17/03/2009 18h09 | por
Distribuído em 17/03/09DEPUTADOS E AGROPECUARISTAS BUSCAM SOLUÇÃO PARA CADEIA LEITEIRA A crise que atinge o mercado do leite no Paraná vem provocando inúmeras queixas de produtores, comprometendo até a expansão da cadeia do produto no estado. O preço do leite pago aos produtores, segundo relato feito aos integrantes da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa nesta terça-feira (17), não estimula a produção. Além disso, eles pedem uma solução para a questão tributária que tira a competitividade do produto estadual, que vem perdendo terreno para produtores vizinhos e até da Argentina. A reunião da Comissão foi comandada pelos deputados Pedro Ivo (PT) e Plauto Miró Guimarães (DEM), e contou com a presença de uma dezena de produtores rurais. “Nos últimos cinco meses o preço do litro do produto baixou cerca de R$ 0,25. E se a situação persistir, teremos redução na produção e abandono da atividade”, explica o deputado Plauto Miro, acrescentando: “Temos uma necessidade lógica e real para proteger o mercado leiteiro do Paraná”.De acordo com os agropecuaristas, o setor busca ajuda para elevar a rentabilidade, já que nos últimos meses houve uma diminuição significativa no preço pago no litro do leite. Hoje, o custo de produção gira em torno de R$ 0,65 e os produtores estão recebendo entre R$ 0,50 e R$ 0,59 pelo litro do leite. “Este custo cobre gastos com alimentação (ração) dos animais, remédios, energia, entre outros gastos para a produção leiteira. Mas, em muitos casos, não considera a taxa de lucro que o produtor precisa ter para se manter e investir na atividade”, explica o vereador de Palmeira, Sérgio Belich, que acompanhava um grupo de produtores locais.Os produtores acrescentam ainda que não aceitam a alternativa de reduzir a produção diminuindo a alimentação dos animais, sob pena de prejudicar a própria fonte de renda, pois quando houver necessidade de aumentar a produção, as vacas não irão conseguir responder.Outra reivindicação do grupo, é que haja uma discussão aprofundada sobre a taxação do leite. Para evitar a concorrência dos produtores paranaenses e de outros estados, o governo de São Paulo zerou a alíquota do ICMS do leite produzido e comercializado internamente, e tributou em 18% o produto comprado de outros Estados. Os agropecuaristas defendem que o governo estadual adote postura semelhante.“O Paraná está sendo muito prejudicado com esta medida. Além disso, nossos produtores estão perdendo mercado dentro do próprio Paraná, já que o leite de outros estados acaba sendo comercializado com custo inferior ao nosso. Estima-se que apenas 30% de toda a produção paranaense esteja sendo consumida internamente”, destacou Belich.. Em média, o leite paranaense chega ao consumidor ao custo de R$ 1,59, enquanto que o leite produzido em outros estados chega aos mercados pelo valor de R$ 1,39. Plauto Miró ponderou ainda que “este é um importante instrumento de persuasão para mostrar a dificuldade pela qual passam os produtores paranaenses”.Segundo Heloise Merolli, proprietária do Laticínio CampoLat, de Campo Largo, “os produtores de São Paulo e Minas Gerais recebem de 20% a 30% mais pelo litro do leite, do que o produtor paranaense, e isso não se deve a qualidade do leite”. Um dos motivos apontados pela empresária para esta situação se deve ao fato do estado não contar com um número expressivo de grandes indústrias instaladas ou usinas de beneficiamento de leite. “O custo de logística é grande e o leite é um produto perecível. Além disso, os produtores estão limitados nas suas vendas, já que podemos vender para algumas poucas indústrias e não conseguimos entrar em São Paulo”, explica Heloise, que perdeu contratos firmados com indústrias paulistas por conta da nova tributação do ICMS.Nesse sentido, o deputado Pedro Ivo (PT) e Plauto Miró Guimarães (DEM) sugeriram a abertura de um diálogo com o governador e a base aliada na Assembleia para promover alterações na legislação estadual. “Da mesma forma que outros estados fizeram, é preciso garantir acesso ao produto paranaense, elevando a produção e mantendo a geração de mão-de-obra no campo”, defenderam os parlamentares.Os deputados também prometeram a realização de uma audiência – em data a ser definida – com representantes da Apras (Associação Paranaense de Supermercados) e entidades estaduais, como a secretaria da Agricultura do Paraná e do Conseleite (Conselho Paritário de Produtores e Indústrias de Leite do Paraná) – conselho de iniciativa privada, formado por produtores de leite e por representantes das principais indústrias de laticínios do Paraná, que são responsáveis pela captação de cerca de 80% da produção de leite do estado.Cabe ao Conseleite/PR a divulgação de um preço de referência para os produtos laticínios. Esse cálculo leva em conta os custos de produção da matéria-prima e os custos industriais, a participação da matéria-prima nos produtos e o resultado da comercialização do mix de produtos de cada empresa, mês a mês. Contudo, os produtores defendem que haja uma alteração nesta metodologia, uma vez que o custo praticado nas prateleiras dos supermercados é muito superior ao que é pago ao produtor rural. “É preciso que haja uma intervenção do governo do Estado para reestruturar essa cadeia produtiva e estimular o crescimento da indústria. Somente com a ajuda do governador e dos demais deputados, podemos resolver a questão tributária que tira a competitividade do produto estadual”, observou o deputado Plauto Miró.O deputado Pedro Ivo também defendeu a necessidade de criação de uma Câmara Setorial do Leite em âmbito federal, para diminuir a morosidade da coisa pública e permitir que estudos/análises mais complexas sejam alvo de investigação, como a exportação de leite da Argentina para o Brasil. “Sabemos que os governantes de outras nações subsidiam seus produtores, que estão vendendo sua produção para a Argentina que, por sua vez, vem utilizando o Mercosul para exportar esta suposta produção. Ou seja, temos uma triangulação irregular para a venda do leite, e que prejudica o produtor paranaense e brasileiro”, detalhou o parlamentar.NÚMEROS – Hoje, o Paraná e o Rio Grande do Sul disputam a segunda posição no ranking dos estados produtores de leite, com cerca de 2,7 bilhões de litros. Ficam atrás de Minas Gerais, que produz 7,9 bilhões. Estima-se que a atividade leiteira no estado esteja presente na vida de 100 mil produtores, sendo que a grande maioria da produção se concentra em pequenas e médias propriedades. A agricultura familiar responde, hoje, por quase 50% da produção estadual de leite.As regiões oeste e sudoeste do Paraná são responsáveis por 49% da produção do estado. Em ambas regiões, predomina a agricultura familiar. Com isso, a venda de leite garante uma renda mensal, o que influencia o crescimento da atividade. Já na região dos Campos Gerais, onde está situado o município de Castro, o maior produtor de leite do Brasil, destacam-se tecnologias de ponta, genética apurada e produtividade semelhante às obtidas nos rebanhos da União Européia, Estados Unidos e Canadá.