19/10/2009 18h17 | por Zé Beto Maciel - Francisco Vitelli / H2foz@hotmail.com - Contato@luizromanelli.com.br - Zbm@luizromanelli.com.br / 41 9241-2401 - 3350-4191 / Www.luiz
Meus caros amigos e irmãos, Meus queridos companheiros, e agora conterrâneos paranaenses: Que bom me sentir em casa. Até agora, eu era paranaense de coração. E isso já não era pouco! Agora, sou cidadão paranaense de coração, de corpo e de alma. Eu já percorri muitas vezes as terras do Paraná, porque este Estado é muito rico em manifestações de todos os tipos, da política à cultura, da economia ao esporte, do turismo à religião. Durante todos estes anos, nas minhas viagens quase que semanais, do Rio Grande até Brasília, o Paraná também sempre esteve, geograficamente, no meu caminho. Um dia, uma paranaense, igualmente de coração, corpo, alma, e de certidão de nascimento desta terra, cruzou o meu caminho. O caminho da minha vida. É que o destino me reservou uma bela companheira, vinda lá de Capanema, para seguir comigo nesta minha travessia. A Ivete era, até aqui, uma paranaense casada com um gaúcho. Pois é, Ivete, agora somos, além de tudo o que nos une, conterrâneos. Com muita honra! A Ivete é descendente de avós alemães e italianos. Uma legítima paranaense, portanto. Como são legítimos paranaenses todos os descendentes de japoneses, de franceses, de suíços, de lituanos, de poloneses, de ucranianos, de ingleses, de alemães, de libaneses e de tantos outros povos, que, como ela, aqui nasceram. É que o Paraná é uma terra benfazeja que acolhe todos os povos do mundo. Diria, a propósito deste momento da nossa história, e me inspirando no discurso do Presidente em Copenhagen, que o Paraná é um “Estado Olímpico”, porque aqui estão representados todos os continentes, como elos ligados pela cultura, pela solidariedade, pelo humanismo, pela ética, pelo trabalho. Pela vida, enfim. Não é à toa que o Paraná é conhecido como “Terra de todas as gentes”. As festas, as danças, as roupas, a beleza das cores, o artesanato, a língua, as missas e cultos no idioma pátrio, demonstram o orgulho de todos esses povos de serem de cada uma das suas respectivas origens. A vida, a paixão de serem paranaenses. Chamou-me a atenção, a propósito, o fato de alguns povos, que para aqui vieram, e que aqui se fixaram, festejarem suas respectivas datas de independência, ao mesmo tempo em que celebram a colheita dos produtos que aqui cultivam. O Paraná os acolheu e os uniu, na vida e na lida. Eu me encanto, sempre que assisto às apresentações de grupos folclóricos do Paraná. Uma beleza indescritível e uma riqueza incomensurável. Tradições milenares trazidas pelos imigrantes vindos de todos os pontos do planeta. Curitiba, por exemplo, respira cultura, do clássico ao popular, da música erudita que nos enleva em silêncio, aos grandes shows para multidões. A música medieval, a renascentista, a barroca e a contemporânea. A cidade criou espaços apropriados para cada uma destas manifestações culturais. Onde tamanha diversidade poderia fazer constituir uma verdadeira Torre de Babel, ao contrário, fez-se brotar uma luz, como nos escritos bíblicos, e todos se entenderam, embora tivessem vindo de tantos, e de tão distantes, lugares. Mas, o Paraná é, na sua melhor essência, o Brasil. Para aqui vieram todos os sotaques deste país de tantos contrastes. E que aqui passaram a conviver com todas as línguas, com todos os costumes e todas as crenças. Por exemplo, existem, hoje, no Paraná, mais de 320 mil gaúchos. Todos nascidos no Rio Grande do Sul e que para aqui vieram e aqui se sentiram em casa. Aqui nasceram, depois, filhos, netos, bisnetos, e que formam, agora, a grande família paranaense. Quantos serão os paulistas, os mineiros, os matogrossenses, os catarinenses, os nordestinos de todos os estados, que também aqui se estabeleceram, e aqui pavimentaram os seus caminhos? Quantas serão, também, as manifestações culturais destes nossos conterrâneos, que se juntam ao “daí”, e falam e cantam em “uai”, “ué”, “tchê”, “oxente”... A Festa do Tropeiro, tradição originada na região das missões jesuíticas de Sete Povos, no Rio Grande, os Fandangos, a Congada da Lapa, as Folias de Reis, as Bandeiras do Divino, a Dança de São Gonçalo, as Cavalhadas, as Congadas, o Boi de Mamão, o Cuá-Fubá... Quem não se emociona, em qualquer lugar do Universo, em todos os natais, com o coral dos meninos do antigo prédio do Bamerindus? Como não se orgulhar das Cataratas do Iguaçu, patrimônio de toda da humanidade? Quem não gosta de um lugar onde se misturam, deliciosamente, os cheiros do churrasco, do tutu, a paulista ou a mineira, da feijoada, do boi e do porco no rolete, do carneiro no buraco e do barreado? Como não se encantar com os verdes campos desta terra? O Paraná, do alto, é uma mistura de tonalidades, que identificam produtos e fases de plantio e de colheita. De soja, milho, trigo, feijão, café, algodão, mandioca, cana-de-açúcar, arroz, frutas de todos os tipos. Da erva-mate do nosso inseparável chimarrão. Presença obrigatória nas nossas mesas de refeição e de trabalho. Ponto de união nas nossas tertúlias. Para os que ainda preferem as rodadas de cerveja, o melhor malte e a melhor cevada, que são daqui e do Rio Grande do Sul. A qualidade da indústria alimentícia do Paraná é ponto de honra nas prateleiras dos supermercados de todo país e de muitos outros países. A agroindústria paranaense é uma das mais desenvolvidas do Brasil. Aqui está um dos maiores parques de moagem de milho e soja da América Latina. Poderia enaltecer tantos outros setores industriais de excelência, como o mobiliário, o de papel e celulose, o de produtos químicos e o metal-mecânico. A região metropolitana de Curitiba é, hoje, um dos mais importantes pólos de produção de automóveis do país. O Paraná comemora, neste ano, 25 anos da Usina de Itaipu. Comemora e ostenta. Afinal, não é em lugar qualquer que se pode construir a maior usina de geração de energia do mundo. Cá entre nós, eu também desconfio que todos os campos deste país têm uma inveja santa dos pinheiros do Paraná. Muita coisa aconteceu nesta terra, e que marcaram a nossa história. Também são tantos os grandes personagens daqui, que contribuíram, em muito, na construção da nossa trajetória política. Cito, como exemplo, um fato e um destes personagens maiúsculos: o fato, a semente de criação do MERCOSUL. Foi em 1985, numa reunião idealizada por mim, quando governador do Estado do Rio Grande do Sul, e que aconteceu em Foz do Iguaçu. O personagem, o meu grande amigo e da mais saudosa memória, o então Governador do Paraná, José Richa. Na verdade, foi mais um dos nossos encontros, sempre no mesmo caminho e na mesma trajetória. Ali, nós semeamos, juntos, a planta do Mercosul. A “Declaração de Iguaçu”, num primeiro momento para aproximar Brasil e Argentina, estabeleceu as bases para a integração econômica do Cone Sul. Nossos caminhos e nossa trajetória, eram os mesmos, porque o Richa e eu já vínhamos, juntos, de muitas outras lutas históricas pela democracia no nosso país. Somos fundadores do velho MDB de Ulysses Guimarães. Como esquecer a sua voz firme, nos palanques do Movimento Diretas-Já, como aqui mesmo, em Curitiba, naquele novembro de 1983? Como não se lembrar da sua coragem, quando foi preciso enfrentar a força-bruta da ditadura? Não foi por acaso que ele foi o primeiro governador eleito, democraticamente, do Paraná, depois de duas décadas de regime militar. Aqui no Paraná está a minha querida amiga Ittala Nandi, que soube, como poucos, perceber a importância da diversidade cultural desta terra. Ela, e o Governador Requião, através do incentivo à produção audiovisual, do Pólo de Cinema e dos Festivais, abrem um espelho para o mundo, na verdadeira missão de unir todos os povos. Povos diferentes na cultura. Semelhantes no projeto de vida. Iguais na esperança por um mundo melhor. Aliás, essa sensibilidade do Governador Requião com o cinema é de sangue. Não há como contar a história da produção cinematográfica paranaense e brasileira, sem a lembrança do seu tio-avô Anníbal Requião. Uma história mais que emocionante. Filmava, no final do século XIX, início do século XX, as coisas e a gente do Paraná e, não contente com tão belas imagens e com seu feito pioneiro, tocava ele mesmo a sua pianola e o seu oboé, para adicionar a sensibilidade que deixou de herança para os que vieram depois. Requião... Meus queridos irmãos paranaenses: Eu quero, neste instante, já alimentado pela solidariedade típica do povo daqui, dividir esta honraria que me concede a Assembléia Legislativa do Estado do Paraná com todos os que para cá vieram, e que se tornaram paranaenses, acolhidos que foram pela hospitalidade deste mesmo povo. Sintam-se, portanto, comigo, honorários todos os cidadãos brasileiros e de todos os cantos e recantos deste planeta, que hoje se irmanam em terras paranaenses. Do mais simples, anônimo na singeleza da sua lida, até o mais eminente, visíveis nos mais altos postos da economia e da política paranaense. Como esta Assembléia Legislativa representa todo o povo do Paraná, significa que este mesmo povo está me abraçando, hoje, como um dos seus. Que bom ser bem-vindo à família paranaense! Espero continuar, para sempre, à altura deste gesto que me emociona. Quem sabe eu seja algo assim como um filho pródigo, que volta à casa do pai. Quero ser um semeador em terra boa, como no brasão do Estado do Paraná. “Terra, tem brilhos de alvorada, rumores de felicidade, canções e flores pela estrada”, como no hino. Nosso hino! Continuarei gaúcho, porque o gaúcho, para onde quer que ele vá, leva junto o Rio Grande. Mas, agora, eu sou um gaúcho com a honra de ser, também, paranaense. Quem sabe eu passe, a partir de hoje, a ser um paranaense até mais ostensivo, porque esta “certidão” que agora eu recebo, eu a colocarei no lugar de maior destaque, no caminho de quem me encontre. No caminho de quem me abrace. No meu caminho. Pois é, meu caro irmão e companheiro Caíto Quintana: por sua proposição, acatada, para minha incomensurável honra, pelos demais deputados desta Casa, traduzindo a vontade do povo do Paraná, agora somos duplamente conterrâneos. Somos, ao mesmo tempo, “daí” e “mas, bah”. Você, que como eu, vem de terras gaúchas. Eu, de Caxias do Sul. Você, de Santo Augusto. Que passou por Santo Ângelo e que veio para o sudoeste do Paraná. Você começou a vida paranaense em Planalto, ali na “região metropolitana de Capanema”. Quem sabe você possa se transferir, dia destes, para o outro Planalto, do sudoeste do Paraná para o centro-oeste do Brasil, como representante de todo o povo do Paraná! Embora hoje seja um dia de grande alegria, não posso deixar de mencionar, meu querido irmão Caíto, que temos, também em comum, momentos de imensa dor. Daquelas que calam fundo na alma, e que parecem eternas. Mas, há, bem lá no fundo da nossa existência, uma também imensa força, que, talvez, não seja suficiente para entender os desígnios, mas que nos faz seguir o caminho traçado pelo Criador. Um abraço fraterno ao povo do Paraná. Recorro a outro Quintana, o Mário, poeta gaúcho de todos os brasileiros: “Quando abro a cada manhã a janela do meu quarto... É como se abrisse o mesmo livro Numa página nova...” Na verdade, na verdade, o povo do Paraná escreveu, hoje, uma das mais belas páginas no livro da minha existência. Uma página nova, que eu quero manter, sempre, aberta, neste meu livro que venho escrevendo já vem de longe. Uma página de ouro. Quem sabe a própria capa, aquela que se coloca em evidência, mesmo quando o nosso livro se fecha. Rogo a Deus para que o Paraná continue sendo este exemplo de trabalho, de perseverança e de união entre os povos. O povo do Paraná não se contenta em viver a história. Como dos mais belos exemplos de dignidade e de solidariedade, luta, diariamente, para construí-la. É por isso que o livro da história do Paraná também tem, a cada manhã, uma página nova, repleta de bons exemplos. Quem sabe, no livro da história do Brasil, também tenhamos que colocar o Paraná na capa. Muito obrigado, de coração!