Senhora presidente, senhores deputados... Subo a esta tribuna para simplesmente fazer um registro, retornando a 31 de março de 1964. Naquela época aqui no Brasil, tínhamos um governo legítimo, que saiu das urnas, mas uma campanha das elites do Brasil, daqueles que não abriam mão de nada, fez com que tivéssemos aqui um golpe militar contra as instituições. Aqui, deputados, está nesta tribuna o Vitório Sorotiuk. Lá naquela época do Golpe Militar, Sorotiuk comandava o Diretório Central dos Estudantes (DCE), a do Hugo Simas e era dirigente do DCE. Pois bem, por ir as ruas como eu fui e tantos outros fomos, ele foi preso e ficou dois anos e 10 meses na cadeia, porque se levantou contra a ditadura militar que estava se implantando. Teve que ir embora do país, foi para o Chile, ficou exilado na Europa, como ficou o José Serra que hoje está pretendendo ser presidente da República, o (Miguel) Araes, o (Leonel) Brizola, tantos outros companheiros tiveram que fugir do país, senão seriam assassinados como tantos outros foram assassinados. Lembro-me, senhora presidente, que naquela época, também tínhamos parece que uma combinação, aqui neste país. As instituições foram atacadas de cima embaixo, queriam destruí-las. Logicamente que para destruir as instituições precisavam golpear as câmaras municipais de vereadores, as assembléias legislativas, o Senado, a Câmara Federal. Fizeram tudo isso por quê? Porque o povo brasileiro estava se organizando. Os trabalhadores estavam sendo sindicalizados para defender os seus direitos, para alcançar neste país, o mínimo de dignidade. As mulheres se concentravam na Federação Nacional das Mulheres, os estudantes na União Nacional dos Estudantes. Então aqueles que mandam no país, ou pelo menos mandavam de maneira muito grande, desde 1500, resolveram golpear as instituições. Nós fomos taxados de quê? De inimigos do Brasil. Nós éramos subversivos. Nós queríamos destruir a Nação, para entregar a Nação, né, Deputado Anibelli, a União Soviética. Até hoje decorridos todos esses anos, eu não vejo nada daquilo na prática que eles diziam que iria acontecer, acontecendo. Então foi uma campanha estudada, planejada, com a presença hoje, com a vinda a público de documentos secretos do governo norte-americano, a gente vê a presença da Embaixada Americana, dos dirigentes americanos na feitura do golpe militar, esta contra-revolução que foi desencadeada, aqui, no dia 31 de março de 1964. Não tem importância nenhuma, mas lembro que neste dia eu estava, juntamente com os trabalhadores do Sindicato dos Ensacadores de Café de Arapongas, fazendo uma manifestação contrária ao golpe militar que estava sendo desencadeado. Lá na Prefeitura Municipal da minha cidade (Arapongas), naquela época, estavam lá o Judiciário, o Ministério Público, o prefeito, todos os vereadores. Menos eu. Estavam todos lá, agachados diante daqueles que estavam rasgando as leis, a Constituição que imperava aqui no País. Então, muitas vezes falam assim: “olha, mas você está brabo?” Não! Estou indignado, porque eu tive companheiros que foram assassinados e nós não vamos nos esquecer nunca disto! Nunca! Os da imprensa: qual a liberdade que eles tinham de colocar seus pensamentos? O que é que fizeram com o Chico Buarque, com o Caetano (Veloso), com o (Gilberto) Gil? Tiveram que ser corridos do País. E parece que tem gente que tem saudades destes tempos malditos da ditadura militar aqui no País. Olha, sem lei impera a selva. Se nós não tivermos instituições fortes e respeitadas, a democracia corre risco novamente. E Ulysses Guimarães, quando promulgou a Constituição de 1988, ele ao nosso lado lá, os constituintes, falou mais ou menos isso: “nós temos ódio e nojo à ditadura!” “Nós queremos que das urnas nasça o verdadeiro poder, para que aqueles que estão legitimados pela democracia possam governar os municípios, o Estado e o País. Mas, não queremos a volta do regime discricionário. Nem aqui e nem em nenhum lugar do mundo. É isto o que nós pretendemos.” Portanto, companheiros, alguns viveram estes momentos. Alguns foram sacrificados. Lembro-me até aqui, nesta Tribuna, quando estava falando a respeito do assassinato que as autoridades fizeram, quando mataram o (jornalista) Wladmir Herzog. E em defesa, o Rabino (Henry) Sobel se negou a fazer o sepultamento do Wladmir Herzog no espaço, lá no cemitério dos judeus, onde está reservado para aqueles que se suicidam. Ele falou: “não vou enterrar o Herzog neste espaço porque ele não se suicidou; ele foi assassinado pela ditadura militar”. Dali alguns dias o mundo tomou conhecimento que aqui no País se matava aqueles brasileiros que discordavam do governo que estava implantado, aqui, de maneira irregular e ilegal. E aí o Rabino e D. Paulo Evaristo Arns, lá na Catedral de São Paulo, fizeram um ato ecumênico e dali para frente a ditadura perdeu força, ela foi derrapando para a lata do lixo, que era o lugar onde ela deveria chegar. Esta é a nossa visão. Como nós estamos num país plural, como é o meu Partido, onde as idéias podem vicejar, mesmo sendo contraditórias, quero dizer que esta é a nossa verdade. Nós não concordamos nunca com aquilo que fizeram no dia 31 de março de 1964. Éramos muito jovens, mas aqueles acontecimentos ficaram na nossa memória. E nós não esqueceremos nunca mais daqueles anos de chumbo a que foram submetidos todos os brasileiros! Muito obrigado!