"temos que Ampliar a Inclusão Social No Paraná"

07/02/2007 13h29 | por Zé Beto Maciel / (41) 3350-4191
Um dos principais articuladores do governo Requião e cotado para assumir a liderança do Governo, Luiz Claudio Romanelli, voltou nesta quinta-feira (1º de fevereiro) depois de oito anos a ocupar uma das 54 cadeiras da Assembléia Legislativa do Paraná. Eleito com 82.661 votos, Romanelli é um dos mais jovens remanescentes do “MDB velho de guerra”. Ele completou em janeiro 50 anos de idade e nos 25 anos de luta ao lado do “companheiro Requião” já ocupou as cadeiras da Câmara de Vereadores de Curitiba (1990-1991) e da Assembléia Legislativa (1992-1995), além da presidência da Cohapar no primeiro e no segundo governo Requião e a chefia da Secretaria de Materiais de Curitiba na gestão do então prefeito Requião (1986-1988). Na volta à Assembléia, o deputado se mostra otimista em relação ao resgate da imagem dos políticos. “É interessante assumir o mandato justamente num período que há um profundo descrédito em relação aos políticos”, observa ele, mas mostra que atuará pela diminuir as assimetrias entre as regiões do Estado. “Temos que reconhecer a profunda diferença entre as regiões paranaenses. Temos regiões onde o Estado tem que desenvolver uma política de desenvolvimento econômico e social para poder de fato garantir maior estabilidade social”.Autor de um livro sobre o direito à moradia, seu primeiro projeto de lei será a criação de um fundo estadual de habitação. Romanelli conversou com a Gazeta do Paraná na última quarta-feira, 31, um dia antes da posse dos novos deputados. “Eu tenho como um primeiro projeto a criação de um fundo estadual de habitação de interesse social e de regularização fundiária. É necessário dotar o estado de um instrumento perene de financiamento de unidades habitacionais”, adianta. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.Gazeta do Paraná – O senhor volta a Assembléia depois de oito anos, o que mudou nesse período?Luiz Cláudio Romanelli – Foi um longo caminho para retornar, mas foi um período muito interessante. Um amigo meu me disse o seguinte: há muita vida boa fora da política. E eu que comecei a fazer política muito jovem, participei no final dos anos 70 do comitê brasileiro pela anistia, do movimento das associações de moradores, do processo de redemocratização do Brasil, havia me habituado a fazer política todo dia. Mas também foi um período muito bom em que fiquei fora da Assembléia Legislativa. Tive a possibilidade de aprender muita coisa nova, amadureci e claro hoje me sinto muito melhor preparado para poder exercer o mandato de deputado estadual. Ao mesmo tempo, acredito que temos desafios muito grandes. É interessante assumir o mandato justamente num período que há um profundo descrédito em relação aos políticos. Eu, pessoalmente, acredito que essa legislatura, tanto na Assembléia Legislativa do Paraná quanto nas outras assembléias, na Câmara dos Deputados, no Congresso Nacional, os políticos vão ter que ter a capacidade de dar transparência na sua atuação e com muita interlocução estabelecer uma nova relação com a sociedade brasileira.Gazeta do Paraná – A habitação continua a merecer atenção especial de governos. Sua experiência na Cohapar e as reivindicações do setor balizarão sua atuação na Assembléia Legislativa?Romanelli – Eu fui responsável pela política habitacional do Paraná nas duas gestões do governador Requião. Nessa última gestão, com uma equipe qualificada, colocamos em prática uma política habitacional inovadora, reconhecendo que é impossível falar em política habitacional se não tratar da questão das ocupações irregulares, da regularização fundiária. Também não podemos mais querer fazer programas habitacionais que não sejam projetos diversificados, ou seja, temos que dar direito de escolha às famílias no momento em que elas vão fazer a aquisição da casa própria. E também, é claro, pela primeira vez fizemos um programa de habitação rural, além dos programas de família indígena, que resgatou a dignidade desses povos que viviam numa situação extremamente precária. Eu tenho como um primeiro projeto a criação de um fundo estadual de habitação de interesse social e de regularização fundiária. É necessário dotar o estado de um instrumento perene de financiamento de unidades habitacionais. O Paraná é um estado que tem grande potencial para promover uma política habitacional mais ampla principalmente em função das parcerias que podemos fazer e estamos fazendo com o governo federal. Gazeta do Paraná – O senhor disse que são grandes os desafios que devem ser enfrentados, e quais são os desafios que Paraná tem que enfrentar nos próximos quatro anos?Romanelli – Eu sou por natureza um inquieto, inquieto em relação ao mundo em que vivo e tenho uma preocupação com o futuro da sociedade. Reconhecidamente, vivemos uma época de mudança acentuada, fruto do desrespeito que tivemos com a natureza. Não trabalhamos nos conceitos de sustentabilidade ambiental e o resultado está aí. O Paraná teve três estiagens sucessivas que foram muito ruins para a economia. Além disso, ainda continuamos experimentando um crescimento populacional sem precedentes e criando grandes bolsões de exclusão. O grande desafio é promover a inclusão social, de uma forma muito mais ampla. Temos que reconhecer a profunda diferença entre as regiões paranaenses. Temos regiões onde o Estado tem que desenvolver uma política de desenvolvimento econômico e social para poder de fato garantir maior estabilidade social. E ao mesmo tempo temos outro desafio em relação aos jovens. Temos que dar oportunidades na vida desses jovens. Por isso que defendo que o governo tem que continuar fazendo aquilo que está fazendo muito bem feito, definindo como prioridade especialmente as áreas da educação e da saúde. Mas como sou inquieto, acho que o nosso grande desafio está nesta questão da geração de emprego. O Estado tem que ter uma participação mais efetiva nesse processo e defendo uma intervenção maior do Estado na economia para que possamos fazer com que, especialmente os jovens, tenham uma oportunidade na vida. Gazeta do Paraná – A Assembléia teve uma das maiores renovações. Deputados eleitos. A relação do governador Requião foi muito sincera, direta, o governador não aceitou barganhas, conchavos e troca de interesses. O senhor será um dos articuladores do Governo junto aos deputados, como se dará essa relação no terceiro governo Requião?Romanelli – Essa relação vai ser mais franca e mais direta ainda da que foi no segundo governo. Até porque o governador tem insistido que o compromisso que ele tem é de fazer o melhor governo da história do Paraná. Isso pressupõe um debate franco, aberto, transparente e as contradições que têm que ser superadas. Há, no entanto, setores que se acostumaram à privilégios. E quando você faz um governo de esquerda, atende a maioria, não vai atender setores que historicamente se acostumaram aos privilégios. Esse debate se dará porque a Assembléia é composta por representantes de todos os setores da sociedade, inclusive os setores privilegiados. Agora temos que avançar na discussão da democracia. A democracia representativa é um modelo esgotado. Não basta mais só eleger o deputado, o governador, tem que se avançar nisso. Eu acredito na democracia participativa, na participação popular e no controle social das instituições. Hoje, temos a democracia direta – além do plebiscito e do referendo, constitucionalmente previstos -, através da comunicação instantânea. O exemplo claro está na internet em que a cidadania participa de forma muito direta e efetiva, cobrando posturas de políticos e outros setores da sociedade. Então, esses avanços têm que ser incorporados nesses processos. E a Assembléia Legislativa tem que estar aberta, criar de fato a TV Assembléia, dispondo pontos de vistas sobre os diversos temas que sociedade quer debater. Fazer esse processo com muita transparência e que o debate seja o mais aberto e franco possível. Gazeta do Paraná – O senhor foi eleito em dezembro vice-presidente do PMDB e ocupou a secretaria-geral do partido por três anos. O PMDB saiu vitorioso da última eleição – reelegeu Requião e bancadas maiores na Assembléia Legislativa e Câmara dos Deputados -, mas perdeu nas grandes cidades. O senhor que se identifica com a esquerda do partido, como se dará as eleições destas grandes cidades?Romanelli – O primeiro governo Requião combateu as políticas neoliberais e promoveu a inclusão social. Isso foi o eixo estruturante do governo que agora tem que avançar e consolidar, através da participação popular, uma alternativa ao modelo de exclusão tanto o ponto de vista da economia como na questão social. E as eleições municipais deverão muito fortemente trazer de novo essa discussão de forma mais abrangente e localizada em cada cidade paranaense. O PMDB tem hoje, a eleição mostrou isso, um forte apoio nos pequenos municípios onde ganhamos, além de crescermos também bem nos médios municípios, mas temos um grande desafio nas grandes cidades. Há um perfil de eleitor das grandes cidades que é um sujeito de classe média emergente – a nossa economia, a despeito de tudo, tem crescido -, e os candidatos apresentados pelo partido não se comunicaram bem nas eleições de 2004. Agora partido já reconhece que há um outro perfil de eleitor nessas cidades e vamos buscar candidatos identificados com este perfil, além de preparar boas chapas para disputar as eleições proporcionais de vereador. Reconhecendo esse tipo de exigência que o eleitor faz no perfil dos candidatos, que é o perfil de pessoas qualificadas, que não são políticos que fazem carreira profissional, que são pessoas que se destacam na sociedade. E nós temos que ter capacidade de interlocução. Temos hoje a sociedade civil organizada, que inclui as igrejas, os movimentos sociais, as associações comerciais – que são muito fortes, muito atuantes e essas forças sociais têm grande influência no processo eleitoral. Gazeta do Paraná – O senhor está lançando o livro “O Direito da Moradia à Luz da Gestão Democrática” que trata de modelos de gestão. Qual modelo o senhor defende?Romanelli – O livro mostra o seguinte: temos que utilizar todos os instrumentos para fazer essa intervenção, do ponto de vista saudável, do Estado na economia. Temos que promover políticas públicas que - ao mesmo tempo em que melhoram a qualidade de vida das pessoas - possam promover a inclusão ao mercado de trabalho, especialmente dos jovens. O que promovemos em termos de política habitacional é justamente nesse sentindo. Mas eu estou convencido que temos que ter de fato uma capacidade de nos reelaborar porque a economia, no modelo capitalista, competitivo, ela não basta por si para resolver, está provado e documentado, a profunda desigualdade social, a falta de oportunidades que temos na sociedade. Nós temos que ter esta capacidade de fazer isso através de um amplo debate, criando grupos que possam estar participando de forma democrática, da formulação desses programas, debatendo com a sociedade, explorando as potencialidades. Por isso que o livro que escrevi trata justamente de você poder reconhecer que novos modelos têm que ser construídos para que possamos ter de fato uma sociedade muito mais justa.

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