Assembleia debate políticas públicas para crianças e adolescentes com altas habilidades ou superdotação Encontro promovido pela Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, do Adolescente e da Pessoa com Deficiência reuniu pais e especialistas para tratar do tema.

21/03/2023 14h04 | por Ana Luzia Mikos
Reunião ocorreu na manhã desta terça-feira (21), no Auditório Legislativo da Casa.

Reunião ocorreu na manhã desta terça-feira (21), no Auditório Legislativo da Casa.Créditos: Orlando Kissner/Alep

Reunião ocorreu na manhã desta terça-feira (21), no Auditório Legislativo da Casa.

O orgulho de ter um filho superdotado ou com altas habilidades contrasta com a realidade que fez as mães dessas crianças chorarem durante a Audiência Pública realizada nesta terça-feira (21), da Assembleia Legislativa do Paraná. O grande motivo é a falta de compreensão e capacitação no atendimento. E é isso que o projeto de lei 564/2021 busca amenizar no Paraná.

O encontro debateu a implantação de políticas públicas para crianças e adolescentes com altas habilidades ou superdotação no estado. Muitos pontos destacados devem ajudar incrementar a proposta apresentada pelo deputado Evandro Araújo (PSD), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, do Adolescente e da Pessoa com Deficiência (CRIA) e proponente do encontro.

“Hoje, um estudante com essas capacidades, em geral, não encontra na escola um ambiente adequado para desenvolver suas habilidades e sofrem muito. Vamos fazer um esforço grande para colher as informações trazidas aqui e colocar no projeto. Temos muitos entraves jurídicos, mas podemos dialogar com a Secretaria de Educação do Estado e até com o MEC (Ministério da Educação)”, afirmou o parlamentar.

“Não podemos ultrapassar a lei e precisamos cobrar dos municípios, responsáveis pela educação infantil (onde geralmente é feita identificação da criança superdotada), para colaborar ao máximo com essa situação”, reforçou o deputado Pedro Paulo Bazana (PSD), também integrante da comissão.

Dificuldades

Caroline Volpato, mãe de uma criança com identificação de Superdotação/Altas Habilidades relatou parte das dificuldades enfrentadas. “Muitos pais se calam, por sermos mal interpretados, por nos acharem prepotentes, por dizerem que nosso filho é melhor que outro, o que não é verdade. As crianças sofrem muito, por terem habilidades e não serem estimuladas. Ficam isoladas. Falta conhecimento técnico dentro das escolas. Não há como identificar sem conhecer. Por isso a importância de políticas públicas que interfiram na escola para que essas crianças não se percam no meio do caminho”, disse, emocionada.

“A inclusão do aquém é muito aceita, já de quem está além é vista um desperdício de recurso financeiro” cita a advogada Fabrizia Angelica Bonatto Lonchiati, mãe de uma menina superdotada. Ela atende pais que vivem esta situação e por vezes precisam judicializar a educação dos filhos.

Muitos cobram atendimento da rede privada, outros defendem a aceleração no ensino, que objetiva adequar o nível de conhecimento do aluno com altas habilidades/superdotação a um contexto curricular ajustado a necessidade das crianças.

Foi isso que não aconteceu com Benício, um dos casos exemplificados. Com cinco anos ele está na terceira escola e por 15 dias não entrou na linha de corte para a aceleração. A inadequação pode desestimular e levar as crianças a quadros depressivos.

O médico psiquiatra e doutor em Saúde Mental Felipe Pinheiro de Figueiredo, alerta para este risco. Ele cita ainda a dupla excepcionalidade. “É mais regra que exceção. É uma condição unindo altas habilidades em conjunto com um transtorno mental. Às vezes a crianças fica tão ansiosa por performance que vai mal na prova, por exemplo. O que era alta habilidade e ansiedade leve, se agrava podendo levar a suicídio”, alertou

Segundo ele, alunos sem acompanhamento podem ter dificuldade de ajustamento e adaptação. “Com um sistema de identificação eficaz, seriam corretamente atendidos e amparados em sua trajetória, por isso a importância desse projeto da Assembleia Legislativa do Paraná”, afirmou.

“Estamos diante deste projeto que pode ser a primeira política estadual clara límpida para atendimento e que pode incluir mais questões a ponto de evitar a judicialização”, avaliou a psicóloga, doutora em Educação e especialista em Superdotação, Cristina Maria Carvalho Delou. Ela criou o Programa de Atendimento a Alunos com Altas Habilidades/Superdotação na Universidade Federal Fluminense e Coordenadora-Geral de Políticas, Regulação e Formação de Profissionais de Educação Especial do Ministério da Educação e atualmente Presidente do Conselho Brasileiro de Superdotação – Conbrasd, que completa 20 anos.

Crescimento exponencial

Apesar da necessidade de avanços, o Paraná comemora algumas conquistas. Doutora em Educação e Especialista em Superdotação, na Secretaria de Educação Estadual (Seed/Dee), Denise Maria De Matos, mostrou o crescimento dos casos no estado. Em 31 de novembro de 2022, eram 3.877 identificados, já em 16 de março a conta chegou a 5.630.

“Estão crescendo exponencialmente e as abertura de salas de recursos especiais acompanham esse crescimento”, citou. Hoje são 248 salas especiais para atendimento no contraturno, 20 escolas de referência, 140 aulas enriquecidas para apoiar os professores, além de outras atividades.

Paula Sakaguti, professora aposentada e mãe de um jovem com identificação de Superdotação/Altas Habilidades, comemorou o crescimento das salas de recursos especiais, por serem o ambiente onde as crianças encontram seus pares e se reconhecem.

“Sala de recursos, formação de professores e apoio aos pais são o tripé para a criança superdotada ser feliz. Tive muita sorte” conta. Mas também chora ao dizer que esses cuidados não existem em muitas universidades, como a que o filho estuda em São Paulo. “Um talento que só não se perde graças ao apoio da família”, alertou.

Características

Habilidade acima da média, criatividade e envolvimento nas tarefas são três características importantes para identificação dos educandos, segundo a pedagoga especialista em Superdotação/Altas Habilidades, Greice Cristiane dos Santos Carraro. “Mas além da identificação, o grande desafio é garantir oportunidade para desenvolvimento pessoa num contexto sócio-cultural”, comentou.

A psicóloga, Silvia Altoé, mestre em Identificação e Avaliação da Superdotação/Altas Habilidades, comenta que há uma visão distorcida. “Se não é uma doença porque profissionais psicólogos, médicos e psiquiatras são tão procurados? A incompreensão ou negação acaba sendo prejudicial a todos os envolvidos”, lamentou.

Também participaram representantes dos deputados Gilson de Souza (PL) e Flavia Francishini União), que integram a Comissão.

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