05/06/2008 14h20 | por
Distribuído em 05/06/08DEPUTADOS DISCUTEM POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ENFRENTAR A DEPENDÊNCIA QUÍMICAO uso e abuso do crack, visando divulgar e alertar as pessoas sobre este flagelo que vem ameaçando a sociedade, foi o tema da explanação feita pelo gerente administrativo da Comunidade Terapêutica Dia (CTDia), José Antonio Chardong, nesta quinta-feira (05) na Assembléia Legislativa. A discussão do tema “Dependência Química, uma questão de saúde pública” foi proposta pela deputada Rosane Ferreira (PV).Fazendo uso da tribuna, Rosane lembrou que recentemente os deputados estaduais estavam se questionando sobre os índices de criminalidade no Estado e a exposição do Mapa do Crime (Geoprocessamento) da Secretaria da Segurança Pública demonstrou que 80% das vítimas de homicídio doloso em Curitiba no ano de 2008 estavam envolvidas ou relacionadas com o “mundo das drogas”. A deputada chamou a atenção ainda para as diversas manchetes de jornais relacionadas ao uso ou envolvimento de pessoas com substâncias psicoativas.Segundo José Chardong, o crack é uma droga “poderosa”, pois o prazer acontece quase que instantaneamente após uma “pipada” (fumada no cachimbo). E como efeito, o usuário tem uma sensação de grande prazer, intensa euforia e poder. Contudo, logo após o desaparecimento desse efeito, que dura em média 5 minutos, ele volta a usar a droga, fazendo isso repetidas vezes, até acabar com a droga que possui ou com o dinheiro para consegui-la. “Isto leva o usuário a comportamentos ilegais para obter mais droga. E esse avanço se dá sobre todas as classes sociais. Depois de três meses, em média, a droga transforma ricos e pobres em moradores de rua, caso eles não recebam ajuda profissional e tenham acompanhamento da sua família”, explica. Chardong ressaltou a necessidade das políticas públicas de saúde, segurança e de cunho social caminharem juntas no trabalho de prevenção ao uso e abuso de substâncias psicoativas, e no tratamento de dependente químicos. “Executivo, Legislativo e Judiciário devem intervir e interagir para combater o crescimento exponencial do uso de substâncias químicas legais e ilegais”, afirmou.Dados levantados pelo CTDia revelam que 98% dos seus pacientes tiveram contato com as drogas/álcool com 11 a 12 anos de idade, e que experimentaram pela 1ª. vez com colegas de sala de aula. Também há registro que os respectivos pais desses alunos passavam a maior parte do tempo fora de casa. “Muitas dessas crianças são incentivadas pelos pais e avós a dar o primeiro golinho do seu vinho ou da espuma da cerveja, nas festas de aniversários, que são regadas com caipirinhas, cervejas e cigarros”, ponderou José Antonio.PROBLEMA – Mas, além do avanço em torno do uso das drogas consideradas lícitas, o gerente administrativo do CTDia revela que nos últimos anos, com o crescimento no número de usuários de crack, surgiram outros problemas no trabalho de prevenção e tratamento deles. “Estima-se, por exemplo, que cerca de 400 leitos foram extintos em Curitiba e região metropolitana. Além do mais, não há um espaço apropriado para crianças e adolescentes em processo de desintoxicação”, afirmou José Antonio Chardong, acrescentando: “Hoje, temos graves dificuldades no processo de internação. O crack chegou numa velocidade tão grande que quebrou todos os paradigmas. Cerca de 90% dos que nos procuram são usuários de pedra. E a pedra, quando vem, é para ficar. Então, a questão é saber como aplicar uma política de redução de danos num caso como esse”. O palestrante lembrou também que a sociedade sempre preza pela repressão, enquanto seria mais apropriado termos campanhas e ações sociais. “Nas escolas, por exemplo, muitos formadores e professores apontam que falta preparo psicossocial para enfrentar situações com alunos usuários de drogas”, disse. O deputado Marcelo Rangel (PPS) também destacou a seriedade do assunto e a necessidade das autoridades e sociedade acompanharem o assunto com maior atenção. “O avanço do crack, em especial, é grave e devemos buscar meios de evitar o tráfico e a dependência dessa droga pelas crianças. Ela se disseminou muito rápido e traz conseqüências gravíssimas aos seus usuários”, afirmou o parlamentar, citando exemplos de casos ocorridos na cidade de Ponta Grossa.Nesse sentido, o deputado Jocelito Canto ressaltou que “deve existir a consciência da família, de que a droga só leva a dois lugares: cadeia e cemitério”. Dados do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) indicam também que os maiores fatores protetores contra o uso de drogas são a família (78%), religião (75%), mídia (18%) e escola (13%).No final de sua exposição, Chardong destacou que “as drogas matam de várias maneiras e é preciso buscar a prevenção no conjunto de ações educacionais que serão colocadas em prática de maneira consistente, desde a pré-escola até o ensino médio, desenvolvendo na criança e no adolescente a capacidade de resistir à experimentação e uso de álcool e drogas”.