15/05/2006 18h45 | por Carlos Souza
Para: Editoria de Política e ColunasDistribuído em 15/05/06Jornalista: Carlos SouzaO deputado estadual Kleiton Kielse (PMDB) protestou nesta segunda-feira (15) contra a atual política agrária do Governo do Estado. “O agricultor, que sonhava no mínimo, ter respeito do Banco Central, do Governo Federal e do Ministério da Agricultura, conta com representantes pouco dispostos a resolver a grave crise que se abate sobre o setor”, afirmou o deputado.Um estudo apresentado pelo parlamentar mostra que há três anos, quando uma saca de milho era um produto muito valorizado, era possível pagar um salário mínimo com até 20 sacas. “Hoje, precisamos de aproximadamente 44 sacas para pagar o mesmo rendimento”, explica Kielse.Os problemas sentidos pelos produtores rurais, indiferentemente do seu porte, provêem de diversos fatores e se acumulam pelo menos desde 2004. De um lado, os seguidos períodos de estiagem que dizimaram parte considerável das safras; de outro, a queda de rendimento do setor, que chega a ser 50% menor. “O mais grave dos problemas, no entanto, situa-se na completa despreocupação do governo em implementar uma política agrícola ao mesmo tempo em que descumpre outras medidas”, destacou o deputado, lembrando que o Governo Federal demorou oito meses para liberar os recursos de indenização em questão da febre aftosa. “Vejam bem. Foram oito meses para indenizar os pecuaristas. A oito meses o preço da arroba do gado caiu de R$ 64,00 para R$ 40,00”, acrescentou.“As dificuldades, como se vê, são muito maiores do que as reivindicações dos produtores. E, não é justo deixá-los à míngua – e não por caridade, mas porque o Brasil depende de bons resultados da lavoura para fazer crescer sua economia, para criar empregos”, ressaltou Kielse. Segundo o deputado, agricultores de cinco gerações, a exemplo de alguns que teve contato nos municípios de Mauá da Serra, Faxinal, Borrazopolis, regiões extremamente produtivas do Estado, estão desesperados. “Escutei o choro e vi lágrimas de um produtor de 80 anos de idade, que diz ter não se suicidado, porque tem filhos e netos para cuidar”. Ainda de acordo com o relato desse agricultor, mesmo vendendo sua produção e as terras que detém, não seria possível quitar as dívidas que acumula.Dados da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) mostram que a inadimplência atinge mais de 40% dos produtores, ameaçados de perder suas terras e sem condições de continuar investindo na atividade. “”Se o Governo Federal não implantar medidas de seguro agrícola, uma política de preço mínimo justa e pactuar com o refinanciamento das dívidas agrícolas, teremos sérios problemas. Somente no Paraná, estima-se, haverá perto de 50 mil demissões”, garantiu Kielse.O deputado também denunciou uma política agressiva do Banco do Brasil, que teria determinado uma ordem para entrar nas contas dos agricultores para adjudicar (decisão judicial que algo pertence a alguém ou transfere-se para alguém) o dinheiro dos agricultores. “Estão entrando nas contas dos nossos produtores e qualquer dinheiro que entre está sendo adjudicado pelo Banco do Brasil. Estão executando os agricultores, mostrando o desrespeito desse governo”, disse Kielse. A deputada Elza Correia (PMDB) acrescentou ainda que muitas famílias, principalmente o pequeno e médio produtor, perderam absolutamente a confiança da possibilidade de um vida digna para seus filhos. “Muitos jovens estão saindo do campo, indo para o Japão, para outros países. Famílias estão sendo desmembradas, equipamentos entregues no Banco do Brasil. Ou seja, há um estrangulamento absoluto, não só da economia, mas fundamentalmente das famílias do campo”, acrescentou Elza.Kiese também ponderou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia olhar um pouco mais por esses agricultores, que estão tentando produzir, segurar suas famílias no campo. “Não existe um agricultor que tenha financiamento para honrar e que não esteja devendo pelo menos 50% a mais do que vai colher. Se o governo não aportar recursos a fundo perdido neste momento, não teremos saída para a agricultura”, garantiu o deputado. “É inquestionável. Se o campo for mal, todas as cidades e o país inteiro irão pior”, concluiu o parlamentar que está apoiando o movimento dos agropecuaristas de todo o país, com interdição de rodovias e ferrovias. Nesta terça-feira (16), inclusive, está programada uma mobilização nacional para demonstrar à população brasileira as dificuldades por que passa a agricultura e sensibilizar o Governo Federal a adotar medidas efetivas para combater a crise do setor.