Preconceito com tratamentos de saúde mental ainda é entrave para combate ao suicídio Tema foi debatido no lançamento do Fórum Paranaense de Prevenção e Pósvenção do Suicídio promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Paraná.

25/08/2021 11h11 | por Claudia Ribeiro
Deputado Tadeu Veneri (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Paraná

Deputado Tadeu Veneri (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do ParanáCréditos: Reprodução.

Deputado Tadeu Veneri (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Paraná

“O preconceito em torno do tema suicídio é um dos principais fatores que corroboram para o crescimento dos números, especialmente de homens, que têm mais dificuldade em pedir ajuda que as mulheres. O primeiro passo é deixar de lado essa falácia de que uma terapia é “frescura” ou “mi mi mi”. Desmistificar a área da saúde mental. As pessoas precisam cada vez mais de ajuda profissional. E elas podem e merecem esse tratamento. E no caso da tentativa propriamente dita, a forma de acolhimento por parte dos profissionais tem se mostrado eficaz até em evitar uma provável reincidência”, afirmou Diógenes Martins Munhoz, major do Corpo de Bombeiros de São Paulo e diretor da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio e idealizador do curso e da técnica de abordagem técnica “A tentativa de suicídio”, que tem várias publicações sobre o tema da suicidologia, durante o lançamento do Fórum Paranaense de Prevenção e Pósvenção promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Paraná.

Ele explicou o tema pelo prisma da urgência e emergência, que é o atendimento a pessoas que tentaram o suicídio. Após dez anos de estudos, em 2015 lançou o curso, que considera uma nova ferramenta para auxiliar na humanização desse atendimento, que envolve uma gama de profissionais: bombeiros, trabalhadores do SAMU, da urgência e emergência, policiais militares, socorristas, enfermeiros, médicos, que acabam atendendo a um número muito grande de pessoas que tentam suicídio no Brasil. “Antes de desenvolvermos essa técnica, buscávamos como tática distrair essa pessoa no momento da abordagem. E não importava quem era esse tentante. Só pensávamos em fazer com que desistisse. Mas e depois?“, contou.

Foi com o pensamento de dar condições para que esse tentante (como são chamadas as pessoas que tentam suicídio) desistisse definitivamente da ideia, que surgiu essa forma de abordagem humanizada, como o acolhimento. Hoje, Corpos de Bombeiros de 19 estados utilizam. Com isso, Diógenes afirmou que em São Paulo, por exemplo, houve queda de 23% nas ocorrências que resultavam em mortes dos tentantes. “Nós mostramos a essa pessoa como ela é fundamental para sua família, para a sociedade, lançando mão de técnicas de psicologia, psiquiatria, e áreas afins”.

A pandemia e o suicídio - Também palestrou a psicóloga e especialista no tema, Karen Scavacini que, entre outros títulos, e funções, faz parte da diretoria da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio, é doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP e mestre em saúde pública e mental em prevenção ao suicídio, pelo Institute Karolinska, da Suécia. O tema trazido aos participantes do encontro foi “Suicídio e Pandemia”.  “Lembro que o suicídio tem relações com muitos fatores: relações sociais, culturais, econômicas, psicológicas e situacionais e a pandemia se tornou um destes fatores, como dentro do comportamento suicida”, indicou.

A especialista faz parte de uma organização internacional que abrange 41 países que estuda os números da Covid-19 e a relação da pandemia com os casos de suicídio. O objetivo é utilizar estratégias de prevenção antes e depois que a situação melhorar ou se resolver.  

Alguns fatores como o isolamento social, estresse dos profissionais de saúde e o distanciamento físico podem ter contribuído para o crescimento dos casos. “O impacto tem sido muito grande, inclusive com a desativação de serviços psiquiátricos, o que comprometeu o tratamento de pessoas propensas ao suicídio”, ressaltou.

Pesquisas apontam que alunos que se afastaram das escolas, o impacto da economia, desemprego e o luto também podem influenciar o comportamento suicida, que está ligado a uma situação de desamparo e desesperança.

Em relação aos números, Karen diz que ainda é cedo para que se tenha resultados práticos. Porém, segundo um estudo feito em diversos países, demonstrou que as tentativas não costumam ocorrer durante a crise, mas depois dela. Mas adiantou: em alguns destes países houve até redução ao longo desses quase dois anos. Caso da Austrália e Inglaterra, por exemplo. “Uma das conclusões do estudo é que isso vem ocorrendo em países com poder aquisitivo mais alto e com o fato dos tentantes estarem em casa com suporte familiar. Por outro lado, a mesma análise apontou que os números aumentaram entre mulheres, em alguns casos, pelo fato de que elas acabaram sobrecarregaras ao longo da pandemia”, avaliou.

Uma cartilha confeccionada a pedido da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre prevenção ao suicídio pode ser acessada no site portal.fiocruz.br.

Questionamentos - O público que assistiu o evento fez questionamentos e considerações aos palestrantes na parte final da audiência.  Entre os temas, os principais foram análises das ações governamentais frente à saúde mental, consideradas insuficientes; aumento de suicídios entre adolescentes devido ao Bullying; a ausência de diálogo e até a solidão; o papel da mídia no enfrentamento (equivocado, em muitos casos); a falta de preparo, até mesmo de profissionais que atuam na área; a discussão do tema durante todo o ano, não somente em datas específicas; o combate, a prevenção e o acompanhamento ostensivos, inclusive após uma tentativa de suicídio; e formas de abordagem próprias com equipes preparadas, como foi relatado que ocorre na Polícia Militar do Paraná.  Sugestões feitas serão utilizadas para transformarem em ações do Fórum.

O Fórum- O Fórum Paranaense de Prevenção e Pósvenção do Suicídio tem o objetivo de manter o debate permanente sobre o suicídio, propondo projetos para a geração de políticas públicas e provocar a discussão em toda a comunidade sobre ações que contribuam para a prevenção. “O Fórum vai funcionar como um canal de comunicação entre a população e o poder público, com participação dos segmentos do Poder Público estadual e municipal, sindicatos, movimentos sociais, redes da sociedade civil, familiares e cidadãos interessados na temática, estudantes e juventude, faculdades e universidades, entre outros. O objetivo é garantir a participação dos Conselhos Municipal e Estadual da Saúde, além de outros conselhos. Também será fundamental a participação de gestores, comunidade, além dos profissionais de outras áreas que não sejam da saúde: Assistência social, cultura, meio ambiente, já que as políticas públicas deverão ser feitas em interação com as outras políticas do estado e de municípios”, explicou Thais Diniz, assessora da Comissão de Direitos Humanos.

Como objetivos iniciais, o Fórum pretende mapear os órgãos representativos que atuam no tema, eleger uma equipe de trabalho e montar um plano de ação para o Fórum Estadual de Prevenção e Combate ao Suicídio. “Temos a intenção de promover eventos que vão acontecer durante todo o ano e em setembro, em razão do Setembro Amarelo, debater e reforçar a discussão em torno do tema e os seus efeitos para a população”, reforçou Thais.

Essa formação vem sendo debatida desde a audiência pública proposta pela ONG Decida Viver, de Maringá, em 2020. “Lembro que estamos no ano do centenário de nascimento de Paulo Freire, que dizia: no Brasil, manter a esperança viva é um ato revolucionário. E é o que nós estamos fazendo nesse momento. Lidar com um ato de suicídio marca a vida de qualquer pessoa”, observou o deputado Tadeu Veneri (PT), que preside a Comissão e conduziu a audiência. Ele também citou trechos de uma poesia do inglês John Donne: “Morremos um pouco a cada morte que presenciamos”. Isso serve um pouco para nós, porque cada vez que alguém que conhecemos nos deixa, nós também nos deixamos nele. E aqui temos vários especialistas que falam sobre isso”, completou.

 “Criar um Fórum como este é ressignificar a vida e representa um compartilhamento tanto das dores como do conhecimento. É um passo importantíssimo de valorização da vida e um descanso na loucura da vida, que só tem sentido se for vivida coletivamente “, finalizou Veneri.

Composição do Fórum - Tomaram posse como integrantes do Fórum, a psicóloga, especialista em Psicologia da Saúde, mestre em Psicologia Clínica, doutoranda, idealizadora e fundadora do Comitê de Prevenção e Pósvenção ao Suicídio da Secretaria Municipal de Saúde de Maringá, membro da diretoria da Associação Brasileira de Estudos sobre Prevenção do Suicídio, pós-graduanda em Traumas, Cuidados Paliativos e Processos Autodestrutivos, Raquel Antoniassi, como coordenadora; como secretária-geral,  Regina Aparecida de Paula, graduada em Geografia e Direito, pós-graduanda em Direito Eleitoral, professora da rede municipal de Maringá, assessora parlamentar e idealizadora da ONG Decida Viver e como vice coordenadora,  a psicóloga Tatiane Lori Alvim, coordenadora da ONG Decida Viver,  pós-graduanda em Traumas, formada em Tanatologia, mediadora da Comunicação Não-violenta, responsável técnica do Projeto Lutar e idealizadora do Projeto Sentido de Vida.

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