03/07/2007 19h23 | por Sonia Maschke
Os reitores e diretores das universidades e faculdades estaduais disseram não à unificação da data do vestibular em audiência pública realizada na manhã desta terça-feira (3) na Assembléia Legislativa. A proposta do encontro partiu do deputado estadual Valdir Rossoni (PSDB) que está relatando a matéria em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. Por se tratar de um projeto polêmico, Rossoni percebeu a necessidade da realização desta audiência “para se buscar o entendimento entre as partes interessadas e acima de tudo um embasamento para a votação do projeto em plenário”.O autor da proposta é o deputado Luiz Cláudio Romanelli (PMDB) que tenciona fazer com que todas as instituições estaduais de ensino superior do Paraná realizem o concurso vestibular numa única data, coibindo o que ele classificou como “turismo estudantil”.Os reitores e vice-reitores participantes da audiência rejeitaram a proposta de Romanelli, basicamente por dois pontos básicos. O primeiro deles, que seria a intenção de resguardar as vagas para os estudantes da região onde as universidades estão inseridas, caiu por terra, porque as instituições são ocupadas de forma esmagadora por estudantes que moram mais próximos de suas sedes. Na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), segundo informações do reitor João Carlos Gomes, 80% dos alunos pertencem à região de Ponta Grossa e Campos Gerais, outros 10% são oriundos das demais cidades do Paraná e o restante de outros estados. Esses números se repetem em todas as universidades e faculdades estaduais. "Seria uma tragédia limitar a universidade à sua região. Não teríamos o deputado Romanelli aqui hoje, que começou seus estudos em Londrina e depois se transferiu para Curitiba", exemplificou Gomes.A segunda questão dominante na fala dos reitores citou que ao unificar a data do vestibular no Paraná, "o projeto estaria ampliando a exclusão dos alunos menos favorecidos e aumentando o turismo estudantil dos acadêmicos com maior poder aquisitivo, que procurariam vagas em universidades de outros estados", disse Décio Sperandio, da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Para ele, o debate sobre vestibular e ensino superior deve ser mais amplo, na medida em que se tem apenas 11,3% dos jovens de 18 a 24 anos na universidade.A questão de que os estudantes teriam apenas uma única data para conseguir o acesso à universidade pública foi questionada pelo reitor Vitor Hugo Zanetti, da Universidade Estadual do Centro Oeste. “Ter uma única possibilidade por ano para que os jovens tentem o ingresso na universidade é preocupante e questionável”, alertou Zanetti.O reitor salientou ainda que as universidades estão “cumprindo o papel social e realizando suas funções na comunidade em que está inserida”.Até mesmo o diretor geral da secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Jairo Pacheco, se posicionou contrário ao projeto. Pacheco considerou o vestibular como sendo uma “tragédia e que tragédia se administra e tanta evitar. A unificação das datas não seria coerente, pois comprometeria todo o processo estrutural das instituições”.O deputado Valdir Rossoni disse ao final da audiência que ela foi positiva para debater pontos conflitantes e formar opinião. "Eu saio daqui desaprovando este projeto, salvo se for convencido do contrário no decorrer do processo", disse, já adiantando uma tendência do seu parecer na CCJ.Estiveram presentes também os vice-reitores César Antonio Caggiano (UEL), Onildes Maria Taschetto (Unioeste), os diretores Antonio Alpendre da Silva (Fafipar), Wilson Annies (Faculdades de Belas Artes), além da senhora Mari Lane Hutner, representante da secretaria de Educação.Nova audiênciaNa audiência dirigida pelo deputado Durval Amaral (DEM), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), os parlamentares resolveram adotar uma sugestão do deputado Plauto Miró Guimarães (DEM), de realizar uma consulta sobre assunto diretamente na comunidade acadêmica. Ficou acerta que uma audiência, com data a ser definida, será realizada na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).ArrecadaçãoO deputado Artagão Júnior (PMDB), questionou a arrecadação das instituições com o vestibular. O último vestibular da UEL, por exemplo, teve 26 mil candidatos e a inscrição custando R$ 90, o que perfaz R$ 2,3 milhões. "O objetivo é não ter lucro com o vestibular. A cobrança da taxa é para os gastos administrativos com a execução da prova", disse o vice-reitor César Antonio Caggiano, que sugeriu a retirada do projeto para estender a discussão sobre todo o processo do vestibular.É a mesma opinião de Vanderley Ceranto, diretor das Faculdades de Ciências Econômicas de Apucarana, que prevê o aumento da exclusão se o projeto for aprovado. "De acordo com o censo escolar, nós temos 106 mil alunos concluindo a terceira série do ensino médio, ao passo que existem apenas 18 mil vagas nas instituições de ensino superior", dando a medida da enorme demanda por vagas.Estudantes também são contra o projetoEm consultas preliminares realizadas na região dos Campos Gerais e em Campo Mourão, os estudantes se manifestaram contrários à unificação da data, porque gostariam de ter uma segunda chance se não fossem aprovados na primeira tentativa. O deputado Douglas Fabrício (PPS), disse que ele próprio se beneficiou deste sistema, já que conquistou a sua vaga numa segunda prova. "Fui aos colégios de Campo Mourão e os estudantes se manifestaram contrários à unificação", disse.Outro que fez sondagens foi deputado Marcelo Rangel (PPS). Em consulta realizada em Ponta Grossa e na região dos Campos Gerais, em colégios estaduais, cursos preparatórios e sites de rádios, ficou constatado que 74% dos pesquisados disseram não ao projeto e 90% gostariam de ver mudanças no vestibular.Sonia Maschke (41) 3350-4193