A voz mansa esconde um pouco do político combativo que defende com força as ideias, mas que prega, acima de tudo, a cultura da paz, de todas as formas.  Esse é o deputado Péricles de Mello (PT), presidente da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa e secretário do Conselho Parlamentar pela Cultura da Paz (ConPaz).  “A cultura de paz está na forma de governar, nos direitos humanos, na questão da saúde, na área ambiental, na educação, no respeito às diferenças. Uma forma pacífica de transformar conflitos”, disse, logo no começo da entrevista à Rádio Assembleia.

Além de disseminar a cultura da paz, o Conselho, um movimento que surgiu na UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação e Cultura), tem a meta de construir uma sociedade mais justa prevenindo a violência.  A exemplo dos Conselhos Comunitários de Segurança, a ideia, segundo Péricles, é criar Conselhos de Paz nos bairros do Paraná, por meio de um projeto de lei. “Uma maneira de contribuir ainda com a justiça restaurativa, que tem diminuído os conflitos pelo diálogo, com a participação de mediadores”, disse.  

O interesse por política vem de família e do movimento estudantil, do qual Péricles participou no fim da década de 1970, quando fazia faculdade de Engenharia Civil.  Antes disso, dentro de casa, cresceu observando a mãe, entusiasta e participante do Grupo dos Onze, que eram comandos nacionalistas concebidos por Leonel Brizola no fim de 1963, pela resistência democrática e pela defesa das chamadas Reformas de Base. Tendo na formação o mesmo número de integrantes de um time de futebol, imagem de fácil assimilação e apelo popular, Brizola pregava a organização de pequenas células – com onze cidadãos cada, em todo o país – que poderiam ser mobilizadas sob seu comando, em apoio às políticas de João Goulart. O lema era esse: “Defender as conquistas democráticas da população, pedindo as reformas agrária e urbana e a libertação da pátria da espoliação internacional. ”

A posição de esquerda foi mantida e, anos depois, Péricles participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), partido pelo qual foi eleito duas vezes vereador, prefeito de Ponta Grossa, nos Campos Gerais, e   deputado estadual.   Foi professor de Planejamento Urbano, área na qual se especializou. E adiantou, ao longo da entrevista: “Quero voltar a ser professor depois que deixar a cadeira de deputado”.  
No ritmo do tango – Durante o bate-papo, Péricles acabou dando uma aula sobre o  tango. Disse que se engana quem pensa que o ritmo é argentino. “O tango, na sua essência, é gaúcho. Surgiu nos pampas, vegetação que também predomina em algumas regiões da Argentina. Por isso a proximidade”.    Outra herança que veio de família. Contou que um tio, nos últimos dias de vida, no leito de um hospital, pedia para ouvir tango.  

Péricles passou então a estudar o ritmo e assim uniu as paixões pela história do tango com a literatura. “Sou um leitor assíduo e escrevo poesia”.

E teve muito mais. O parlamentar, que tem nome de estadista grego, se derramou ao falar das netas e comparou esse amor a um sentimento que não se cansa de pregar: a paz. “Ser avô pacifica muito”. E concluiu deixando, claro, uma mensagem de paz: “Estamos num século trágico. Num momento de fundamentalismo religioso, terrorismo. É preciso que as pessoas se envolvam na cultura da paz, porque ela é mais que necessária”. Para saber mais sobre esse bate-papo dos mais “pacíficos”, basta ouvir a entrevista na íntegra aqui no site da Assembleia, ou em uma rádio da sua região.