A agricultura convencional no Paraná despeja no meio ambiente cerca de 120 mil toneladas de agrotóxicos por ano – aproximadamente 180 Kg por minuto, que vão para a água, para o ar e para os seres humanos, quando comem esses alimentos. “É uma nuvem de veneno”, resume o deputado Luiz Eduardo Cheida, presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná. Ele fez esse alerta ontem à noite, na qualidade de palestrante da Semana Acadêmica do Curso de Direito da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter), a convite do Centro Acadêmico de Direito Celso Duvivier de Albuquerque Mello. Cheida começou sua fala mostrando que o desenvolvimento, quando perseguido sem a ótica da sustentabilidade, cobra altos preços. Exemplificou citando que o Paraná, apesar de ocupar apenas 2% do território brasileiro, responde por 25% da produção de grãos no país. Porém, para chegar a esse nível, desmatou cerca de 92% de sua cobertura florestal nativa nos últimos cem anos. O deputado discorreu ainda sobre os males da fumicultura. “Essas roças são pulverizadas com muita freqüência com herbicidas, fungicidas; é uma sopa de química”. O resultado disso, segundo ele, é que, nas regiões onde grassa esse tipo de plantação, a incidência de câncer cerebral em crianças de até dez anos é maior do que em localidades sem plantio de fumo. “Será coincidência? Parece que não”. Ao mesmo tempo, Cheida lembrou que a miséria é incompatível com a preservação da natureza. “A questão ambiental é, antes de mais nada, uma questão social – é casa, trabalho, salário e renda -, porque a pessoa, se tiver fome, não ouve discursos ambientalistas. O mais importante para ela é comer”. Ele registrou, porém, que o outro lado da moeda – o poder econômico – também contribui, e muito, para desequilibrar a balança do meio ambiente. “A sede de lucro, da acumulação de bens, é tão perniciosa para a natureza quanto a miséria e a fome”. Autor do Projeto de Lei que institui no Paraná o Pagamento por Serviços Ambientais, Cheida voltou a defender que se puna quem infringe a legislação ambiental, mas que, em paralelo, se bonifique quem a cumpre. “O agricultor, ao manter a reserva legal e as áreas de preservação permanente em suas terras, presta um serviço a toda a sociedade e ao planeta”. Segundo o deputado, a tecnologia, que proporcionou à raça humana avanços inegáveis no âmbito da saúde, por exemplo, teve um aspecto danoso: “a tecnologia foi nos apartando da natureza; hoje, muita gente não consegue entender que é natureza também”.Cheida concluiu a palestra propondo “menos arrogância”. “As espécies que sobrevivem são as que buscam táticas de solidariedade para com as outras e para com a própria espécie. Não somos mais importantes do que as outras espécies e nem menos importantes; somos tão importantes quanto qualquer outra espécie”.