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Assembleia Legislativa debate como os aspectos socioculturais influenciam a prática do bullying entre crianças e adolescentes

O evento reuniu professores, psicólogos e profissionais da segurança pública.

Encontro ocorreu no Plenarinho da Casa na manhã desta segunda-feira (20).
Encontro ocorreu no Plenarinho da Casa na manhã desta segunda-feira (20). Créditos: Valdir Amaral/Alep

A Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Paraná, presidida pelo deputado Nelson Justus (União), promoveu, na manhã desta segunda-feira (20), a série de palestras “Aspectos Socioculturais e Bullying”. O evento, realizado no Plenarinho Deputado Luiz Gabriel Sampaio, reuniu professores, psicólogos e profissionais da segurança pública em um diálogo sobre os papéis da família, da escola e da sociedade na prevenção e no combate ao bullying entre crianças e adolescentes — dentro e fora do ambiente escolar, inclusive nas redes sociais.

Partindo da premissa de que o bullying se alimenta do silêncio, o trio de palestrantes abordou a importância de acolher as vítimas dessa prática, que deixa marcas emocionais profundas, e de adotar medidas para evitar que o comportamento abusivo dos agressores se perpetue.

“O bullying é uma situação que está subnotificada e a gente precisa olhar para isso. Então, quanto mais conhecimento e mais notificação, melhor para definir as formas de enfrentar o problema. É muito importante esses momentos em que podemos contribuir com informação para pais e escolas, a fim de que todos estejam munidos de conhecimento para combater esse tipo de violência. Bullying não é brincadeira”, explica a psicóloga e neuropsicóloga Fabiana Canda, uma das palestrantes do evento.

“Quando ocorrem atentados, percebemos que isso se volta para a escola, porque a semente disso começa lá. As pessoas adquirem traumas por meio da violência física, verbal ou psicológica, que afetam a autoestima e o desempenho na vida adulta. A escola precisa de muita informação e de estratégias eficazes contra o bullying. Muitas vezes, não se fala sobre o assunto, achando que não vai acontecer, e tampouco há medidas efetivas de combate ou espaços de escuta — tanto por parte da escola quanto dos pais. Falta acolhimento, diálogo sobre saúde mental e consciência de que não se deve brincar com o que fere o outro. Quando fortalecemos o aluno para falar sobre isso, a escola consegue responsabilizar o agressor e acolher a vítima”, complementa.

Prevenção e combate

Em sua fala, o coronel Jorge Costa Filho, da Polícia Militar do Paraná (PMPR), destacou a importância do exemplo familiar e da participação efetiva dos pais na vida dos filhos para prevenir a disseminação da prática do bullying.

“O bullying é uma ação que atinge principalmente pessoas vulneráveis, emocionalmente instáveis — uma criança em fase de formação, um adolescente em busca de autoafirmação. E não acontece só na escola. Há pessoas que sofrem bullying dentro de casa, no trabalho, na própria família. Quem nunca viu, em uma reunião familiar, o pai ou a mãe brincando, falando mal de um parente, criticando um vizinho, enquanto a criança observa? Ela passa a acreditar que, se o pai pode falar mal de alguém, ela também pode. Educação começa, sim, em casa, com o exemplo dos pais. A escola tem a obrigação de instruir e, ao detectar algo errado, comunicar aos responsáveis. Mas a escola não educa — a escola instrui”, ressalta.

Ele destacou que existem ao menos uma dezena de formas diferentes de bullying que podem atingir vítimas de qualquer idade: cibernético, discriminatório, social, físico, verbal, psicológico/social, sexual, material, relacional e preconceituoso — muitas vezes praticados em conjunto. O coronel também atribuiu às redes sociais e à busca por seguidores boa parte dos casos atuais.

“Infelizmente, os casos são cada vez mais frequentes, principalmente os de cyberbullying. Há pessoas que fazem qualquer coisa por um like, por serem aceitas nas redes sociais. Acabam expondo outras pessoas em situações vexatórias, porque quanto mais constrangedora for a exposição, mais curtidas terão. Por isso, hoje existe uma lei que responsabiliza os pais de crianças que cometem bullying — já que menores de 12 anos são inimputáveis. Adolescentes podem ser alvo de medidas socioeducativas, e os pais também podem ser responsabilizados, conforme a situação. Já os adultos podem ser condenados a penas de dois a quatro anos de prisão na esfera penal. Além disso, há a esfera cível, que pode determinar reparações financeiras, como indenização por danos emocionais, tratamento psicológico e hospitalização da vítima, por exemplo.”

Papel central

Para o advogado Gustavo Barbosa Camargo, especialista em Direito Educacional, a escola tem papel central nesse processo. Partindo do dado de que, no Brasil, um caso de bullying escolar é registrado a cada sete minutos, ele defendeu que a vigilância constante no ambiente escolar é essencial.

“Quando pensamos nos casos de bullying, a escola tem um papel muito importante e ativo, tanto no combate quanto na tentativa de eliminar essa prática. Antes de tudo, é fundamental que tenha protocolos claros sobre como atender crianças vítimas e combater o problema. Isso se faz com palestras, conversas com as famílias — especialmente com as dos agressores e das vítimas. A escola tem papel decisivo nesse enfrentamento, até porque o bullying, na grande maioria dos casos, ocorre dentro do ambiente escolar”, explica.

Ele lembra que, em caso de omissão, os administradores podem ser responsabilizados criminalmente, principalmente se a instituição não possuir regulamentos claros sobre o tema, falhar na identificação e documentação dos casos ou não adotar medidas efetivas de combate.

“A escola pode, sim, ser responsabilizada em casos de omissão. Pode até ser considerada coautora se não tomar nenhuma atitude. Ela possui mecanismos para identificar essas situações, pois conhece seus alunos e pode perceber quem pratica e quem sofre bullying. A escola precisa manter esse olhar atento e um canal aberto de diálogo com as famílias, para realmente prevenir e combater o problema — e, pelo menos, reduzir sua ocorrência”, complementa.

Além do olhar atento dos educadores, o advogado destacou a importância da presença efetiva dos familiares no acompanhamento das atividades das crianças e adolescentes. “Quando perceberem algo diferente no comportamento dos filhos, os pais devem procurar a direção da escola e informar o que está acontecendo. Em resumo, os pais sempre devem buscar a escola e manter esse diálogo aberto.”

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