A região Central do Paraná, que concentra um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado, está totalmente fora dos investimentos do governo estadual nos chamados “Arranjos Produtivos Locais” (APL), que prevêem recursos na ordem de US$ 16,6 milhões como apoio a projetos de geração de emprego e renda. A denúncia foi feita pelo deputado Fernando Carli Filho (PSB), em pronunciamento na última terça-feira (22) na Assembléia Legislativa. De posse de uma revista que mostra o mapa do Paraná e os locais onde serão aplicados os recursos, editada pela Secretaria de Estado da Indústria, do Comércio e Assuntos do Mercosul, o parlamentar apontou o “vazio” de investimentos estaduais no Centro do Paraná, na maioria municípios da microrregião de Guarapuava. “É simplesmente impossível entender e aceitar que uma região inteira fique de fora do único programa estadual que pretende ser um projeto de desenvolvimento, que pretende ser um apoio aos empreendimentos locais”, observou Fernando Carli Filho, lembrando que a Região Central vive uma situação paradoxal, acusando altos índices de produção e produtividade agrícola e, simultaneamente, a maior concentração de pobreza do interior paranaense. O parlamentar defende a criação de projetos regionais de desenvolvimento, em todo o Estado, levando em conta o perfil econômico e social de cada região, explorando suas potencialidades e necessidades prementes. Em sua analogia, chamou atenção para o alto índice de criminalidade nos grandes centros urbanos, em especial Curitiba, a seu ver motivado numa ponta pelo crescimento populacional das cidades, com aumento das demandas sociais, e da outro pelo êxodo rural no interior. Esse desequilíbrio, segundo ele, se conduz pela ausência de incentivos às iniciativas empresariais nas pequenas e médias cidades, à falta de projetos agroindustriais e a uma política de fomento nos núcleos agrícolas.FALTAM PROJETOS“É espantoso que o governo, até hoje, estando no seu segundo mandato, não tenha um projeto para o crescimento sustentável do nosso Estado”, salientou o deputado, lembrando das dificuldades enfrentadas pelas prefeituras, que são as primeiras instituições públicas a sentir o reflexo dos problemas sociais, já que o governo não tem projetos “mais consistentes” para a diversificação e fortalecimento da economia estadual como tudo. “É simplesmente impossível conceber que uma prefeitura, com seus parcos recursos, consiga dar conta do volume de investimentos necessários à implantação de novas unidades fabris, do incentivo ao comércio e à prestação de serviços”, advertiu.Referindo-se ao programa “Arranjos Produtivos Locais”, Fernando Carli Filho considera a iniciativa temerária, por depender de financiamentos externos e por não envolver trabalho de estudos e pesquisas acadêmicas na descoberta de novas alternativas sócio-econômicas. Do total de recursos previstos, US$ 10 milhões estão sendo captados junto ao Bando Interamericano de Desenvolvimento (BID), US$ 5,6 milhões do Sistema Fiep/Sebrae e US$ 1 milhão como contrapartida do governo do Estado. O deputado afirma que o governo estadual transformou-se num “repassador” de recursos, enquanto os municípios têm demonstrado capacidade de gerar e gerenciar suas próprias fontes de rendas, bastando contar com mais apoio para se desenvolverem. “O que temos visto são iniciativas das próprias prefeituras, esforços isolados que poderiam estar respaldados em programas de grande alcance, com incentivos do governo federal e do governo do Estado”, propôs ele. “Programas que aproveitassem o potencial adormecido das nossas regiões e as transformassem em verdadeiros pólos de desenvolvimento, gerando emprego e renda, com estímulo à formação e aperfeiçoamento de mão de obra e o aproveitamento dos profissionais que saem anualmente das nossas universidades” – acrescentou.PROPOSTASAlém de ampliar os “Arranjos Produtivos Locais”, com a inclusão dos municípios não-contemplados, Fernando Carli Filho sugeriu que o governo desenvolva pesquisas calcadas nas realidades locais, procurando novas fórmulas de desenvolvimento, e que aproveite programas federais como suporte para esses trabalhos. Ele cita um estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que classifica regiões de investimentos com base em sua “capacidade adormecida”, apoiando empreendimentos empresariais com linhas especiais de crédito, e também o programa “Territórios de Cidadania”, voltado para o crescimento das unidades do meio rural. Acrescente-se a isso os projetos das prefeituras municipais e das próprias empresas, que já vêm executando seus projetos naturalmente.Fernando Carli Filho foi enfático na importância da interiorização dos investimentos, reputando essa fórmula como determinante para estancar os problemas sociais nos grandes centros urbanos e a desesperança do homem interioriano, que convive com a pobreza em meio à riqueza. “Não são localidades apenas com problemas sociais. São, acima de tudo, localidades com um potencial de crescimento muito grande, maior que os problemas, e que precisam de investimentos para que possam dar vazão a essa capacidade reprimida”, sentenciou o parlamentar.