dois, sabe, um dizia que era parada respiratória, o outro dizia que era convulsão. Aí, o médico falou “está tudo bem”. Quando ele falava... Eu em choro, sabe?Eu falava: Doutor, pelo amor de Deus, não tem jeito de tirar ela daqui, levar pra outro lugar, né, que ela não tá bem. “Não, não, não se preocupe, eu sou médico, sei o que estamos fazendo”. Bem assim. Examinou ela e saiu. E a enfermeira saiu. Quando eles viraram as costas, deu de novo, convulsão, sabe?Aí, eu gritei, a enfermeira veio correndo, com o médico, examinaram ela, daí, começou a dar, Jocelito, de minuto em minuto, sabe, a convulsão na menina.Aí, eu comecei a chorar, chorar, chorar, daí, ele falou assim: “Mãe, vou levar ela para a Sala de Risco, sala oito, pra nós fazer um exame de meningite, pra ver se ela não tá com meningite”. Aí, levaram ela. Enquanto eles levaram ela, eu corri no telefone e liguei pro meu marido. Eu falei: Ó, a menina não tá passando bem, venha pra cá.Jocelito – Isso era mais ou menos a que hora?Patrícia – Duas horas da manhã.Jocelito – Isso tudo aconteceu das duas em diante.Patrícia – Isso. Duas horas da manhã, começou. Aí, eles levaram ela, chamei meu marido, meu marido veio com meu cunhado, no hospitalzinho, entrou lá, daí, trouxeram ela, daí tiraram sangue, fizeram exame de sangue, exame de urina, exame de meningite, deu tudo normal, Jocelito, não tinha nada, a menina, nos exames, não aparecia nada. Nada, nada, nada! O exame de meningite deu normal, sabe, o exame de sangue não deu nada, o exame de urina não deu nada. Aí, Jocelito, voltou pra sala 16, a menina, do jeito que tava. Daí, eu não agüentava mais ficar lá dentro. Começou me dar uma choradeira, eu chorava, chorava, chorava. Daí, falei pro meu marido: Fique que eu vou ligar pra madrinha dela. Aí, meu marido ficou com ela no quarto, sabe, e toda hora dava.Aí, o doutor que tava com ela de madrugada foi (...) sabe, doutor... parece que Maurício Bittencourt. Parece que é isso, eu nem me lembro, sabe? Ele ficou com ela, em cima dela na cama, atendendo, examinando. Daí, eu liguei pra minha comadre, quatro horas da manhã, aí, minha comadre foi no hospital, né, a madrinha dela. Daí, eu falei assim, pro médico: Doutor, não tem uma UTI, alguma coisa, alguma sala, alguma coisa pra levar ela, porque ela tá feia. “Ah, mãe, nós vamos, nós estamos fazendo os exames necessários, e nós vamos tentar pedir uma UTI”.Mas, Jocelito, a menina atravessou a madrugada, quando deu nove horas da manhã, ela ficou feia, feia, feia, Jocelito, eu não agüentava mais ficar no quarto com ela, o meu marido que ficava com ela no quarto.Jocelito – Ela voltou para o quarto, depois? Patrícia – Ela voltou para o quarto 16, quarto normal.Jocelito – Então, então, depois dos exames, isso... A que hora que ela voltou par ao quarto, mais ou menos? Patrícia – Era umas duas e pouco, quase três horas, mais ou menos.Jocelito – Às três da manhã ela voltou para o quarto.Patrícia- Pro quarto normal.Jocelito – O quarto normal. E tava melhor?Patrícia - oi?Jocelito – E tava melhor? Patrícia – Não, tava pior.Jocelito – Tava pior.Patrícia – Aí, o médico falou assim: “Mãe, nós vamos esperar uma criança que tá na Sala de risco 8, ir para Curitiba, às cinco horas, e vamos transferir sua menina pra lá”. Daí eu falei pra ele: “Mas, não tem um outro lugar pra por ela, pelo amor de Deus. Ele: “Não, mãe, não se preocupe, mãe, nós estamos cuidando da menina”. Aí, ele ficou ali com ela, tudo, né, daí ele falou: “Mãe, nós aplicamos Gardenal na tua menina”.Jocelito – Gardenal?Patrícia – A menina de dois anos... Isso mesmo, nunca teve nada, Jocelito.Jocelito – Eles deram Gardenal nela?Patrícia – Gardenal. Aí, eu peguei e vi que (...) Daí, quando foi cinco horas da manhã, daí já avisamos os parentes do meu marido, que moram no sítio, já vieram tudo pra cá, né, os padrinhos dela, da igreja, vieram pra cá, todo mundo na frente do hospital. Aí, sabe, daí, o patrão do meu marido, também, muito boa pessoa, sabe, foi lá, que ficou em cima dos médicos, sabe? Aí, quando foi nove horas da manhã, eu falei pro meu compadre: Compadre do céu, não vai ter jeito. Daí, quando foi cinco horas, cinco e meia, mais ou menos, da manhã, eles foram no quarto 16, pegaram ela e levaram pro quarto 8, Quarto de Risco.Só que o Quarto de Risco, Jocelito, é assim: Tem um banheiro dentro desse quarto, todo mundo entra no banheiro, entra sai, sabe? Você pode ver, lá, pra você ver. Todas as mulheres que estão internadas, que a maioria dos quartos não tem banheiro, né, iam usar o banheiro lá, no quarto onde a menina tava. Aí, de manhã cedo, meu marido falou que eles colocaram um aparelhinho no nariz dela, acho que sonda, daí, ficava saindo sangue, um monte de sangue sujo pela sonda, sabe, do narizinho dela, sabe. E, daí, eu falei pro meu compadre: “Compadre do céu, não vai dar certo”.Daí, eu peguei e me lembrei do promotor. Aí, nós fomos até lá, ali, no Fórum, e não era mais ali. Aí, era lá perto da Universidade.Jocelito – Isso a que horas? Já no outro dia, é?Patrícia - É, nove horas da manhã. Jocelito – Nove da manhã.Patrícia – E eu pedindo, pelo amor de Deus, arrume uma UTI, alguma coisa assim, né. “Ah, mãe, nós estamos tentando, estamos tentando”. Aí, fomos lá no Fórum, não era lá, fomos no promotor, ele não tava, era só depois do almoço. Daí, a moça falou assim, a secretária: “Vão lá na...” Ali, em frente à Santana Unimed, sabe, ali, acho que...Jocelito – A Regional da Saúde.Patrícia – Regional da Saúde. “Vão lá, ver se já foi pedida a UTI”. Daí, eu peguei, fui lá, com o patrão do meu marido e o meu compadre. Chegamos lá, eu conversei com um senhor, á, aí eu contei pra ele, e ele falou: “Vamos lá ver com a moça”. Foi lá, ver, daí, a moça falou assim: “Eles acabaram de pedir a UTI agora”, nove horas da manhã. Jocelito – Eles pediram às nove horas, a UTI?Patrícia – Nove horas da manhã. Desde (...) a menina tava precisando desde as duas da manhã, eles foram pedir às nove horas da manhã.Jocelito – Sei.Patrícia – Imagine a demora, né. Aí, Jocelito, tá, daí, eu estava no hospitalzinho, daí, uma nove e meia, mais ou menos, quase dez horas, a minha comadre falou assim: “Comadre, vá lá ver, ela tá bem boa”. Ficou boa, a menina, sabe? Entrei lá, só que ela tava com o olho, Jocelito, inchado, inchado, inchado, os dois olhinhos dela, inchou, sabe. Daí, entrei lá, conversei com ela, ela parece que entendia nos conversando, sabe? Saindo aquela sangueira do nariz, sabe, ela tava vomitando, assim, uns negócios, sabe. Daí, eu peguei e conversei com ela, daí começou dar, de novo, convulsão. Eu saí pra fora, não agüentava ficar lá dentro.Daí, eu liguei no 102 e falei: Pelo amor de Deus, vocês não sabem me informar o número, ou de uma rádio, de uma televisão? E contei o caso, né. Daí, eles passaram o número, eu liguei na... num jornal, Diário dos Campos, parece, daí o rapaz falou pra mim: “A senhora já foi atrás do promotor? Que o promotor consegue”. Falei: Já fui e não achei.Daí, ele falou: “Então, deixe que nós vamos atrás, e nós vamos com o promotor aí”. Aí, Jocelito, de repente o promotor chegou lá, no hospitalzinho. Foi lá ver a filha, lá, onde ela tava, sabe, e tudo. E, daí, falou assim pra enfermeira, pra ela tirar xerox, e tudo, que a menina tava tomando medicamento, pra mandar pra ele. Daí, ela á foi e já se virou, sabe, daí, o jornalista tava lá, tudo. Isso já era umas duas e pouco da tarde, duas horas, mais ou menos, da tarde. Aí, o Wosgrau, o prefeito, tava no hospital, olhando a reforma. Aí, eu fui atrás dele e falei: “Pelo amor de Deus, prefeito, se o senhor não conseguir uma UTI, pra minha menina, ninguém mais vai conseguir. Contei o caso pra ele e: “Mãe, então vamos lá”. Foi lá na frente do hospital, pegou e ligou pra uma tal de Elenir. Parece que é Elenir, né?Jocelito – Lenir.Patrícia – Lenir.Jocelito – Chefe da Regional da Saúde.Patrícia – Chefe da Regional. Ligou e contou, disse que tava atendendo pessoalmente esse caso, pessoalmente, não sei o que, não sei o que. Daí, ela disse que ia resolver, né. Daí, Jocelito, foi, foi , foi. Daí, quando foi... Daí, o meu compadre entrou lá e falou assim, pra assistente social, o padrinho dela, que tem mais condições que nós: “Olha, não tem, se não tem UTI, aqui, em Ponta Grossa, e tá demorando pra achar, não tem particular? Eu pago”, meu compadre falou, sabe. “Se for problema de dinheiro, se tiver UTI e outro lugar, pode arrumar que eu pago”.Daí, a assistente social falou pra ele: “É, mas, quem vai assinar os papéis, porque uma UTI pra criança é caro, o senhor sabia?”. Ele falou: “Mas, eu tenho dinheiro, não precisa se preocupar, pode fazer os papéis que eu assino”. Ele me contou, eu não vi, né. Aí, tá. Daí, nem assim, sabe. Não conseguimos, sabe. Aí, quando foi umas duas... Daí, o médico falou assim pra mãe, pra mim: “Mãe, a criança não se envenenou?”. Ainda eu falei: Com o que? Ele falou: “Com alguma plantinha, alguma coisa, assim?”. Eu falei: Não, não se envenenou, porque ela ficou o dia inteiro dentro de casa, só almoçou. Almoçou o que sempre ela costumava almoçar, né. Toda vida ela almoçou normal. Não jantou, domingo, nada. Até a água que eu dava, ela vomitava. Aí, ele vinha: “Mãe, essa criança não tem alguém na família, que tenha convulsão?”. Daí, eu perguntei pra ele, ele disse não, da minha família, não. Falei: da minha também não. Daí ele disse “mãe”, por último: “Essa criança tem problema na cabeça”, sabe. E mandou, Jocelito, a menina ir na Clínica da Imagem, fazer uma ressonância, na cabeça. Quando ela... Daí, o SAMU veio buscar ela, aí,tiraram ela, daí eu subi na ambulância do SAMU, né, daí o rapaz falou assim: “Não, tem que ir só um, não pode ir dois”. Daí eu falei, então vá você. Tá me escutando?Jocelito – Estou te ouvindo.Patrícia - Ah, tá me ouvindo. Daí, ele falou assim: “É só um, não pode ir dois na ambulância”, né. Daí, estavam todos os parentes meus, dele, lá na frente, né. Aí, ele foi, né. Aí, ele foi, né, daí ele disse que foi lá na frente e a menina ficou lá atrás, com os médicos. Aí, ele disse que, quando subiu, ali, o hospitalzinho, ali, ele escutou eles puxaram, assim, uma porta do SAMU, daí escutou os médicos conversando, lá, e,daí, quando chegou lá na... Daí, ele perguntava o que aconteceu e eles diziam: “Nada, nada, o senhor espere um pouco, aí”. Quando chegou lá na Clinica Imagem, ele desceu, e daí eles já desceram com a menina na maca, Jocelito, coberto o rosto.Jocelito – Morta, já.Patrícia – Daí, disse que ele foi atrás e: “O que aconteceu com a menina?”. Eles: “Nada, nada, vamos fazer o exame”. Daí, foram, fizeram o exame na menina, daí, passado um pouco, veio o médico e falou: “Sinto muito, mas, a menina de vocês acabou de falecer”. Era três e quinze. Na saída, lá, do hospitalzinho, no SAMU, ela faleceu. Daí, eu tava alegre, que, daí, o repórter tava lá, daí eles tinham me chamado no hospital, tinham conseguido uma vaga pra ela, em UTI, lá, acho que em Curitiba, Angelina....Jocelito – Angelina CaronPatrícia – Angelina Caron, isso mesmo. Aí, eu assinei os papel, que eu ia junto, né, aí falaram: “Olha, mãe, quem vai junto não vai poder ficar na UTI, fica no hospital”. Falei: “tudo bem, se for preciso eu fico no hospital, o que importa é salvar a minha menina, ne”. Aí, Jocelito, desceu a ambulância do SAMU, eu tava alegre, né, contando pros parentes que tinha conseguindo uma ambulância, aí eles conseguiram a UTI e não tinha UTI móvel pra levar a menina. Só que nós não sabia que ela já tinha morrido. Jocelito – Sei.Patrícia – Aí, meu marido desceu da ambulância e falou assim: “Patrícia, você tem que ser forte, porque a menina morreu”. Aí, foi que eu não vi mais nada, sabe? Daí, minha comadre tinha acabado de chegar de táxi, me jogou dentro do carro, de um táxi, e eu fui parar na casa da minha comadre. Eu não vi mais nada, sabe. Jocelito – Sei.Patrícia – E, olha, Jocelito, é uma dor horrível, horrível, horrível.Jocelito – Imagino.Patrícia – Eu não consegui voltar pra minha casa. Eu fui pra minha casa, saí desmaiada de lá. No velório da minha menina, eu fui duas ou três vezes no Pronto Socorro, me dopavam; quando eu voltava do sedativo que me davam, eu tinha que voltar pro hospital, porque eu não agüentava ver minha menina no caixão. Sabe, só eu sei o que nós estamos passando. Aí, a minha comadre, madrinha dela, tem uma casa aqui no Jardim Europa, que era de aluguel. Estava vazia, ela falou: “Comadre, vão, subam lá pra casa, paguem só a água e a luz e, até vocês venderem a de vocês, ou trocar, podem ficar o tempo que precisarem”. Porque, pra minha casa, não tem condição, Jocelito. Daí, eu to aqui, de favor, na casa de uma comadre minha. Porque, lá, onde eu moro, não consigo mais voltar.Conclusão do deputado JocelitoNo final da tarde, já de posse da transcrição do depoimento, ouvimos a opinião do deputado Jocelito Canto sobre o que declarou Patrícia Ferreira da Silva. Ele disse que a conclusão a que chegou foi que, de fato, a criança faleceu precisando de um leito de UTI. “Que sabe, se tivesse a UTI, ela poderia ter sido salva”, admitiu, mas, observou, em seguida: “Houve u procedimento incorreto do Município, que não fez a sua parte”.O deputado explicou tal conclusão, através de trechos do depoimento da mãe de Marielle. “Primeiro, a criança foi mandada de volta para casa, mandaram a mãe buscar medicamento no dia seguinte, deixaram esperando por quatro horas no posto de Saúde da Vila Cipa, o que pode ser considerado até como um desleixo”, criticou. E relatou ter, após a participação da mãe, em seu programa, ter “batido” naqueles que, segundo ele, “fizera demagogia em cima da dor de uma mãe”. Não citou nomes, mas, apontou para profissional do rádio.PolêmicaEntretanto, sabe-se que a morte dessa criança, em 31 de outubro, motivou um atrito entre Jocelito Canto e o deputado eleito, radialista Marcelo Rangel, nos dias que se seguiram, caso que foi parar na Justiça, com uma ação criminal e um pedido de direito de resposta, concedido a Jocelito.O deputado do PTB contou, inclusive, que a transcrição do depoimento de Patrícia Ferreira da Silva, será juntado ao processo que move contra Marcelo Rangel. Também, que já está de posse de cópia de todos os procedimentos adotados no caso da criança. Todo o material, informou Jocelito, foi encaminhado também à Promotoria Pública.

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