10/01/2006 14h22 | por Zé Beto Maciel
ENTREVISTA DO GOVERNADOR ROBERTO REQUIÃO À PARANÁ EDUCATIVAParceria com outros países do Mercosul – exportações pelo Porto de Paranaguá? Em que ponto isto poderá favorecer a economia do Paraná?Roberto Requião - Mais do que para o Paraná, para o Brasil. O desejo da integração latino-americana é um desejo presente hoje em todos os nossos países, na Argentina, no Brasil, Venezuela, Paraguai, Uruguai, Bolívia. Mas não podemos ter integração comercial sem termos linhas regulares de transportes. A Venezuela tem bons portos. E o Paraná tem o magnífico Porto de Paranaguá, que é o segundo porto brasileiro. Tivemos uma convenção dando preferência de atracação para navios venezuelanos e, ao mesmo tempo, dando preferência de atracação de navios brasileiros, que saem de Paranaguá, para os portos venezuelanos. Com isso queremos estabelecer a permanência de linhas de transportes marítimos funcionando entre os dois países. Isso já está dando certo. Esperamos estreitar as relações com outros países do Mercosul. Entendemos que é fundamental que a América Latina se integre para enfrentar os grandes mercados do mundo sem perder a visão nacional. Cada país tem seu projeto nacional e suas características especiais. Porém, é importante que nos integremos numa visão de cidadania latino-americana, porque desta forma podemos enfrentar o comércio internacional de uma maneira mais eficiente e produtiva. E, os passos que estamos dando no Porto de Paranaguá são fundamentais para a integração do Mercosul. O Porto de Paranaguá sofre um bombardeio muito grande. Isto se deve a que? Requião - À cobiça e à tentativa de internacionalização do Brasil. A falta de um projeto nacional e a falta da persecução dos destinos nacionais permanentes. O neoliberalismo do Fernando Henrique Cardoso não nos considerava um país, mas um mercado integrado a outros mercados do mundo. Sem cidadania, sem história, sem passado, sem futuro. Enfim, num mercado, somos considerados consumidores. Num país, somos cidadãos e somos respeitados. Esta visão de mercado fez com que os portos brasileiros entrassem num compromisso de privatização. Aqui, em Paranaguá, os governos de Fernando Henrique Cardoso e Jaime Lerner estabeleceram um protocolo de delegação garantindo que o porto seria privatizado em seis meses. Não foi no período do Lerner e não será no meu. O Porto é a entrada e a saída do país. Do porto depende a nossa economia, o desenvolvimento de setores da nossa indústria, de regiões do nosso estado e de nosso país. Entregar o porto a grupos privados é entregar a porta de entrada e saída do Paraná e do Brasil para interesses privados, que nunca serão os interesses genéricos de estado, de região e do Brasil. A grande guerra do porto de Paranaguá é a resistência do Governo do Estado pela manutenção do porto em mãos dos paranaenses e brasileiros. Apesar de crescer o número de países que rejeitam os grãos transgênicos, a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) entrou em discussão com a superintendência do porto para que fosse liberado o embarque de transgênicos? Requião - É a defesa do monopólio dos grãos produzidos pela Monsanto. É a guerra pela dominação da agricultura no mundo. O grão transgênico é rejeitado pela União Européia, especialmente na França e Inglaterra, na Índia. A China só compra para uso industrial – para fazer óleo biodiesel. Eles [a Antaq] querem insistentemente um monopólio da Monsanto. O Paraná está livre dos transgênicos. Os nossos agricultores, advertidos não só pelo meu governo, vem recusando sistematicamente a escravidão da transgênia. A Monsanto é dona da semente transgênica da soja, que funciona com o glifosato, um mata-mato criado no tempo da guerra para desmatar o Vietnã. Esse grão resiste ao mata-mato. Isso teoricamente tornaria sua produção mais barata, porque dispensaria a capina, mas aumentaria, sem sombra de dúvida, a agregação de serviços tóxicos, porque as pragas adquiririam resistência ao glifosato, que vai se tornando ao longo do tempo um coquetel de agrotóxicos, que é aplicado para garantir a ausência da capina. Sendo monopólio da Monsanto, eles cobram o que bem entendem. E o que pretende essa gente da Antaq, que foi criada para defender o Brasil mercado e não o Brasil nação, é que nós misturemos a soja pura do Paraná, que tem preço excepcional no mercado internacional, com a soja transgênica, produzida em outros estados e por alguns tolos no Paraná induzidos por algumas cooperativas associadas à Monsanto. Com isso, estaríamos perdendo a qualidade e nichos de mercado, tirando do Paraná e do Brasil a possibilidade de sobreviver com a soja convencional, que é muito mais produtiva que a transgênica, ganhando mercados que a cada dia recusam a transgenia. Por exemplo, a Suíça, que não é um país de tolos e sim um dos países mais desenvolvidos do mundo, depois de uma grande discussão, proibiu os transgênicos por mais cinco anos, porque tem muitas dúvidas sobre o mal que possa provocar à população. Então, é o Paraná se preservando e garantindo mercados e preços para seus agricultores. Estamos defendendo a agricultura do Paraná contra os interesses monopolizadores da Monsanto e das empresas que dominam a transgenia. Isso de nenhuma forma trouxe prejuízo ao Porto de Paranaguá? Essa decisão que a gente percebe que é de mercado e por uma questão ideológica?Requião - Absolutamente, não. Ela é muito mais, de minha parte, ideológica, porque amanhã ou depois, se der errado, podemos voltar atrás. Agora, se avançarmos na transgenia, não voltaremos nunca mais, até porque a soja transgênica tomaria conta de nossas plantações e dos nossos campos. Para se ter uma idéia, este ano exportamos pelo Porto um milhão de toneladas de soja a mais que em 2004. E o Porto, quando assumi oferecia uma vantagem cambial de US$ 4 bilhões, fecha este ano com US$ 9 bilhões. Isso é um ganho extraordinário. A taxa de ocupação e produtividade de nosso porto é quase três vezes maior que as do porto de Santos, por metro de cais. Temos um extraordinário porto exportador de grãos, de carga geral. A exportação de automóveis, em 2005, subiu 103%. Em 2006, já temos a garantia, através de uma grande linha de navegação, de 140 mil Fox europeus pelo Porto de Paranaguá, que é um sucesso absoluto, sendo objeto da cobiça dos que defendem interesses que não são brasileiros, mas que estão vinculados à negociata das privatizações.A infra-estrutura do Porto mudou bastante? O tempo que o navio permanece atracado reduziu e se tornou possível exportar mais?Requião - O Porto de Paranaguá não tem mais filas, como tinha antigamente por pura falta de logística e organização. Hoje é um porto rápido, onde os navios param por um tempo muito pequeno. Nós estabelecemos, através de uma portaria do superintendente do Porto, Eduardo Requião, dar, em igualdade de condições, preferência a navios que utilizem uma maior quantidade de mão-de-obra. Isso significa que estamos dando preferência a cargas gerais que é muito interessante para o Paraná, para o Brasil e Paranaguá, porque beneficia o trabalhador – uma coisa que no Brasil está meio esquecida por conta da globalização. Daqui para frente os números do porto devem ser melhores? Requião - Estamos investindo. Estamos construindo mais um silo para 100 mil toneladas. Estamos pavimentando e concretando toda a faixa de cais. Já calçamos Paranaguá com concreto, porque as entradas estavam destruídas por causa do peso dos caminhões. Temos um porto eficiente. E o fundamental é que temos uma administração do Porto e do governo que jogam juntos com os trabalhadores, a favor da eficiência, do respeito ao trabalho e da dignidade dos salários que recebem. Nós estamos mostrando que um porto público, que respeita o trabalhador, pode ser competitivo. A Volkswagen veio para cá porque o Porto de Paranaguá oferece uma vantagem de 46,5% em relação a Santos. E esse é o porto que querem privatizar em nome da eficiência. São os picaretas do mercado.No Governo passado, a construção do cais oeste do porto foi orçada em R$ 400 milhões. Em seu governo, a obra vai custar R$ 150 milhões?Requião - Isto se deve a um projeto sério e um discurso consciencioso. Estamos numa guerra, porque já tinham oferecido a obra a grandes empresas por R$ 440 milhões, que envolvia um lobby em que alguns deputados federais do Paraná lutavam para que saísse por este preço e diziam que o porto não teria dinheiro para executar a obra e que tinha de ser entregue à iniciativa privada. O porto estava falido, com dívidas trabalhistas monumentais. O dinheiro em caixa não pagava as despesas. Hoje, o Porto já investiu no calçamento em concreto de Paranaguá, está construindo silos, estacionamento. Está investindo 140 milhões e tem mais de 200 milhões em caixa. Provou que é eficiente e que pode construir o cais, pagando à vista. Aqui, em Paranaguá, começou o nosso Estado e a resistência que fazemos em defesa dos interesses nacionais é um marco de referência para a defesa dos interesses nacionais em todo o Brasil. O Paraná já provou que não existe aftosa no Estado. Mas o Ministério da Agricultura diz o contrário. O Governo do Estado pode optar pelo abate dos animais suspeitos para não trazer prejuízo às nossas exportações?Requião - Nós teremos, na próxima semana, uma reunião de todos os setores interessados - industriais e produtores. O que acontece é que o Paraná comprovadamente não tem aftosa. Tivemos aqui exposições agropecuárias, com a presença de alguns gados do Mato Grosso do Sul, de regiões contaminadas. Mas os testes de laboratórios, que não foram poucos, até agora, feitos pelo Ministério da Agricultura em seus laboratórios, mostraram resultados negativos. O que estão querendo com isso tudo é resolver um problema de credibilidade do Ministério da Agricultura que, em dado momento, anunciou que havia 90% de probabilidade do Paraná ter febre aftosa, sem nenhuma comprovação. Isso criou insegurança nos mercados internacionais. E, agora, que verificamos que não existe aftosa, eles querem confirmar para dar credibilidade à palavra do ministro [Roberto Rodrigues], com pesados prejuízos para os nossos produtores. Se nós não abatermos o gado, talvez o prejuízo será maior porque quem fala pelo Brasil não é o Governo do Paraná e sim a União. É o Ministério da Agricultura que fala pelo setor agrícola e de sanidade animal. O mundo vai acreditar que temos aftosa porque o ministro assim afirma. Eles querem fazer o abate de animais para diminuir o período em que ficaríamos isolados, impossibilitados de exportar. O ministro disse, numa entrevista a um programa rural, que a responsabilidade era da União, dos Estados e dos produtores. Enquanto o ministério do Rodrigues não sabia nada sobre sanidade animal, o Governo do Paraná contratou 100 veterinários e técnicos, comprou 100 carros e realizou a mais completa campanha de vacinação do país. Campanha que deu continuidade às campanhas que já vinham sendo feitas por governos anteriores, mesmo no governo que me antecedeu que tanto critico, mas que nesse caso, não. Eles cuidaram da sanidade animal. Eu ouvi dizer que alguns setores da agricultura gostariam que o Paraná fosse declarada zona de aftosa, para romper seus contratos internacionais que foram fechados a US$ 60,00 a arroba e, hoje, a carne está no mercado internacional a mais de US$ 120,00. Eles rompem e logo estarão vendendo carne a mais de US$ 100,00 a arroba. Não sei se isso é verdade. A verdade é que no Paraná não existe aftosa. Se for feito o abate desse gado em São Sebastião da Amoreira é possível que o Estado entre com um processo contra o governo federal?Requião - Não necessariamente, mas nós estamos comprovando, inclusive a TV Educativa esteve na fazenda, filmando o gado, mostrando que não existe vestígios de doenças vesiculares, nos lábios, nas línguas, nas bocas dos animais, que eles estão saudáveis, que eles estão engordando, portanto, não tem aftosa. E esse material todo, inclusive as análises dos nossos veterinários, será posto à disposição do conjunto de produtores do Paraná. Estes sim, com o apoio do Estado, se desejarem, irão acionar a União, ou seja, o Ministério da Agricultura. Para recuperar essa imagem, não só do Paraná, mas do próprio país no mercado externo, em relação a febre aftosa, é bastante difícil e demorado?Requião – É, tem um período de seis a oito meses depois do abate.E se não ocorrer o abate?Requião - Se não ocorrer o abate, o tempo é bem maior. Essa é a malandragem. Agora, a irresponsabilidade do Ministério da Agricultura foi, me perdoe o ministro Roberto Rodrigues, absoluta. E não me venham com essa conversa que forma uma irresponsabilidade, uma leviandade compartilhada entre a União, os produtores e os Estados. Que nós, no Paraná, somos responsáveis e cuidamos do nosso rebanho e da sanidade animal. Trabalho do Pessuti, do [Newton] Pohl, o diretor geral, foi um trabalho exemplar e eu apoiei desde o primeiro momento. Numa reunião com o [presidente] Lula, o próprio Rodrigues pediu recursos para cuidar da sanidade animal e eu, quando vi que aquilo não ia sair, porque o Lula diz uma coisa e o ministro da Fazenda depois diz outra, eu coloquei na frente os recursos, e o Paraná fez o que o governo federal deveria ter feito. E nós, hoje, é que estamos sendo sacrificados. Isto é um absurdo, é uma irresponsabilidade, é uma coisa rigorosa e absolutamente intolerável.A política tributária do Estado vai na contramão do resto do país. Por exemplo, isenção de produtos da cesta básica e também isenção de ICMS com relação à micro e pequenas empresas. Esses resultados, na sua opinião, são os esperados, eram esperados pelo senhor com essas medidas tomadas?Requião - Eu confesso que foram melhores do que os esperados, mas nos limites das possibilidades da administração, do sistema tributário pelo Estado. Estamos na contramão do governo federal. Temos este ano um declínio do número de empregos gerados no Paraná. Não é uma situação caótica porque geramos, até novembro, 94 mil empregos, mas geramos menos empregos do que 2004. Em função da crise na agroindústria – a agroindústria demitiu; da crise nas exportações – o real supervalorizado, dólar lá embaixo; crise na exportação de madeira e crise na industrialização de alimentos. Mas, mesmo assim, nós paranaenses somos o quarto estado do país em geração de empregos em números absolutos – 94 mil empregos até novembro. Somos o terceiro do ponto de vista relativo ao número de habitantes. Nós perdemos para São Paulo e Minas Gerais – que são estados mais dinâmicos, mais antigos e com uma estrutura industrial mais consolidada que o nosso. Mas vamos alcançá-los dentro de algum tempo, um tempo breve. Nós estamos crescendo, somos o quarto em números absolutos e o terceiro em números relativos. Temos 150 mil empresas criadas em função da isenção do ICMS e, ao lado disso, tem as carteiras não assinadas. É o pessoal que vai se regularizando no processo de crescimento. O Paraná faz o que pode e que o Paraná pode mostra o que é o Governo do Paraná. Os resultados são bons.Gostaria que o senhor comentasse mais sobre a isenção do ICMS, mais de 30 produtos da cesta básica, foi a grande boa notícia para a população paranaense no começo deste ano. Requião - No Senado eu fiz essa proposta que foi engavetada na Comissão de Finanças. Por que vamos cobrar imposto sobre comida do trabalhador que tem o salário pobre, como é o salário mínimo no Brasil e, às vezes, não ganha nem o mínimo? Por que imposto em cima da fome? Então, prosseguindo essa visão ideológica que eu tenho, de que o governo serve ao povo, de que o governo que não tiver o povo feliz não é um governo bom, eu fui isentando a micro, diminuindo o imposto das pequenas, criando incentivos para industrialização das regiões de baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Paraná, dos municípios mais pobres, e acabei ampliando a cesta básica para 30 produtos e zerei o imposto dos 30 produtos, inclusive da farinha de trigo. São Paulo tinha feito isso com a farinha de trigo, mas São Paulo é uma graça, não é? Porque São Paulo zerou o imposto da farinha de trigo, mas não produz farinha de trigo. Na verdade, isso serviu para tirar o Paraná do comércio paulista e entregar o comércio, ou seja, a possibilidade de vender trigo para os moinhos paulistas, à indústria argentina. Nós fizemos a mesma coisa, zeramos aqui e estamos na contramão do governo federal que aumenta imposto, que aumenta juros. Nós estamos na contramão dessa visão do mercado, dessa visão do pagamento absoluto da dívida. O governo não pode funcionar como uma empresa devedora de alguns credores internacionais, busque pagar as nossas contas, mas o povo, a fome do povo, a oportunidade de trabalho, do desenvolvimento econômico têm que estar na frente do Brasil nação. Nunca será o objetivo do Brasil mercado, que é o Brasil do Collor, que o Brasil do FHC, e que desgraçadamente é o Brasil do Palocci hoje e da política econômica do governo federal. Isso me causa uma tremenda frustração e uma profunda tristeza porque eu apoiei o Lula quatro vezes em seguida, acreditando muito nele.O governo federal não mexeu no caixa do governo anterior com receio de paralisar o país. O senhor diz que nenhum contrato está acima do interesse público, foi o caso da Ferroeste, da Sanepar, Usina de Araucária. Como abrir tantas frentes de conflito e não paralisar o estado como aconteceu?Requião - Porque defender o interesse público não paralisa Estado de país algum. Conversa mole de que “temos que manter contratos imorais”, que sacrificam a nossa população, que levam o nosso dinheiro, segura o nosso desenvolvimento em nome da estabilidade da economia do mercado. Quero que se lixe o mercado. Eu sou brasileiro, sou paranaense, eu não fui eleito pelos bancos, eu fui eleito pelo voto do cidadão do Paraná, dos ricos e dos pobres, de todas as camadas. Eu tenho uma responsabilidade com o estado, com a tranqüilidade social, com o desenvolvimento, com o emprego. Eu acho que o governo serve para isso. Se eu não pudesse fazer o que eu estou fazendo, que é exatamente o que prometi no processo eleitoral, não valeria a pena ser governador. Eu não teria nenhum interesse nisso. Governador por que? Pela honra do cargo, vestir um terno e gravata? Vocês percebam que eu não estou usando nem terno e gravata. Aliás aqui no Porto de Paranaguá com esse calor, seria um absurdo.Nos últimos 10 anos, com as privatizações da energia elétrica, da telefonia, as tarifas só aumentaram. Aqui no Paraná a população consegue ter uma energia mais em conta até com projetos, programas como o Luz Fraterna, também tem o programa da água que beneficia milhares de paranaenses...Requião - Vamos analisar a Copel. Quando eu assumi, a Copel saía de um processo de privatização, tentaram privatizá-la e só não conseguiram por caso do Bin Laden que derrubou o World Trade Center, as torres de Nova Iorque. A Bolsa foi paralisada e a Copel não foi vendida. Diziam que a empresa não era competitiva...... E hoje temos a energia mais barata do país.Requião - Hoje temos a energia mais barata do país, mas não só isso. A Copel estava montada em cima de uma série de contratos extremamente inoportunos para o Paraná. Contratos criminosos, contratos que favoreciam a ganância do mercado, que foram produtos da corrupção do governo que me antecedeu e se eu mantivesse esses contratos, a Copel não pagaria a sua folha em março de 2003, quando eu assumi, e quebraria em outubro. Eu fui a juízo, negociei, questionei nos tribunais e hoje a Copel é considerada pelo Financial Times, de Londres, a terceira melhor empresa de energia do mundo e pelo Global Times, de Nova Iorque, a primeira empresa. E eu e o Paulo Pimentel, que era meu presidente da Copel no ano passado, fomos homenageados na Bolsa de Nova Iorque. Nós salvamos a Copel da falência e salvamos 18 mil acionistas norte-americanos. Então, em Nova Iorque, o governo do Paraná é o governo do Capitão América, o governo que salva o acionista minoritário e, aqui no Brasil, leva “pau” do Estadão de São Paulo, da Globo nacional, “pau” da lideranças delubianas do PT no Congresso Nacional. Mas nós temos um compromisso, que é o compromisso com a população. Em 2003, a Copel estava pronta para um aumento de 25% autorizado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), eu dei uma olhada na empresa, questionei os contratos e disse “não vou dar o aumento”, como não dei o aumento. Isso significou que a economia do Paraná manteve em circulação, ganhou indiretamente R$ 1,145 bilhão que circularam e a Copel se sustentou, se capitalizou. Ganha esses prêmios e hoje é considerada a melhor e uma das três melhores empresas de energia do mundo, apesar de algumas medidas absurdas da política energética do governo federal.Nesses três anos, o governo tem travado uma batalha sem igual contra as tarifas do pedágio. Não baixou tanto como senhor gostaria, como também o que a população gostaria que tivesse baixado. Nesse ano, como o senhor vai fazer para prosseguir nesta luta?Requião - Vocês já viram o que está acontecendo na América Latina. Tem coisas que são insustentáveis. Esses governos que pretendem transformar países em marcado vão cair. Caíram na Venezuela, caíram na Argentina e caíram agora na Bolívia. A tarifa do pedágio no Paraná é insustentável. Ontem ainda um amigo me telefonava da Argentina. Ele foi de automóvel até o deserto de Atacama. Ele disse: “Requião, eu que fui sempre ligado aos empreiteiros, entendi agora a sua guerra contra o pedágio. Tem pedágio na Argentina, mas nenhum custa mais que R$ 2,00, R$ 3,00”. E aqui no Paraná é esse escândalo. Esse ano de 2004, essa gente arrecadou R$ 640 milhões e investiram uma fração disso. Devem ter investido uns R$ 140 milhões e embolsaram o resto. Não fazem nada, estão protegidos por contratos Lerner. Aí vem aquele vezo liberal que contaminou o Judiciário de Terceira Instância em Brasília – pacta sunt servanda – é jargão latino para dizer que os contratos devem ser observados. O governador anterior assinou, garantiu por 30 anos essa pepineira, ela agride o interesse público, mas tem que ser observadas em nome da garantia de mercado. A gente ganha aqui, o Judiciário do Paraná é exemplar nessa questão e vai perdendo tudo lá em cima. Eu concedi no período, um aumento de 6%. Os juizes federais e do Tribunal de Justiça, do Superior Tribunal de Justiça, concederam o resto. É uma briga feia. São mais de 40 ações que o Governo do Paraná entrou. Eu proibi a cobrança do pedágio na Lapa porque nem licitação tinha para aquele trecho. O juiz deu uma liminar e mandou que se restabelecesse a cobrança. O Ministério Público Federal entra e o juiz federal manda suspender e logo depois o Tribunal de Porto Alegre mandar voltar a cobrança. O pedágio é um roubo tão grande que vai chegar o dia que o povo vai se levantar, como se levantou na Bolívia contra a privatização da água. O pedágio podia ser uma pequena contribuição de manutenção, partindo do princípio, por exemplo, que estradas mantidas pelo Governo do Paraná são utilizadas pelos caminhões graneleiros do Mato Grosso que vêm ao Porto de Paranaguá. Então eles podiam, com um pedágio de fronteira, contribuir para a manutenção dessas estradas que não são pagas pelos impostos de Mato Grosso. Aliás, o país deve manter essas estradas federais, que são as artérias que seriam mantidas teoricamente pelo governo federal, que quer abrir mão delas agora, desde o FHC. Pedágio de manutenção seria até razoável, mas nós estamos mostrando aqui no Paraná quem nem isso nós precisamos. Nós estamos investindo R$ 1,2 bilhão e recuperando cinco mil quilômetros de estradas, com o dinheiro dos impostos, sem tomar sequer um empréstimo para isso. Nós estamos dando uma demonstração ao Brasil e tentando pedagogicamente mostrar para os juizes que isto é um absurdo. E isso não se manterá por todo o tempo, porque o povo não pode ser roubado por todo tempo. É uma briga dura e nós estamos sozinhos nela. Os nossos adversários, que são os que votaram pelo pedágio na Assembléia Legislativa, aquela base lernista que votou as concessões, são os que criticam, “o governo não consegue nada”. Mas eu pergunto, onde estão os senadores? Onde está o Osmar Dias na guerra contra o absurdo do pedágio? Onde está o Álvaro Dias? O meu amigo Flávio Arns? Parece que isso não é com eles. “Isso é um problema pessoal do Requião”. Será que o faturamento de R$ 640 milhões por ano, investimento de R$ 140 milhões, R$ 150 milhões, é problema pessoal do Requião? Não é uma sangria feita na economia do Paraná? Dinheiro tirado dos produtores, dos agricultores, dos industriais, do povo inteiro que usa as estradas. A guerra contra o pedágio é uma guerra santa e conta com apoio total da população. Ás vezes, a mídia ilude – as estradas pedagiadas são melhores. Não são. Nós estamos mostrando que não são. As estradas do Paraná foram abandonadas por oito anos e agora nós estamos recuperando uma a uma. Despesas pesadas, mas num próximo governo, elas serão recuperadas com muita facilidade. Porque se, hoje, para reconstruí-las, gastamos R$ 1,2 bilhão, isso em 2006, em 2007, R$ 120 milhões, R$ 130 milhões serão suficientes para mantê-las como um tapete porque não fizemos operação tapa-buraco, fizemos a reconstrução das estradas do Paraná e pretendemos completar isso até o fim do ano de 2006. Então, o que eu posso dizer é isso: nós não cedemos, não negociamos o interesse público, não traímos o compromisso, mas temos uma briga pesada e uma visão liberal do Judiciário de Terceira Instância sobre os contratos que ferem duramente o interesse da população. Eu sou advogado, eu aprendi, na faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, que não existe direito adquirido contra interesse público. Mas isso é no estado nacional. Não é na visão dos que acham que nós não somos um país, somos um mercado, uma espécie da casa da sogra dos grandes interesses do capital.Como o senhor avalia o projeto anunciado tardiamente pelo governo federal, do tapa-buraco nas estradas?Requião - Eu acho um absurdo o governo Lula restabelecer o pedágio. O faturamento da Cide (Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico) só no ano passado foi mais de R$ 7 bilhões. Eles estão usando esse dinheiro para pagar dívidas, antecipar pagamentos ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e deixando o país abandonado. Isso não tem cabimento. E querem inclusive colocar pedágio nessa estrada de Santa Catarina. O trecho Curitiba/Guaruva foi feito pelo Governo do Paraná e o governo federal não nos pagou por isso até hoje. E não tem nenhum sentido isso, o país não precisa de pedágio. E, se precisasse de pedágio em determinados momentos, em determinadas circunstâncias, por períodos limitados de tempo, seriam pedágios de manutenção. Porque, afinal, quem construiu essas estradas todas foi o povo brasileiro com recursos dos seus impostos. Eu acho um erro absurdo do governo Lula estabelecer pedágio no Brasil, continuando a proposta liberal de FHC. Não foi para isso que nós votamos na mudança. Isso, para mim, é triste, é decepcionante. Não entendo como é que podem mudar tanto a posição. O pedágio no Brasil é um roubo, até o Tribunal de Contas já questionou a proposta de licitação, que vai ser um troço tão terrível quanto é hoje. Então eu sou absolutamente contrário a isso. Em algumas circunstancias o pedágio podia ser cobrado. Na Itália, por exemplo, eles cobram no inverno para financiar a remoção da neve, [mas] não cobram no verão.O Paraná vai cobrar do governo federal pelas obras que fez no estado e que eram da responsabilidade da União?Requião - Nós construímos a Central do Paraná, o governo federal não nos pagou. Eu construí a Ferroeste em parceria com o Exército, na época gastei R$ 1,40 bilhão, corrigidos isto dá R$ 2 bilhões, nós não recebemos por isso. Nós construímos pontes como a de Guaíra, nós construímos a estrada de Santa Catarina, a duplicação de Curitiba à fronteira de Santa Catarina, a Guaruva, uma estrada federal, e nós não fomos ressarcidos. Nós temos os absurdos feitos pelo Banco Central em relação ao Banco do Estado. O Itaú comprou o Banco do Estado por R$ 1,48 bilhão e recebeu só crédito tributário, R$ 1,8 bilhão. Ficou com o patrimônio, com as contas e tudo mais. Recebeu um presente e mais dinheiro em cima do presente. Nós estamos discutindo em juízo todas essas coisas. Essa angústia do César Benjamin e do Carlos Lessa é a minha angústia. Nós esperávamos um comportamento diferente, votamos pela mudança, não votamos pela continuidade da política de FHC. O que aconteceu foi, não só a continuidade, mas a radicalização desta visão de Brasil mercado. Nosso Brasil é um Brasil do povo, com objetivos nacionais permanentes, é um Brasil que se volta para as pessoas, é um Brasil que não se ilude com essa conversa mole de mercado internacional, de globalização, porque essa globalização só arde nos brasileiros, é objeto da vantagem, dos lucros absurdos das bolsas. Eu insisto, eu não fui eleito por Bolsas. Por isso que eu digo que eu governo o Paraná com a alma e com o coração. As medidas que tomo são medidas pensadas, são racionais, são firmes. O nosso não é governo frouxo, é um governo firme. Alguém diria [que é] um governo corajoso. Não, não é corajoso, é um governo de compromisso. Nós assumimos com a população esses compromissos de mudança e estamos cumprindo. Mas, por parte do governo federal, não vejo cumprimento de compromisso. Agora, investir R$ 450 milhões no Brasil para recuperar as estradas, quando o Paraná que tem 2% do território nacional está investindo com recursos próprios R$ 1,2 bilhão, me parece uma piada.Quanto que o governo federal vai destinar ao Paraná para recuperação das estradas? Requião - Quem é que sabe? Ainda estão pedindo contrapartida. Querem que os estados assumam 30%. Assumam por que? Os estados brasileiros estão sendo desmontados desde a fase posterior à Constituição de 1988. Vejam vocês. A receita da União em 88 era composta em 80% de IPI e IR – impostos compartilhados, divididos com estados e municípios – e 20% das contribuições financeiras que tem esse nome para não se caracterizarem como imposto e não serem compartilhados, são só da União. Hoje, depois dos artifícios do (Fernando) Collor, do FHC e do (Pedro) Malan, e do (Antônio) Palocci com Lula, a arrecadação da União de 80% de IPI e IR, caiu para 40% e as contribuições financeiras subiram para 60%. Os estados e municípios estão desmontados, o Lula quer dividir o que? Quer nos entregar as estradas federais. O governo federal não serve para nada mais. Só para viabilizar o lucro dos bancos, do Bradesco, do Itaú, fazer a alegria da Bolsa de Nova Iorque a cada fim de ano. Meu Deus, não foi isso que nós esperávamos.A Cide – a contribuição sobre os combustíveis – arrecadou R$ 7 bilhões no ano passado e o governo federal vai investir em torno de R$ 400 milhões para recuperar as estradas. Essa contribuição é especifico para recuperação de estradas.Requião - Se o governo federal arrecadou para consertar estradas mais de R$ 7 bilhões e agora, com um grande favor, diz que vai investir R$ 450 milhões, não precisa nem se responder. O telespectador vai entender que o governo federal continua brincando com a gente.O superávit primário não restringe o investimento no país?Requião - Investimento algum. Ano passado não teve nenhum investimento, tanto que o número de geração de empregos no Paraná, que é positivo nesse ano, mas não é comparável a 2004. O que fazemos um esforço brutal, desonerando impostos, criando empresas, protegendo os pequenos, o governo federal aumenta juros, o Real se valoriza em relação ao dólar, impedindo exportações. Estamos numa entaladela, uma entaladela profunda, nesse ano da graça de 2006 e não é conversa mole que vai resolver isso.Como o senhor avalia a questão do superávit primária que impede o crescimento do país?Requião - Isso é uma canalhice. O que é o superávit primário? Eu lembro que o Brizola explicava isso da seguinte maneira: imagina que você tem uma renda de R$ 3 mil, mas de repente você diz, eu preciso ter um superávit primário, eu preciso ter uma poupança em cima da minha renda. Então você corta o almoço dos seus filhos, não paga o aluguel da casa, não acende luz de noite e no fim do mês você tem R$ 1,5 mil de superávit primário. Seus filhos estão doentes, saíram da escola porque você não pagou a mensalidade. O superávit primário do Lula é o mesmo superávit primário do Fernando II, o Cardoso, e do Fernando I, o Collor. É o sacrifício do Brasil e absoluta falta de investimento sob pretexto de que privatizando se resolve esse problema. Daí, vêm as agências e, privatizando tudo, os preços sobem porque a água passa a ser propriedade privada. Veja a água, um bem fora do comércio desde o Direito Romano, privatizada, se transformando em objeto de lucro, de multinacionais, de valorização de ações na Bolsa. É esta visão desumana de Brasil mercado, que tem que ser removida do país. Nós somos um país, como os EUA são um país, temos orgulho de ser brasileiros, acreditamos na nossa capacidade, na possibilidade de crescimento, na inteligência da nossa gente, no esforço do nosso povo. E estamos fazendo um esforço brutal, uma carga tributária de mais de 40% para nada. Não se investe um tostão no Brasil e, de repente, o governo diz que vai aplicar R$ 450 milhões nas estradas nacionais, comparem isso novamente com R$ 1,2 bilhão que o Paraná está investindo nas estradas, de um território que apenas 2% do território nacional.Vamos falar um pouco dos programas sociais, Tarifa Social, Luz Fraterna, Programa do Leite. A gente sabe que são benefícios muito grandes para uma boa parte da população, para muita gente, mas há pessoas que ainda questionam esses programas, porque acham que não deveriam ter programas como esses. O que senhor diria para quem pensa dessa maneira?Requião - Primeiro: quem não tem coração, que não tem alma, que não é capaz de sentir, que não capaz de sofrer o sofrimento de um povo inteiro. Eu, na campanha eleitoral, com toda a clareza, me comprometi a fazer um governo de acordo com a Carta de Puebla, da opção preferencial pelos pobres. Isso significa prestigiar empresas que gerem uma intensidade de empregos e atender as faixas mais carentes da população, investir na educação, na saúde. E é o que nós estamos fazendo. Eu comecei com a eliminação do imposto para as micro-empresas, primeiro, segundo dia de governo, e baixando brutalmente o das pequenas. Depois, nós criamos a dilação de prazo por quatro anos para as indústrias que resolvessem investir nos municípios de baixo índice de desenvolvimento humano, os municípios mais pobres do estado. Depois criamos programas, como o Programa do Leite, um litro de leite para cada criança pobre do Paraná, eu acho que no fim do ano passado nós chegamos a mais de 180 mil litros de leite por dia e chegaremos – a necessidade que nós calculamos – é de 200 mil litros/dia. Está indo muito bem e ao mesmo tempo ajudamos a nossa pecuária porque nós não compramos leite de grandes empresas, nem leite em pó, é o leite produzido na região. Os produtores da região e as usinas da região que fazem um tratamento do leite, a Universidade e a Secretaria de Agricultura, numa pesquisa diária, garantem a qualidade. Depois do Programa do Leite, vem o programa da energia – Luz Fraterna. Se uma família não tem uma geladeira ligada, a possibilidade de doença por infecção intestinal por alimentos deteriorados é monstruosa. Oitenta por cento dos atendimentos no SUS se devem a isso. Então, nós damos para uma família pobre, 100 kilowatts de energia elétrica de graça por mês. Isso é economia na ponta da saúde. O programa da água – a Tarifa Social da água, R$ 1,25 por 2,5 mil litros por pessoa pobre, R$ 0,65 pelo tratamento de esgoto por pessoa pobre. Água é melhor que vacina, água é investimento em saúde, alguns dizem que não, investimento no saneamento básico não é saúde. São os que representam os interesses dos grandes laboratórios. Eles concordariam que eu comprasse vitaminas e antibióticos para tratar infecções intestinais, mas não concordam que ofereça água tratada a um preço baixo. Então são os jogos do mercado tentando corromper as políticas sociais do Brasil. Mas vamos lá, tarifa da luz, tarifa da água, o Fundo de Aval. O agricultor chegava no Banco do Brasil e o gerente dizia para ele, “mas meu irmão, você não tem garantia real, como é que vou te emprestar dinheiro?”. E ele era um posseiro, meeiro, um arrendatário, ou agricultor pobre que não tinha feito o inventário do pai, que não tinha feito o do avô, mas ele estava na terra, sabia plantar, colher, quando plantar, quando colher. E o gerente do banco dizia: “eu não posso, não posso, pela legislação bancária te dar crédito”. Eu criei o Fundo de Aval e hoje o seu José, o agricultor pobre, vai lá e quando o gerente diz a ele, “você não tem garantia real”, ele bate na mesa e diz: “seu gerente, agora mudou, quem me dá garantia é o Governo do Paraná”. Nós estamos avalizando todos os pequenos agricultores que querem plantar e sabem plantar. Eles são responsáveis pela comida que vai para a nossa mesa. Porque 38% da produção do Paraná é da pequena propriedade, da propriedade familiar – 38% da produção, mas 100% do que vai para mesa porque o resto é commodity, vai para exportação. É soja que vai engordar o gado americano e europeu, fazer ração no mundo inteiro. São as agriculturas em grande escala, que estão se tornando monopólios, monoculturas e que precisam ser evitadas, até em benefício da biodiversidade, da manutenção da variedade das essências naturais, do Brasil, dos países, dos estados e das regiões. Então, nós estamos avançando pesadamente nas políticas sociais. E algumas em parceria com o governo federal, através da Secretaria do Trabalho também. Eu acho que nós estamos, fundamentalmente, cumprindo compromissos. Agora, o fundamental, eu sempre disse que é governar com o coração e com a alma, e com o compromisso com os pobres e com o povo. Não é mais possível que o discurso de campanha não tenha nada mais a ver com a prática de governo. Aqui no Paraná, o jogo é pesado. A posição que nós temos da grande mídia nacional é terrível, mas governamos da mesma forma com que redigimos o nosso programa de governo.A transparência dos atos do governo é mais uma marca do senhor, tem um site gestão do dinheiro público onde o senhor coloca todos os gastos do governo para qualquer fiscalizar...Requião - Isso é bacana. Se você quiser saber quanto custou uma cadeira comprada por um secretário para por na sua escrivaninha, você procura um empenho e depois do empenho, a liquidação. Você vai saber na internet quanto custou. Daí você dá uma olhada, tem a descrição da cadeira, se você achar que o negócio é pilantragem, “não, eu vi uma cadeira parecida como essa pela metade do preço”, imediatamente vá a Ouvidoria ou Ministério Público.Ou mande um e-mail para o senhor...Requião - Ou mande um e-mail para mim, ou pode ir direto ao Ministério Público ou à Ouvidoria porque eu tenho então um número enorme de fiscais. Eu sozinho, como governador, não posso fiscalizar o estado. Então essa transparência me dá a garantia do que muita gente vai me ajudar nesta máquina enorme que é o Governo do Estado, possibilitar melhor a fiscalização. E eu recebo muitos e-mails e as denúncias não são pequenas, porque muitas distorções continuam ocorrendo num estado do tamanho do Paraná, apesar da dureza com nós governamos.É um instrumento muito poderoso para a população?Requião - Não é melhor porque o número de computadores não é tão grande assim hoje. Mas numa universidade, alunos dos cursos de economia, de contabilidade, de administração, podem fazer essa pesquisa até como forma curricular e ajudar o estado na fiscalização. Nós temos um sistema de acompanhamento de preço de obras com a participação das universidades. Os preços máximos das obras no Paraná são periodicamente fixados na internet, através de uma pesquisa feita pelas universidades e pelas nossas Secretarias de estado. Nós estamos apertando os parafusos. Perfeito nosso governo não é, nem eu sou perfeito, nem pretendo isso. Governo algum será perfeito, porque a imperfeição humana é eterna, mas nós estamos nos esforçando para fazer do governo do Paraná, um exemplo para o Brasil e estamos conseguindo ir bastante longe.Os números do Porto de Paranaguá também estão disponíveis na internet.Requião - Apesar de todos os jornalões fraudarem os números. O negócio é uma brincadeira. Hoje de manhã eu estava lendo a Gazeta do Povo e estava lá, o Paraná é o 14º estado em crescimento do emprego no Brasil. Não sei da onde que eles tiraram isso. O Paraná é o quarto em números absolutos – São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. Até novembro, 94 mil empregos gerados. Em números relativos, ou seja, em relação aos números de habitantes, somos o terceiro – é São Paulo, Minas Gerais e Paraná, o Rio fica em quarto. Mas o pessoal parece que procura um dado negativo, uma informação não verdadeira, ou irresponsabilidade, não checa a informação. Eu digo sempre que isso é produto da má fé cínica ou da ignorância córnea, as duas não são boas para a Democracia.Vamos comentar um pouco sobre o meio ambiente, as matas ciliares, a recuperação dos rios.Requião - Hoje mesmo eu assinei a autorização de compra de dois milhões de robalos que serão lançados aqui na baía de Paranaguá. Estamos repovoando os rios e as nossas baías, e recuperando as matas ciliares. O objetivo até o fim desse ano é o plantio de 90 milhões de árvores nos corredores de biodiversidade ligando os biossistemas do estado do Paraná com os biossistemas do Brasil, o Pantanal do Mato Grosso e tudo mais. Itaipu participa disso com projetos muito bonitos e já conseguimos plantar 34 milhões de árvores, batemos o recorde mundial de plantio num único dia – no Dia da Árvore, cinco milhões de árvores num dia. Trabalho de centenas de prefeituras, de escolas, do Instituto Ambiental do Paraná, do Cheida. O Cheida, o nosso Secretário do Meio Ambiente, tem uma visão consolidada e muito bonita da importância da natureza. Você veja o que está acontecendo com o nosso clima nos últimos 15, 20 anos. São tufões, furacões, desastres e, de repente, o governo federal propõe fazer três parques nacionais nos Campos Gerais e três, quatro fazendeiros se levantam, alguns deputados apóiam, e paralisam uma situação dessa, em nome do que? Do lucro, da ganância, da insensibilidade, de alguma possibilidade de apoio eleitoral. Minha gente, isso não é possível, temos que jogar pesado na defesa do meio ambiente. E dentro desse contexto está a resistência contra os transgênicos, que não sabemos aonde irão parar isso tudo, não estão suficientemente testados, podem ser um desastre absoluto, pode ser o fim do ciclo da soja no Brasil e no mundo. Por exemplo, se em determinado momento percebemos o mal que a transgênia pode estar fazendo às pessoas. Existem testes - com ratos – terríveis, o inchaço de rins, o problema da esterilidade, uma série de problemas contatados com pesquisadores que foram suficientemente aprofundados ainda.Mas, em nome do lucro e de uma modernidade falsa, vão tentando liberar tudo e querem forçar garganta abaixo no Porto de Paranaguá, o interesse das multinacionais que controlam o comércio internacional de grãos - as famosas commodities. O Paraná é uma barreira de resistência a toda essa irracionalidade, a toda essa tolice. E fazemos isso com um grande compromisso que temos com o futuro, com a racionalidade e com a nossa agricultura.Com relação à Força Verde, são carros, homens disponíveis para fazer um trabalho junto ao meio ambiente.Requião - A Força Verde se soma ao IAP (Instituto Ambiental do Paraná). A Força Verde é a antiga Polícia Florestal, que está apoiada com dois motoplanadores, helicópteros, um avião skyline, GPS’s (global satelites position), localizadores por satélites, veículos de terra, trabalhando na preservação do meio ambiente em todo o Paraná. Mas, de repente, na baía de Paranaguá, eu saio para dar um passeio de barco, nessas pequenas férias de final de ano, e vejo um número enorme de casas de material construídas, vejo invasões diante do silêncio do Ibama. Me dirijo ao IAP, não, isso é fiscalização do Ibama. Nós temos quer apertar mais, a consciência da preservação tem que se instalar definitivamente na consciência coletiva do Paraná, do Brasil e do mundo. Senão, vamos pagar um preço altíssimo. Esse preço pode ser o fim da vida humana, do planeta Terra, num horizonte que eu não posso especificar.Durante essa semana, o IAP fez blitze na baía de Paranaguá, no Pontal do Paraná, e flagrou pescadores fazendo a pesca predatória.Requião - Aqui nessa baía, quando era menino, a gente jogava uma tarrafa e vinha cinco quilos de camarão e hoje não vem mais nada. E eles descobriram o arrastão e o arrastão, nós temos uma baía rasa, e tem muito pouca pedra, é areia e então não enrosca a rede, fica muito fácil passar o arrastão, e o arrastão pega tudo. Eles, dia e noite, passam o arrastão, principalmente os barcos de Santa Catarina e por isso aumentamos a fiscalização. Eu comprei barcos de interceptação oceânica, barcos poderosos que podem ir a qualquer distância, com qualquer mar. Estamos jogando pesado nisso. Mas veja, terá isso continuidade ou não. Se a consciência não se estabelecer, o próximo governo pode partir para o jogo tolo da lucratividade, da defesa de uma empresa que acaba com a pesca na baía para viver com saúde financeira durante cinco, seis anos. Depois acaba a empresa, acaba a baía, acaba a fauna, acaba a pesca.O Paraná tem o projeto Povo que é o projeto da Polícia Comunitária mais perto da população, que está presente em todos os bairros de Curitiba, na região metropolitana, e já em algumas cidades do interior. Dessa forma se consegue aumentar a segurança no estado?Requião - Os investimentos em segurança no Paraná são grandes. Aumentamos muitos os índices de segurança. Em todos os países do mundo - países inteligentes - estão investindo na polícia comunitária - a China, o Japão, os EUA, estados dos EUA – aquela polícia perto do povo. Não é polícia repressora, não é o bate-pau, é o policial que interage com a população. Ele é um defensor da população, não o agressor que surge de repente para intervir em conflitos de forma quase sempre violenta. O Projeto Povo mantém o policial no bairro e ele se constitui para cada bairro, um automóvel com dois policiais acompanhados por duas motocicletas e mais dois policiais. Eles são acessados e acessíveis pelo 190 e por um telefone celular. Estão sempre no mesmo bairro, visitam a população, casa por casa, deixam o cartão. Então, quando houver um problema, a pessoa liga para o sargento Santiago, que já passou na casa dela, já visitou, já sabe quem ela é, conhece a família. Então numa noite quando ele encontrar um rapaz meio tonto, vindo de uma festa, ele não vai tratar como um estranho, porque essa falta de conhecimento provoca o medo, e o medo provoca a violência. Ele vai gritar “ô José, venha aqui que eu vou te levar para casa” e bate na porta da dona Maria e diz: “dona Maria não deixe esse menino mais ficar até quatro horas da manhã em baile, veja como ele chegando aqui meio embriagado, segura esse cara em casa” e tal. É outro tipo de relação. Nós estamos avançando nisso. Vinte e cinco cidades do Paraná já têm o Projeto Povo, Curitiba já está fechada, 75 bairros funcionando. Agora, não é uma coisa que se implante com uma velocidade estratosférica, a velocidade da televisão, a velocidade do espetáculo. Temos que preparar o policial, o policial é treinado. Contratamos nesse período de governo, 2.225 policiais, estamos contratando mais mil agora. Fora os agentes penitenciários das 11 penitenciárias que estamos construindo para aliviar a pressão do excesso de presos nas delegacias, a desordem, a evasão de presos. Quando eu assumi, havia 6,7 mil vagas de presos na história do Paraná. Vou deixar o governo com 17 mil vagas, acrescentando 11 mil vagas nesse processo. Isto é segurança também. A patrulha escolar cuidando das escolas, interagindo com os alunos e professores, não é a polícia agressiva, é a polícia solidária, é a polícia comunitária. Isto é todo um processo de mudança de mentalidade. As universidades estão trabalhando conosco. Estamos investindo na formação de policiais e, diga-se de passagem, isso é possível no Paraná na velocidade maior do que outro lugar do Brasil porque temos, apesar dos defeitos, a melhor Polícia Militar e a melhor Polícia Civil do país. E estamos trabalhando em cima disso. Dureza com os policiais que saem da linha, temos afastados policiais, punidos delegados, punidos oficiais da Polícia Militar, num jogo duro e pesado. Mas, com essa visão sempre fraterna – hay que endurecer sin perder la ternura jamas, disse o velho Che certa feita. E essa frase é reproduzida no mundo e se escuta a cada momento. É assim que estamos agindo com a Polícia. Melhoramos os salários dos policiais civis, dos policiais militares. Eu tenho certeza o que hoje na tropa, o que a gente tem é o contentamento. O pessoal está se sentindo valorizado e adere a essa política bonita que o governo está desenvolvendo.Para a população, ela se sente mais segura, na medida que se tem mais policial, isso dá mais sensação de segurança, e isso passa pela integração da polícia civil, polícia militar e investimentos?Requião - Isso é um erro. A saturação policial é a ocupação. Isso os EUA fazem no Iraque e ninguém está seguro lá porque é um país ocupando o outro. Tem 150 mil soldados norte-americanos no Iraque e não adianta nada. Nós temos que tratar da segurança com a isenção das micro-empresas, com os programas sociais, com amor pelos mais pobres, com investimentos que evitem a marginalização da população, com desenvolvimento econômico e compromisso. Em determinados momentos nós temos que apertar. De vez em quando me perguntam: “Requião, o que você acha da invasão das praças de pedágio?” E eu repito: “eu sou contra, contra a invasão das nossas estradas pelas concessionárias”. Agora essa pressão popular em cima do pedágio, só vai acabar quando acabar a exploração. O que eles imaginam que o povo do Paraná é? Um povo de gado, de ovelha, um povo passivo, que vai aceitar a roubalheira sem o estrilo? Não, o estrilo vai aumentar. Nada sustenta o pedágio, a não ser o conserto das tarifas, o rebaixamento ou o fim dele. A demonstração de protesto é uma demonstração de saúde da sociedade, doença é a submissão, a doença é conformismo com aquilo que é rigorosamente inaceitável. Então, saturação não resolve, um conjunto de medidas de segurança implica em políticas sociais claras, políticas de desenvolvimento, de emprego e de polícia também. Nós estamos construindo 11 penitenciárias, 11 mil vagas. Isso não é brincadeira é um investimento brutal. Eu preferia estar construindo escolas, mas não podemos ter delegacias com presos cumprindo penas em celas de delegacia de polícia e vigiados por policiais, agentes que deviam estar na rua, investigando e cuidando da segurança do povo. Nós estamos resolvendo isso. Mas não se resolve o desastre de 10 anos num período extremamente rápido, não se resolve num governo. Eu vou terminar o governo com a segurança em mãos, vocês não tenham dúvida disso, mas os resultados estão aí e são muito bons.Na segurança, o governo vem investindo também em tecnologias, equipamentos?Requião - É o geoprocessamento do crime. Temos hoje o boletim unificado. Cada ocorrência é informada a um computador central e você verifica que nessa região surgiu um determinado tipo de ocorrência. Então nessa região, nós talvez precisemos de investigadores ou talvez nessa região, por um período, precisamos de saturação policial. Você planeja com os dados. Os policiais estão sendo providos de laptop e eles fazem o auto diretamente do laptop e mandam por wireless diretamente para o computador central. Estamos trabalhando com inteligência, com modernidade, com equipamento de ponta e estamos avançando muito bem. E a resposta da Polícia Civil e da Polícia Militar aos programas do Estado tem sido muito boa. Outro dia, fizemos uma série de grandes reuniões e convidamos técnicos de segurança do Japão, dos EUA e do Canadá. E eles fizeram as suas exposições e nós fizemos as nossas e a conclusão deles foi uma maravilha para nós. O Paraná está dando exemplo para o Brasil, este é o caminho, disseram aos nossos oficiais da Polícia Militar e aos nossos delegados e confessaram que alguma coisa eles tinham que aprender com a gente, que nós estávamos andando em alguns setores em passos mais acelerados do que o deles. Agora, uma delegada americana, presidente de uma associação, me impressionou. Eu tinha pelos EUA a visão que a televisão e os filmes passam, de uma polícia brutal e esta mulher que é delegada de um pequeno município, de um pequeno distrito no interior dos EUA, tem uma visão avançadíssima. O tratamento que ela dava aos homossexuais, às minorias, a espécie de contato que ela fazia, a incorporação de participantes dessas minorias na própria polícia para fazer uma interface, o respeito que ela tinha pela liberdade das pessoas me encantou. Então, até mesmo nos EUA, a gente tem muita coisa para aprender em termos de comportamento policial.Como estão os investimentos em educação?Requião - Sessenta e três escolas construídas até hoje. Não são só escolas novas, às vezes tem escola e você [constrói] um prédio novo para a escola. São 63 escolas e 2.880 obras e reformas. O Plano de Cargos e Salários dos professores. No fim desse ano, eu empenhei recursos para que as promoções sejam feitas e que os professores recebam desde o dia que tiveram direito a promoção, não no dia em que o governador assinou o decreto da promoção. Estamos privilegiando o ensino porque dizíamos na campanha que iríamos devolver a alegria na sala de aula, fazer com que o professor trabalhe com prazer, com gosto e eles são maravilhosos. Eles são responsáveis pelo esforço incrível na educação das nossas crianças. E eles merecem por parte do Estado não só salário, mas investimento no desenvolvimento intelectual, cultural, e nós estamos fazendo isso. Nós temos o Projeto Fera de educação artística que é incrível, o Consciência que é para despertar a vocação científica, que também é uma maravilha. Nós temos o Portal da Educação na internet, que hoje é um exemplo para o Brasil, acessado por muitos estados, os professores procurando conteúdo, formando conteúdo, que é um portal interativo. Nós estamos avançando muito. Eu diria que a Educação é um dos grandes bons sucessos do nosso governo.Os pais podem acessar o portal e verificar em que escola o filho vai estudar.Requião - A escola, as professoras, o número de aluno por sala de aula e tudo mais. E no ensino superior, tivemos um Plano de Cargos e Salários para os professores. Dezessete mil professores que não poderiam nunca se aposentar porque estavam em situação irregular, as universidades, com cinco universidades e 12 faculdades no Paraná, é o Estado que mais investe no ensino de terceiro grau e este ano o orçamento é de R$ 550 milhões, dinheiro para ninguém botar defeito. Mas era uma desordem. Um professor de uma faculdade isolada podia ganhar quatro vezes mais do que professor de uma universidade ou ao contrário. Nós equalizamos isso tudo e daqui para frente, quando tivemos que dar, por exemplo, um aumento para o magistério universitário, nós sabemos que esse aumento vai ser para todos na mesma proporção. Porque, antigamente, você dava um tipo de aumento, mas as vantagens pessoais eram tão diversificadas que podiam significar 10% para um e 150% para outro. Isso acabou. Com ajuda dos reitores que foram maravilhosos, nós reordenamos o ensino do terceiro grau no Paraná, que é um ensino de muito boa qualidade.Como se mede essa qualidade no ensino?Requião - Pelo Provão. E o Provão aplicado no Paraná teve resultados brilhantes. Mas a desordem universitária atrapalhou esse processo. Então eu digo para você, nós tínhamos qualidade e muita desorganização. Com mais organização, teremos muito mais qualidade.E sobre os investimentos na saúde, sabemos que o Paraná está construindo mais 15 hospitais, mas a gente vê a televisão pedidos de mais UTI’s, mais leitos.Requião - UTI virou moda igual a este celular da Motorola que todo mundo quer ter um. É a lenda da UTI. Na década 70 não existia UTI, isso surgiu depois dos anos 70. A UTI é indicada para alguns casos e para outros não resolve nada. Então alguns jornais irresponsáveis apontam, de repente, que morreram mil pessoas por falta de UTI. O sujeito tinha uma septicemia, tinha uma trombose gordurosa, tinha quebrado o fêmur. A UTI não é a panacéia universal. Se ela fosse tão maravilhosa ia colocar uma no meu quarto, só dormia nela e não ia morrer nunca mais. Mas nós colocamos 33% a mais de UTI do que havia quando assumimos o governo. A média recomendada pelas organizações de saúde é 4% da estrutura dos leitos hospitalares. A média brasileira é de 3,6%, e a média do Paraná é 5%. Estamos acima da média recomendada. Eu concordo que pode haver uma distribuição irregular disso, por isso que nós estamos ainda investindo nisso. O que não posso admitir é que um procurador, uma juíza, de repente, diga, “o Estado é obrigado a botar 13 UTI’s sob pena de multa ou prisão”. Não entendem disso, cuidem do que entendem porque da saúde do Paraná nós estamos cuidando. Comprar uma UTI para o estado não é nada. Eu podia amanhã comprar duas mil, três mil ou 10 mil. O problema é que a UTI tem uma indicação específica, precisa de uma equipe preparada, tem que saber operar com ela, os médicos são treinados para isso. Isso não é brinquedo para promotor, para se exibir, para conseguir 15 minutos de notoriedade na imprensa, entrar com ações civis públicas. Eu peço ao Ministério Público, principalmente ao de Ponta Grossa, um mínimo de responsabilidade porque que é arranhada, é a imagem da instituição. E o Governo do Estado não está brincando com isso. Eu repito: se o fosse o número, nós podíamos comprar 10 mil, mas tem que haver um mínimo de responsabilidade nesse processo. Nós estamos aumentando e muito. Ponta Grossa, por exemplo, praticamente triplicamos o número e essa gente estava calada no passado e para aparecer agora, porque não encontram mais nada para reclamar, ficam com essa história de UTI. Que pode, sim, estar acontecendo o problema de distribuição em alguns lugares, mas o Estado está resolvendo isso. Tem 33% a mais de quando assumimos e terá quantas mais forem necessárias, mas não tanto quantas o promotor exibido desejar.Já que o assunto é UTI’s, gostaria que o senhor falasse das UTI’s móveis que estão atendendo no litoral durante a Operação Viva o Verão.Requião - Temos UTI’s móveis em veículos terrestres e temos UTI móvel embarcada num belíssimo barco que atende as ilhas.E que faz até salvamento.Requião - Aliás, a nossa Operação Verão é um exemplo para o país. A Operação está muito bem organizada, a atuação dos bombeiros, das Secretarias de Estado – a Secretaria de Turismo, neste Sábado, inaugura um grande espaço de informações junto com as outras Secretarias de estado. O pessoal está sendo muito bem atendido. O litoral tem tido investimento pesado em saúde, ou seja, em tratamento de esgoto, que não tinha nada. E ganhou uma universidade, que era meu compromisso de campanha, em Matinhos. A Universidade do Litoral, uma parceria com a Universidade Federal do Paraná. Fica aqui o meu agradecimento ao Moreira (Carlos Augusto, reitor da UFPR) e ao governo federal também, que me ajudou nisso.O que mais o litoral pode esperar do Governo do Estado?Requião - Esperar tudo. Nós estamos investindo em praticamente tudo. Avenidas em Guaratuba, a estrada em liga Guaratuba ao ferry boat, estamos fazendo um novo acesso que não passe mais pelo centro da cidade. O litoral é objeto das nossas preocupações e um grande investimento na temporada. Não esqueçam que o litoral tem prefeituras, os prefeitos têm responsabilidade, têm arrecadação, eles têm uma bela receita do IPTU. Agora, no momento que o Paraná inteiro vem para o litoral, o Governo do Estado se sente obrigado a participar deste momento. Nós bancamos a coleta de lixo, viabilizamos projetos de saneamento básico, estamos construindo aterros sanitários, mas o fundamental, o Estado é se preocupar com a saúde da população. Água tratada, esgoto tratado, uma coleta de lixo bem feita, aterros sanitários tecnicamente colocados para que não venham poluir o lençol freático, segurança, segurança nas praias, bombeiros, salva-vidas, sistema de socorro, de saúde de emergência bem estruturados, Siate, Samu, ambulâncias, ambulâncias inclusive embarcadas. Entramos pesadamente na Operação. E o que destaco no litoral do Paraná é a transparência e franqueza. Se você for em uma praia do Paraná, você vai ver uma sinalização, “aqui não há condição de balneabilidade, não se deve tomar banho”. Nós mostramos aonde não se deve tomar banho. Ao contrário de outras praias que ocultam isso em nome do que? Do movimento, do comércio, do lucro e contaminam todo mundo. O Paraná prima pela transparência e pela decência na relação que o Estado tem com o seu povo. Então, nas nossas praias quando você encontrar um sinal de balneabilidade, você pode entrar na água. Agora, quando encontrar um aviso de que a água não tem condições para banho de mar, não entre. Porque a franqueza do Estado nos obriga a fazer essa advertência. Muita gente ainda é indisciplinada e se expõe a contaminação. Porque o nosso litoral não tinha esgoto. Esses investimentos começaram no meu primeiro governo. Quando eu saí, por oito anos, tudo foi paralisado. Estou retomando tudo agora. Nós estamos dando ao litoral do Paraná, a condição de segurança impar do país, principalmente no que diz respeito à saúde.Essa polarização entre PT e PSDB não é prejudicial ao país, o PMDB não poderia ser essa terceira opção, ou terceira via?Requião - O projeto econômico do PT e do PSDB é o mesmo projeto. Palocci assumiu elogiando o Malan. Logo depois, FHC disse que tivesse conhecido o Palocci antes, ele tinha demitido o Malan. Então é continuidade de uma política que transforma o país num mercado. É a falta da visão nacional. O PT - com os trabalhadores, os sindicalistas e um número enorme de intelectuais que foi abandonando o partido, entre eles o César Benjamin - passou a seguir o mesmo caminho do FHC e de Fernando Collor. No primeiro momento, eu dizia ao Lula que tinha que ser assim, por uns meses, para tomar conhecimento da máquina e da situação, a política devia ter uma continuidade, nada de rompimentos abruptos. E, depois, ia criando novas estruturas, estruturas econômicas, novo tipo de comportamento, iria crescendo, senão se causa uma anarquia, como disse o velho gênio da sociologia brasileira, o Guerreiro Ramos. [É] a criação de uma nova estrutura que vai crescendo sem o rompimento abrupto das coisas para não anarquizar completamente a economia e sociedade. Mas isso acabou não acontecendo. Hoje, do ponto de vista da política econômica, é a mesma coisa. É a mesma política. Eles só não se entendem porque o pessoal do PSDB não gosta de sindicalistas e de operários. A base do PT é o pessoal que ocupou os cargos em comissão que anteriormente eram ocupados pelo pessoal dos partidos tradicionais. Mas está faltando uma visão nacional. Muita gente me pressiona para ir pa