Audiência pública discute projeto de lei que institui no Paraná o Dia de Conscientização Contra o Aborto Proposta do deputado Cobra Repórter (PSD) prevê que todo dia 15 de maio seja destinado à promoção de campanhas de orientação sobre o assunto.

09/05/2018 14h55 | por Rodrigo Rossi
Audiência pública sobre o "Dia Estadual Contra o Aborto".

Audiência pública sobre o "Dia Estadual Contra o Aborto".Créditos: Dálie Felberg/Alep

Audiência pública sobre o "Dia Estadual Contra o Aborto".

Uma audiência pública na manhã desta quarta-feira (9), na Assembleia Legislativa do Paraná, discutiu o projeto de lei nº 303/2017, de autoria do deputado Cobra Repórter (PSD), que institui no Paraná o Dia de Conscientização Contra o Aborto. Segundo o projeto, o dia 15 de maio seria destinado anualmente para a promoção de campanhas de informação, orientação e seminários acerca do assunto. Durante a reunião, grupos favoráveis e contrários à iniciativa discutiram pontos que poderão ser alterados ou mesmo aprimorados na proposta.

Para a coordenadora do Promulher, da Defensoria Pública do Estado, Eliana Tavares Paes Lopes, algumas alterações na proposição poderiam contemplar de forma mais precisa o tema. “Temos que olhar pelo aspecto jurídico. Sabemos que muitas mulheres morrem por fazerem abortos clandestinos, crianças são abandonadas em caixas de sapato. No entanto, institucionalmente, o projeto da maneira como está foge da questão relativa à saúde e passa ao viés penal”.

Entre as sugestões, a inclusão de iniciativas voltadas à prática de uma efetiva política de saúde pública, e até mesmo intervenções na redação do projeto, substituindo-se a expressão “contra o aborto” pela expressão “sobre o aborto”, por exemplo. “A questão central aqui não é ser contra ou a favor do aborto, até porque esta alteração legislativa é de competência federal. Mas temos que pensar numa perspectiva de proporcionalidade, de garantia de direitos”, ressaltou a defensora.

Na opinião da vice-presidente do Conselho Estadual da Mulher, Carmem Regina Ribeiro, o tema do aborto precisa ser discutido sem preconceitos contra as mulheres, de forma que o Estado também seja protagonista na proteção da garantia de igualdades e de combate a todas as formas de violência. De acordo com ela, dados do Ministério da Saúde mostram que os casos de internação por complicações por abortos clandestinos chegam a 200 mil por ano, nos últimos anos, representando algo próximo de R$ 142 milhões em custos para o sistema de saúde.

“Podemos aprofundar o debate deste projeto, porque apesar do aborto ser crime, com algumas possibilidades expressamente autorizadas por lei, existem muitos casos clandestinos e que trazem sérias consequências. O aborto clandestino é a quarta causa de morte materna. Portanto, este é um tema que ainda não está pacificado na sociedade. O Conselho se posiciona contra o projeto como ele está colocado, porque existe muito mais um aspecto coercitivo em relação ao tema”.

Falando sobre a experiência médica, Rosires Pereira de Andrade, professor titular de reprodução humanada da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e presidente da Comissão Nacional de Violência Sexual da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, disse que a iniciativa de colocar o assunto em pauta é, em todo caso, positiva. “A questão do aborto é sempre propícia a discussões. É muito importante debater isso. Porque temos muitos casos de suicídios de mulheres grávidas que desejam abortar. E aí não tem religião que possa impedir isso. Temos que respeitar o desejo da mulher, até porque a violência sexual não é brincadeira. O aborto deve ser evitado, ninguém quer um aborto. Mas precisamos de campanhas permanentes e efetivas de planejamento familiar”.

Questões econômicas, de falta de maturidade ou de possíveis mudanças num projeto de vida foram algumas das causas apontadas pelo arcebispo da Diocese de Curitiba, Dom José Antônio Peruzzo, sobre a decisão sobre o aborto. “Ninguém chega a uma decisão sobre abortar sem dificuldades. Vários são os pontos para uma decisão, desde o econômico até uma falta de preparação para a mudança de vida. Existe, evidentemente, uma discussão sobre quando uma vida é concebida, e não apenas pelo sentido religioso, mas passando por um olhar antropológico da condição humana, que precisa ser considerado”.

Favorável ao projeto de lei, o representante da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família, Hermes Rodrigues Nery, disse que a população brasileira, em recentes pesquisas, já demonstrou ser claramente contrária à legalização do aborto. O participante criticou ainda o que classificou como ativismo judicial. “A população é contra o aborto e em tentativas de fazer tramitar um projeto assim no Congresso Nacional, já houve um sonoro não para essa agenda. No entanto, temos visto uma série de decisões judiciais favoráveis ao aborto, um ativismo que inclusive atropela as prerrogativas do Poder Legislativo, que é quem deve dispor sobre isso. Por isso sou favorável ao projeto deste dia de conscientização”.

A sexualidade precoce e a sua relação com as tecnologias foi ainda lembrada pela presidente do Instituto Tecnologia e Dignidade Humana, Cineiva Campoli Paulino Tomo. “O direito da mulher precisa ser respeitado em todos os sentidos. Mas temos observado que cada vez mais adolescentes estão engravidando muito cedo. Quando o deputado Cobra traz a questão do aborto, surgem outras situações, como a erotização precoce, inclusive relacionada às tecnologias e que necessitam de proteção também”.

O padre Edivan Pedro dos Santos, da Paróquia Santa Rita de Cássia, de Londrina, também integrou a mesa de trabalhos e elogiou a proposição de Cobra Repórter, autor do projeto que defendeu a necessidade de uma legislação para despertar a atenção da população sobre o assunto. Na sua manifestação durante a audiência, o parlamentar disse que espera o prosseguimento da sua tramitação no Legislativo. “Este projeto visa reduzir o índice de abortos clandestinos. Tenho acompanhado os malefícios desta prática, com impactos na saúde, fetos sendo jogados no lixo e crianças sendo abandonadas. Acredito que o debate sempre é esclarecedor e que a nossa proposta tenha sua regularidade aqui na Assembleia”, afirmou.

Os deputados Pastor Gilson de Souza (PSC), Cantora Mara Lima (PSC), Evandro Araújo (PSC), Marcio Pacheco (PPL) e Tadeu Veneri (PT) também participaram da audiência.

 

Agenda

TRAMITAÇÃO DE PROJETOS

LEIS ESTADUAIS

PROJETOS PARA JOVENS

  • Visita Guiada
  • Geração Atitude
  • Parlamento Universitário
  • Escola do Legislativo
Assembleia Legislativa do Estado do Paraná © 2019 | Desenvolvido pela Diretoria de Comunicação