
A pesquisadora da Embrapa Soja Londrina e professora da UEL, Mariangela Hungria Cunha, será homenageada com o título de Cidadã Honorária do Paraná. Projeto de lei que concede a honraria foi protocolado ontem (dia 26) pelo deputado estadual Tercilio Turini (MDB) e o presidente da Assembleia Legislativa, Alexandre Curi (PSD), com a assinatura dos deputados Cloara Pinheiro (PSD), Mauro Moraes (União), Anibelli Neto (MDB), Jairo Tamura (PL), Luciana Rafagnin (PT), Batatinha (MDB), Cobra Repórter (PSD), Moacyr Fadel (PSD), Hussein Bakri (PSD) e Luiz Claudio Romanelli (PSD).
A cientista é a primeira mulher brasileira a conquistar o Prêmio Mundial de Alimentação (World Food Prize), reconhecido como o “Nobel da Agricultura". A premiação anunciada em 13 de maio nos Estados Unidos destaca anualmente personalidades que contribuem nos avanços em qualidade e disponibilidade de alimentos no mundo.
O projeto de lei argumenta: "A família, a ciência, a agricultura, a força das mulheres, o Brasil e o Paraná. São amores que se entrelaçam na vida e na trajetória profissional de sucesso da pesquisadora Mariangela Hungria da Cunha", acrescentando que a homenageada declara em entrevistas e nas conversas com amigos: "O Paraná é o estado que escolhi para viver, para fazer minha carreira, que eu tenho muito orgulho. Eu vim para cá porque era um estado agrícola. Eu queria fazer agricultura e uma agricultura sustentável.”
Os proponentes ressaltam a relevância da homenagem: "O Paraná é que tem muita honra em acolher uma mulher como Mariangela Hungria, nome que adotou no meio científico e que tanta representatividade e destaque já trouxe ao estado. Para felicidade dos paranaenses, foi na nossa terra que a pesquisadora deslanchou com seus estudos, experimentos e as novas tecnologias que hoje chegam a todo o Brasil e a muitos outros países. Foi do Paraná que saíram inovações para a agricultura e a produção de alimentos, como resultado do trabalho da ilustre cientista" - descrevem os autores.
Perfil
Mariangela Hungria nasceu em São Paulo e foi direto da maternidade para Itapetininga, onde vivia a família. Passou a infância na cidade do interior paulista, ali iniciou os estudos e - por influência dos avós - despertou para a ciência. Brincava de "fazer experiências" com a avó professora, de quem ganhou um livro sobre microbiologistas. Nos passeios com o avô, observava plantações nos arredores do município. Assim, desde criança vislumbrou o mundo da microbiologia na agricultura. E já se sobressaía na escola.
A mãe também professora decidiu levar a filha e o filho para a capital São Paulo em busca de melhores condições de educação. Mariangela conquistou bolsa de estudos num colégio forte, mostrando potencial. Despontou pela inteligência, talento e dedicação, até concluir a formação colegial. Decidiu fazer faculdade de Agronomia, numa época em que predominavam os homens na profissão. Seguiu convicta e passou no vestibular da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a conceituada ESALQ da Universidade de São Paulo (USP), a melhor do Brasil.
A graduação, o nascimento das filhas, o mestrado, o doutorado, a batalha de muitos anos. Tantos desafios na evolução acadêmica, na formulação de pesquisas, na atenção à família. Muita superação e perseverança. O pós-doutorado nos Estados Unidos e o convite para permanecer lá. A brasileira Mariangela declinou e voltou, porque tinha consigo o dever de retribuir todas as oportunidades que teve no seu país: bolsa de estudos no colégio, graduação e titulações em universidades e instituições públicas, a missão de fazer mais pela agricultura do Brasil e pelos brasileiros.
Em dezembro de 1982 entrou na Embrapa, o primeiro emprego onde trabalha até hoje. Chegou ao Paraná em 1991 para atuar na unidade da Embrapa Soja em Londrina. No ano seguinte iniciou a carreira de docente na Universidade Estadual de Londrina, a UEL. Desde as investigações científicas iniciais no universo da microbiologia, ainda na fase acadêmica, e depois nas descobertas em laboratórios e aplicações em campos experimentais do mais importante centro nacional de pesquisa de soja, a produção de inovação e tecnologia para a sojicultura é fenomenal.
Mariangela Hungria contabiliza, por enquanto, cerca de 400 publicações científicas e mais de 150 documentos técnicos, livros e capítulos de livros. Centenas de palestras e muitas jornadas de interação com produtores em dias de campo. Conhecimento e práticas que chegam aos agricultores em linguagem acessível para aplicação de novas tecnologias nas lavouras. Dezenas de prêmios e honrarias internacionais, liderança em entidades da ciência, titularidade em comissões e entidades de pesquisa agrícola, viagens a muitos países para difundir inovação produzida no Paraná em temas como insumos biológicos e produção de alimentos.
Resultados
A eficiência da ciência e da tecnologia desenvolvidas pela cientista Mariangela Hungria tem impacto extraordinário na agricultura: atualmente representa uma economia estimada de mais de 25 bilhões de dólares por ano, com a redução de gastos em fertilizantes químicos que deixam de ser usados nas lavouras. Os insumos biológicos são aplicados em mais de 30 milhões de hectares no Brasil. Um alento para a natureza também, com menores índices de elementos poluentes e preservação dos recursos naturais: solo, água, alimentos mais saudáveis e qualidade de vida.
O projeto de lei segue para tramitação nas comissões antes de chegar ao plenário para aprovação. Depois vai para sanção do governador Ratinho Junior. Na sequência, a Assembleia Legislativa agendará a solenidade de entrega do título de Cidadã Honorária do Paraná à cientista "pé-vermelho" Mariangela Hungria Cunha, que há 34 anos vive em Londrina. "Daqui para frente, oficialmente uma paranaense de coração e registro" - comentam os autores da homenagem.