O seminário “A outra face do autismo” foi realizado no Plenarinho da Assembleia Legislativo do Paraná (Alep) na manhã desta sexta-feira (1º). Profissionais de saúde, psicólogos, educadores, pais e mães participaram da reunião, que contou com uma série de palestras e marcou o encerramento da exposição fotográfica, de mesmo título, aberta na Casa desde o dia 27. O evento foi proposto pelo deputado Péricles de Mello (PT), presidente da Comissão de Cultura.
Propiciar uma rede ampla de atendimento aos autistas e orientação aos familiares foi um dos pontos principais tratados no seminário. Algumas sugestões para alterações na Lei nº 17.555/2013, que instituiu diretrizes para a política estadual de proteção dos direitos da pessoa com transtorno do espectro autista, de autoria do próprio deputado Péricles de Mello, também foram apresentadas, assim como foi debatida a mobilização para a formação de um Frente Parlamentar e a necessidade de estabelecer canais de diálogo com o Governo do Estado, por meio de diversas secretarias, para viabilizar a criação de um centro de especialidades e apoio para este público. “Tenho uma alegria enorme em participar de um seminário com várias entidades que representam a defesa das pessoas com autismo. Posso dizer que temos que concretizar algumas ações, dar efetividade para a política de apoio e proteção aos direitos dos autistas. Envolver os diversos segmentos, sejam eles na área de saúde, educação, ciência e tecnologia. O objetivo é mobilizar a sociedade”, afirmou Péricles.
O professor David Rodrigues, doutor em Educação Especial e conselheiro Nacional de Educação, apresentou algumas informações sobre a realidade de Portugal e particularmente sobre o ensino de pessoas com algum tipo de deficiência naquele país. Ele destacou que existem no seu país de origem 90 Centros de Recursos e Apoio de Ensino e de Referência, para incrementar o desenvolvimento das políticas educacionais. “Temos que tratar do tema da inclusão de forme efetiva. Em Portugal, 98% dos alunos com alguma deficiência frequentam a escola pública regular. Estamos falando de aproximadamente 76 mil alunos. Além disso, todas as escolas públicas são em tempo integral. Embora Portugal seja o país mais pobre da Europa, somos o sexto em investimento em educação. Por isso, defendo a educação como forma de estímulo, de desenvolvimento, de inclusão e de participação”, disse.
Diagnóstico precoce – No mundo, de cada 68 pessoas, uma é autista. No Brasil, a estimativa é de que ao menos três milhões de pessoas sejam autistas, conforme ressaltou a psicóloga e diretora da clínica do Centro de Diagnóstico e Intervenção do Neurodesenvolvimento (Cedin), Amanda Bueno. Na sua apresentação, ela reforçou a necessidade dos familiares em buscar sempre o apoio especializado de profissionais e da comunidade científica, para um diagnóstico precoce e para o devido acompanhamento e orientação.
Da mesma forma, a médica neuropediatra Mariane Wehmuth também alertou para a importância das pessoas buscaram a informação corretamente, quando do diagnóstico do autismo. “Temos muita informação à disposição e isso causa dúvidas nos pais, que acabam recorrendo à internet ou àquelas fórmulas mágicas de tratamento, quando descobrem um familiar com autismo. Isso está errado, porque muitas destas informações não são confiáveis, não têm respaldo médico ou científico. É preciso buscar o profissional da área”. Ela ainda sugere aos pais que, além do diagnóstico precoce, procurem promover o estímulo das crianças e buscar a terapia adequada, além da inclusão escolar, pois é preciso mostrar à sociedade a necessidade de superar o preconceito e cobrar a implantação de políticas públicas quem atendam as pessoas com o transtorno do espectro autista.
Na opinião da psicóloga e diretora da Self Center Clínica Psicológica, Maria Helena Jansen de Mello Keinert, além do foco nas crianças, também é preciso pensar nos familiares. “Estamos tendo cada vez mais casos de autismo. Há 25 anos era um caso diagnosticado a cada dez mil pessoas. Hoje este universo diminui para pouco mais de 60. Em Curitiba e no Paraná estamos mais avançados nas políticas de apoio e proteção do autista. Além do diagnóstico precoce, que permite uma intervenção com melhores resultados de desenvolvimento, temos que pensar no treinamento dos pais, dos professores”.
A pessoa com o transtorno do espectro autista geralmente tem a comunicação e a interação social prejudicadas. Conforme explicou o médico geneticista e presidente da Sociedade Brasileira de Genética, Salmo Raskin, 40% dos casos de autismo tem relação genética. “Além da questão genética, temos também fatores relativos ao meio em que se vive. Precisamos propiciar o melhor atendimento público de saúde a estas pessoas, até por uma questão de justiça e de direito, embora a sociedade já esteja com melhor compreensão sobre o autismo nos últimos dez anos”.
Pais de autistas também falaram sobre os desafios enfrentados diariamente para o desenvolvimento das crianças, especialmente diante da falta de uma política pública inclusiva. Neste particular o gestor social Nilton Salvador enalteceu a iniciativa da Assembleia Legislativa em promover um seminário especialmente para chamar atenção sobre o tema.
Muitos dos pais e mães presentes ao seminário também fundaram e integram entidades de apoio, como é o caso de Fernanda Rosa, do Anjo Azul, e de Rosimeri Benites, presidente da Associação de Amparo e Apoio ao Autista (Aampara). “Este evento ajuda a quebrar paradigmas e mostra que as crianças podem conviver com outras pessoas, interagir com a sociedade, e que são afetuosas. Importante iniciativa do deputado Péricles, tanto como autor da lei, que é inclusiva, com por realizar este debate público. Nosso próximo passo agora é buscar este centro de apoio para as crianças e para os pais e mães”, comentou Fernanda Rosa.