Levantamento inédito mapeia realidade das lésbicas no país LesboCenso foi tema de audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.

15/02/2022 12h51 | por Ana Luzia Mikos
LesboCenso foi tema de audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.

LesboCenso foi tema de audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.Créditos: Reprodução Zoom.

LesboCenso foi tema de audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.

Uma pesquisa inédita pretende dar visibilidade à realidade das mulheres lésbicas no país. O 1º LesboCenso Nacional coleta dados para tentar mudar o cenário de subnotificações de crimes, violação de direitos e da falta de políticas públicas específicas a essas mulheres.

O levantamento começou em agosto de 2021 e já reuniu dados de 15 mil mulheres. Mas elas querem muito mais. “É a primeira pesquisa no mundo, estamos fazendo história para sair do apagamento à visibilidade. Nosso objetivo é estar em todo o país”, explicou a articuladora nacional da Liga Brasileira de Lésbicas e da Rede Lésbi Brasil, e integrante do Conselho Nacional Popular LGBTI, e uma das coordenadoras do censo, Leo Ribas.

E foi para ampliar este alcance que representantes de movimentos sociais pediram a realização da audiência pública realizada nesta terça-feira (15) na Assembleia Legislativa do Paraná para ter o apoio na divulgação do LesboCenso. O evento com o tema “Mapeamento Sócio-demográfico de Lésbicas e Sapatonas no Brasil” foi promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Cidadania, presidida pelo deputado estadual Tadeu Veneri (PT).

“A iniciativa da pesquisa foi tomada pela sociedade civil organizada e conta com apoio de mais de 80 organizações. Precisamos aumentar a divulgação em diferentes espaços públicos, como unidades de saúde, Centros de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), escolas públicas de educação de jovens e adultos”, explicou Leo Dias.

A intenção é fixar nestes locais os cartazes do censo que possui QR Code que direciona para a pesquisa. Outra demanda é o auxilio para o ingresso das equipes para levantamento nas unidades prisionais femininas no Paraná para a aplicação do formulário impresso.

Lacuna

Com questões sobre renda, trabalho, educação, saúde, relacionamentos, relações familiares e redes de apoio, o LesboCenso tenta suprir uma lacuna de outras pesquisas.  “Nem o censo do IBGE, nem a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua perguntam a orientação sexual ou a identidade de gênero das pessoas. Só é possível a notificação da mulher lésbica que vive em união estável ou é casada com a responsável pelo domicílio, o que exclui as que moram sozinhas ou com parentes”, exemplificou a pesquisadora, pós-doutora em Educação e coordenadora do Ngds/Sipad/UFPR, Dayana Brunetto.

A ausência de dados e informações com recortes específicos dificulta a criação de leis e políticas públicas que garanta a promoção de direitos e de combate à violência.

Leo Ribas citou na audiência um estudo divulgado em 2020, conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz e outras entidades, mostrando que, de 2015 a 2017, houve quase 25 mil notificações de violência contra o grupo LGBTQIA+.  Destas, 46% foram contra travestis e transexuais, 32% contra lésbicas e 25% contra gays.

“Mesmo a lesbofobia aparecendo na segunda posição, isso não se mostra importante no planejamento e desenvolvimento de políticas públicas e sociais”, pondera a psicóloga, professora universitária e ativista LGBTI, Grazielle Tagliamento. Entre os crimes está o chamado estupro corretivo, praticado para “ensinar” o que se espera de uma mulher de verdade.

A partir da coleta das informações – que é feita com base na Lei Geral de Proteção de Dados –, será possível observar os fatores que contribuem para uma maior vulnerabilidade individual, social e programática de lésbicas no Brasil.

“Com essas informações, quando os movimentos baterem à porta da gestão municipal, estadual e federal terão de arrumar outras desculpas para nos negarem politicas públicas a que temos direitos”, reforçou a Dayana Brunetto.

“Muito mais do que um censo, é uma pesquisa que mostrará o lugar que essas lésbicas estão e permitirá que se possa pensar em uma sociedade mais equânime enquanto orientação, raça e classe”, afirmou a historiadora e vice-presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, Heliana Hemeterio.

O promotor de Justiça do Ministério Público do Paraná, do Centro de Apoio de Operacional das Promotorias (CAOP) de Direitos Humanos, Rafael Osvaldo Moura defendeu a importância do projeto. “Cabe ao poder público tanto atuar nos casos individuais quando há preconceito e violações por conta desse motivo, mas, principalmente, é necessário que todo o sistema de justiça, polícia, legislativos e Poder Executivo desenvolvam atos e programas que enfrentem a discriminação estrutural”, afirmou.

“Surpreende a discriminação e, principalmente, a invisibilidade e o desconhecimento de toda essa realidade tão sensível. A necessidade é extremamente premente de fazer a publicização desses dados”, reconheceu o deputado Tadeu Vereri ao finalizar o encontro.

 

 

 

Agenda

TRAMITAÇÃO DE PROJETOS

LEIS ESTADUAIS

PROJETOS PARA JOVENS

  • Visita Guiada
  • Geração Atitude
  • Parlamento Universitário
  • Escola do Legislativo
Assembleia Legislativa do Estado do Paraná © 2019 | Desenvolvido pela Diretoria de Comunicação