Ninguém deixa de ser celíaco, mas pode deixar de ser doente O alerta foi dado por profissionais da saúde durante o ciclo de palestras promovido pela Escola do Legislativo da Assembleia.

11/05/2023 17h04 | por Jaime S. Martins
Ciclo de palestra aconteceu na manhã desta quinta-feira (11), no Auditório Legislativo.

Ciclo de palestra aconteceu na manhã desta quinta-feira (11), no Auditório Legislativo.Créditos: Orlando Kissner/Alep

Ciclo de palestra aconteceu na manhã desta quinta-feira (11), no Auditório Legislativo.

A doença celíaca atinge 1% da população mundial, mas os profissionais alertam que esse número pode ser maior, visto que muitos não são diagnosticados. A doença atinge as pessoas de qualquer idade e gênero, é uma doença autoimune, sistêmica e genética, ou seja, a pessoa nasce com o gene, podendo ele se manifestar ou permanecer adormecido.

Para esclarecer as causas, sintomas e cuidados que a pessoa celíaca precisa ter, a Escola do Legislativo da Assembleia Legislativa do Paraná promoveu um ciclo de palestras nesta quinta-feira (11), presencial no auditório legislativo e on-line via Zoom, o que permitiu a participação de pessoas de diversas partes do país.

Durante o evento, três profissionais da área de saúde e especialistas no tratamento, falaram sobre a doença, a importância da socialização e, principalmente, a superação após o diagnóstico. E alertaram que existe vida saudável após o diagnóstico, basta ter conhecimento e conscientização.

“Quanto mais a gente fala da doença celíaca, mais as pessoas querem saber sobre ela. De tanto se falar, percebemos hoje esse movimento para difundir as informações”, disse a médica gastroenterologista Danielle de Castro Kiatkoski. “É uma doença que atinge 1% da população, mas a cada pessoa diagnosticada, temos oito sem diagnóstico, que provavelmente é familiar desse celíaco. É uma doença genética, a pessoa nasce com a predisposição genética e a doença se desenvolve se houver a ingestão de glúten ao longo da vida”, explicou.

A médica Danielle alertou ainda que gatilhos emocionais podem contribuir para o surgimento da doença. “Depois da pandemia tivemos um aumento de doenças autoimunes. Toda doença sistêmica, como a covid-19, que altera nosso sistema imune pode ser um gatilho para outras doenças autoimunes. Houve um aumento do surgimento da doença celíaca porque o gatilho pode ser emocional, como o luto, um casamento, a gestação ou ambiental, por exemplo”.

Os sinais e sintomas, segundo a profissional, vão desde dor e extensão abdominal, queda de cabelo, infertilidade, anemia, perda de peso, diarreia ou constipação, déficit de crescimento, osteoporose, fadiga crônica e aftas de repetição. “Essa pluralidade de sintomas dificulta o diagnóstico. Pacientes levam até 15 anos para obter um diagnóstico preciso. São 15 anos de dificuldade, de desconforto. É uma doença complexa, de difícil diagnóstico e adesão ao tratamento. O único tratamento conhecido hoje é a dieta alimentar. A comida de verdade não tem glúten. É preciso descascar mais e desembalar menos. É preciso inserir alimentos in natura na dieta do paciente”, finalizou

Falando em dieta alimentar, na sequência, a nutricionista clínica funcional, Mariane Rovedo, destacou a importância no preparo dos alimentos, a fim de evitar a contaminação cruzada, e a necessidade de os celíacos se socializarem. “O remédio é a informação, a conscientização e o juízo. É possível ter uma vida mais livre com informação e o lado bom é que não precisa tomar remédio, só juízo. É uma doença em que o paciente tem a escolha de querer ser doente ou apenas portador da doença”.

Mariane disse que é preciso aprender a andar com o “kit sobrevivência” do celíaco: pratos, talheres, copos, toalha e até mesmo uma esponja de lavar louça para não ocorrer a contaminação cruzada, que é quando uma partícula de um alimento com glúten encosta em algum alimento sem glúten. “O diabético tem um antídoto, que é a insulina, para o glúten não existe. É preciso o cuidado!”, e fez o alerta para que as pessoas se informem sobre os produtos a serem consumidos, os lugares onde irá visitar, os hotéis que irá se hospedar e deu várias dicas para que os celíacos não se privem e possam viajar, se divertir e se socializar sem problemas. “Em casa é possível deixar tudo isento do glúten, mas na vida social é quando ele sente mais. Não existem furos na dieta. Tem que ser prevenido, sempre levar marmita, se antecipar com os eventos, ver o que será servido e tentar levar o mais parecido possível para não ter o impacto social e emocional. Várias maneiras que dá para ele ressignificar isso”.

Legislação

No Paraná existem leis, que foram aprovadas pelos deputados estaduais na Assembleia Legislativa, com o objetivo de facilitar a vida das pessoas celíacas. Como a lei 19.499/2019 que determinou que os estabelecimentos comerciais disponibilizem em local único, específico e com destaque os produtos destinados aos celíacos. Já a lei 15.537/2007, obriga que as instituições da Rede Pública de Ensino Estadual forneçam merenda diferenciada para estudantes clinicamente considerados celíacos. Além da lei 18.705/2016 que instituiu no estado do Paraná o Dia Estadual do Celíaco, a ser realizado anualmente no dia 20 de maio.

“Essas legislações contribuem demais. Essas leis em torno do celíaco são importantíssimas. Sou celíaca há 15 anos, peguei a época em que não tinha nada no mercado. Hoje é um paraíso para o celíaco poder chegar ao mercado e encontrar coisas seguras, de marcas seguras. Ainda precisamos de mais leis, principalmente no que diz respeito ao laudar os produtos e quantificar a presença de glúten”, disse a nutricionista Mariane Rovedo. “Tem empresas que ainda pecam. O ideal seriam que fábricas que fazem alimentos sem glúten fossem isoladas de outra produção. Se existe qualquer tipo de compartilhamento na produção deve-se laudar lote a lote, mas a gente sabe que isso custa caro e nem todas as empresas fazem. Para isso a gente precisa de uma lei que determine a quantificação de glúten e empresas que laudem. Enquanto não existe essa lei, tem marcas que rotulam apenas pela lista de ingredientes. É uma caminhada, mas já melhorou demais”, finalizou.

Superação

Superando o diagnóstico da doença celíaca foi o tema apresentado pela psicóloga Dinadéia Brandalizze que alertou que depressão, ansiedade e síndrome do pânico podem estar correlacionadas ao glúten e à doença celíaca. “Meu trabalho é atender pessoas e fazer com que compreendam e façam o processo de aceitação das mudanças todas que terá que fazer na vida. A vida está sem saúde e não dá para continuar como era antes. As mudanças são essenciais para que você saia de um quadro de doença para a saúde. De doença para a condição celíaca, que é quando não existem mais os sintomas. Uma vez celíaco, sempre celíaco. Ninguém deixa de ser celíaco, mas pode deixar de ser doente. Esse é o principal objetivo psicológico, que as pessoas enfrentem e adaptem a sua vida sempre em prol da saúde física, mental e emocional”.

Segundo a psicóloga, a vida social não deve ser deixada de lado, apenas ser adaptada em momentos em que a confraternização envolver alimentos. “A vida social muda na alimentação. Isso a gente precisa se conscientizar. Nunca se isole, nunca entre numa bolha celíaca por causa de comida. Comer a gente come todos os dias, várias vezes ao dia. Estar em um evento com amigos que amamos independe da comida, mas vai ter que adaptá-la. Levar a comida, comer algo antes de sair de casa e nunca se expor ao glúten em troca do social”.

Foi o que a jovem Daniella Almeida relatou durante o evento. Ela que se descobriu celíaca em 2014, e após um período de rejeição da doença, resolveu reagir e hoje ajuda outros celíacos através de um perfil em uma rede social, onde fala sobre a doença. “A conscientização começa pela gente. Falando sobre a doença celíaca, sobre a nossa condição. Quanto mais pessoas souberem, mais fácil é. Para não recebermos comentários maldosos das pessoas que não entendem e, por inocência, não sabem. A importância de estarmos aqui é para falar sobre a doença, que a doença seja conhecida para que mais pessoas conheçam nosso dia a dia, o que a gente come e tudo o que a gente passa todos os dias”, explicou. “O celíaco tem vida normal, uma vida tradicional. Amor não tem glúten, a doença celíaca é algo simples, não é um bicho de sete cabeças e eu não tenho diagnóstico de doença, tenho diagnóstico de vida. Todos os dias a nossa condição nos traz vida novamente”, concluiu.

A coordenadora administrativa da Escola do Legislativo, Francis Fontoura, relatou a importância de debater o tema e de sempre se discutir a doença celíaca no legislativo. “A Escola do Legislativo geralmente aborda temas voltados ao legislativo, mas a Assembleia é a Casa do Povo e entendo que é nosso papel debater assuntos atinentes a toda a comunidade. Para nós da Escola é muito bom falar sobre isso, para que também possamos ampliar a nossa oferta de conteúdo”, disse. “A doença celíaca é sub-diagnosticada. Muita gente pode ter a doença, são vários sintomas e outras doenças em decorrência da doença celíaca podem aparecer e não imaginarem que são portadores. Acredito que esse debate, e essas leis que a gente está cada vez mais trabalhando para que existam, tragam essa conscientização e garantam o bem-estar dessa parcela da população”.

 

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