Paraná pode ganhar programa inédito para conservação de grandes felinos Necessidade de reforçar preservação dos animais foi abordada em uma audiência pública na Assembleia Legislativa.

29/11/2021 17h29 | por Thiago Alonso
Necessidade de reforçar preservação do grandes felinos no estado foi abordada em uma audiência pública na Assembleia Legislativa.

Necessidade de reforçar preservação do grandes felinos no estado foi abordada em uma audiência pública na Assembleia Legislativa.Créditos: Reprodução Zoom.

Necessidade de reforçar preservação do grandes felinos no estado foi abordada em uma audiência pública na Assembleia Legislativa.

O Paraná pode ganhar um programa inédito no País para a preservação de grandes felinos, como a onça-pintada e a onça-parda. A necessidade de criação de um plano efetivo para conservação dessas espécies vitais para o equilíbrio ecológico foi o tema de uma audiência pública realizada nesta segunda-feira (29) na Assembleia Legislativa do Paraná. Proposta pelo deputado Goura (PDT), presidente da Comissão de Ecologia, Meio Ambiente e Proteção aos Animais, o encontrou reuniu especialistas e estudiosos no assunto para debater a importância de se estabelecer políticas públicas de preservação dos animais e de seu habitat.

Os participantes trataram, entre outros temas, da criação de um Programa Estadual para a Conservação dos Grandes Felinos do Paraná. “A proposta para criação de um programa pode ser inédita no Brasil. Pelo o que discutimos, esta é uma ação necessária. Por isso, enviaremos os encaminhamentos discutidos para o Governo do Estado e órgãos responsáveis. Queremos a efetivação de um programa estadual de conservação dos felinos, além do fortalecimento das unidades de conservação e dos corredores ecológicos”, avaliou Goura.

O objetivo da audiência, explicou o deputado, é construir diretrizes do Programa, com estratégias de curto, médio e longo prazo. O diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Clovis Borges, reforçou a necessidade. “Precisamos tornar a conservação de animais uma política de Governo e uma política de sociedade. Tenho certo otimismo. As iniciativas existem”, concordou. Goura reforçou que são necessárias ações concretas e urgentes para recuperar a Mata Atlântica e salvar a onça-pintada.

A presença da onça-pintada na região do Parque Nacional do Iguaçu e na Serra do Mar, na Grande Reserva da Mata Atlântica, entre os estados de São Paulo e Paraná, demonstra que as regiões apresentam condições para sobrevivência e reprodução da espécie. "Queremos debater políticas públicas e atribuição para construir diretrizes de um programa, além de elaborar atribuições de cada esfera de governo. Queremos sair daqui com propostas factíveis. A presença de grandes felinos é indicativo de equilíbrio ecológico", disse o parlamentar.

Participações

A bióloga Yara de Melo Barros, coordenadora executiva do Projeto Onças do Iguaçu, relatou as experiências do projeto, as ações estratégicas para coexistência entre onças e pessoas, além de reforçar a necessidade de conservação das matas. “A missão do projeto é a conservação da onça como uma espécie-chave do equilíbrio. O Paraná é um Estado desmatado. O Parque Nacional do Iguaçu é como uma ilha de vida. Em torno de 85% da mata já foi perdida. Hoje, só 1% apresenta qualidade para a vida das onças. Precisamos aumentar essas áreas e não perder mais nenhum metro. A população de onças está crescendo. Estamos aos poucos se afastando da extinção local, mas precisamos continuar nosso trabalho”, disse.

O biólogo Roberto Fusco, que trabalha no Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar de Monitoramento e Conservação, ofereceu um panorama sobre os grandes felinos. Ele explicou que a onça-parda e a onça-pintada são animais do topo de cadeia, com papel importante no ecossistema. “Sem elas, pode-se provocar um efeito cascata no meio ambiente. Nosso desafio maior é recuperar e manter essas populações”, afirmou.

Para isso, o profissional listou uma série de necessidades para coexistência entre os animais e o ser humano, como a de se oferecer recomendações e assistência para melhorar as práticas de manejo de rebanhos, a fim de reduzir a predação e a morte por retaliação; aumento da fiscalização e fortalecimento das unidades de conservação para coibir a prática da caça ilegal sobre onças e suas presas; monitoramento e garantia de proteção das populações existentes; aumento da conectividade dessas populações por meio de identificação dos corredores, entre outros.

Unidades de Conservação

Já Bianca Ingberman, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC) e do Instituto Manacá, falou dos avanços na proteção, monitoramento e fortalecimento das unidades de conservação. “Estas espécies precisam de grandes áreas para viver. Os grandes felinos são excelentes indicações ambientais, pois são sensíveis a intervenções. Buscamos, através do conhecimento, contribuir com estratégias de conservação da biodiversidade. Já identificamos na Serra do Mar oito onças e um filhote. A Serra do Mar é uma área prioritária para conservação da onça-pintada”.

Angela Kuczach, graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e diretora da Rede Nacional Pró Unidades de Conservação (Rede Pró UC), lembrou a importância das unidades de conservação para a preservação ambiental no Estado. “Temos uma história de destruição da Mata Atlântica no Paraná, onde nada sobrou no centro do Estado. Sobrou mata apenas no leste e oeste. Só temos onças-pintadas nesses locais por causa das unidades de conservação. Por isso, precisamos olhar para o Estado como um todo, com a possibilidade de conectividade. Podemos pensar que a preservação de leste a oeste pode ser feita pelo Rio Iguaçu. A proteção dos rios pode servir como corredores de conservação. Conservar grandes felinos é estratégico para preservar a biodiversidade”, comentou.

Fernando Tortatto, da ONG Panthera, reforçou a ideia de incluir na necessidade de conservação dos animais o turismo de natureza aliado à exploração da atividade econômica. Segundo Tortatto, o turismo de natureza é uma indústria em crescimento e que está avançando muito em áreas críticas para conservação da biodiversidade. O pesquisador citou um estudo realizado por ele em 2015, comparando os ganhos com o ecoturismo de visitação de parques com onças e as possíveis perdas da pecuária local. “Em nossa comparação no Pantanal, o turismo representou um ganho que chegou ao montante de U$ 7 milhões. Já os prejuízos para pecuaristas ficaram em U$ 121 mil. Isso prova que temos que integrar o pecuarista para que as onças não continuem morrendo. O Pantanal tem um cenário favorável para conservação”, constatou.

A importância de programas de reintrodução e reforço populacional, além do papel dos criadouros em cativeiro para preservação das espécies foram citados pela médica veterinária Rose Gasparini Mora, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros/CENAP. O Brasil tem atualmente entre 90 e 100 onças-pintadas em cerca de 40 instituições, incluindo zoológicos e criadouros. “Trabalhamos com monitoramento, pesquisa e informação. Com planejamento estratégico, os animais servem como laboratório para se conhecer mais sobre a espécie”.

O biólogo e primeiro tenente Ulisses de Deus Gomes, do Batalhão de Polícia Ambiental Força Verde da Polícia Militar do Paraná, falou da prática diária no combate aos crimes ambientais e as ameaças aos grandes felinos. Já a coordenadora de Gestão de Recursos Naturais e Educação Ambiental da Secretaria Estadual do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo (Sedest) Fernanda Góss Braga, tratou do papel do Estado para a conservação dos grandes felinos do Paraná, além de falar sobre os recursos públicos e privados para proteção e conservação das espécies. Também participaram do encontro o biólogo e fotógrafo Leonel Carlos Anderman, as biólogas Marion Letícia Bartolamei Silva e Karynna Tolentino, ambas da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, e a estudante e militante Clara Marés.

Extinção

A onça-pintada, o maior felino das Américas e o terceiro do mundo, está ameaçada de extinção por já ter perdido 85% de seu habitat e corre risco de desaparecer na Mata Atlântica, onde estima-se que vivam cerca de 250 indivíduos. E o maior contingente de onças-pintadas da Mata Atlântica está no Paraná, segundo estimativa do Projeto Onças do Iguaçu. O último censo, realizado em 2018, contabilizou 28 onças-pintadas no Parque Nacional do Iguaçu (PNI) e 105 no Corredor Verde entre Brasil e Argentina. O PNI tem 185 mil hectares e é o maior núcleo remanescente das populações de onças-pintadas na Mata Atlântica.

A onça-pintada era encontrada desde o sudoeste dos Estados Unidos até o centro-sul da Argentina e Uruguai e vivia em diversos habitats, de florestas aos semiáridos. Hoje é considerada extinta nos EUA e muito rara na América Central.

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