Audiência amplia visibilidade à sobrecarga feminina pelo trabalho de cuidado Debate promovido pela deputada Ana Júlia (PT) buscou identificar quais as medidas legislativas precisam ser tomadas para amenizar o impacto ao público feminino.

20/03/2024 14h32 | por Ana Luzia Mikos
O encontro foi promovido pela deputada Ana Júlia (PT), com o objetivo de entender o debate sobre o tema no Paraná e identificar quais as medidas legislativas precisam ser tomadas para reconhecer e valorizar esse trabalho.

O encontro foi promovido pela deputada Ana Júlia (PT), com o objetivo de entender o debate sobre o tema no Paraná e identificar quais as medidas legislativas precisam ser tomadas para reconhecer e valorizar esse trabalho.Créditos: Valdir Amaral/Alep

O encontro foi promovido pela deputada Ana Júlia (PT), com o objetivo de entender o debate sobre o tema no Paraná e identificar quais as medidas legislativas precisam ser tomadas para reconhecer e valorizar esse trabalho.

Um tempo enorme, invisível e não remunerado dedicado aos cuidados da casa e da família, comprometendo outras atividades pessoais, sociais, profissionais e de formação das mulheres. Buscar políticas públicas que amenizem essa sobrecarga feminina foi o foco da audiência pública “Economia do cuidado e impactos na vida das mulheres”, realizada nesta quarta-feira (20), na Assembleia Legislativa do Paraná.

O encontro foi promovido pela deputada Ana Júlia (PT), com o objetivo de entender o debate sobre o tema no Paraná e identificar quais as medidas legislativas precisam ser tomadas para reconhecer e valorizar esse trabalho.

“A gente precisa dar visibilidade ao trabalho das mulheres, sempre visto como um trabalho que não tem muita importância, que não precisa ser remunerado, ou que muitas vezes nem sequer é visto como trabalho. E o objetivo dessa audiência foi debater a economia do cuidado, como esse trabalho que acabou ficando ao longo dos anos como uma responsabilidade das mulheres é trabalhoso, precisa ser remunerado, valorizado e que merece todos os direitos que os outros também têm”, afirmou a parlamentar.

A secretária nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados do Ministério das Mulheres do Governo Federal, Rosane da Silva, lembrou que o assunto é tão atual que virou tema da redação do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil.

“Devemos lançar, em maio, uma política e um plano nacional de cuidados, e espaços como este aqui na Assembleia são fundamentais para a discussão. O tema do cuidado também dialoga com o trabalho doméstico, que é feito pelas mulheres, cotidianamente, nas suas casas, em especial as mulheres mais pobres, negras, e que não é valorizado nem mesmo por quem vive naquele mesmo espaço, muito menos pela sociedade. Então, o grande debate é como pensar em uma política de cuidados que de fato beneficie a todos na sociedade, tanto os que precisam de cuidados e como também aqueles que cuidam”, explicou.

“A gente quer garantir direitos para quem trabalha de forma remunerada e garantir o compartilhamento das responsabilidades familiares com todos que vivem naquele espaço doméstico. Não somente uma responsabilidade de nós, mulheres, que vemos comprometido o tempo para qualificação, trabalho remunerado, participação cidadã, autocuidado e relações sociais”, acrescentou Rosane da Silva.

A desembargadora substituta Flavia da Costa Vieira, presidente do Núcleo de Diversidade e Inclusão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PR), falou da importância da participação feminina na política por promover pautas de interesse das mulheres, como a economia do cuidado, que compromete também o maior envolvimento da mulher na vida pública.

“As mulheres têm uma dupla, tripla jornada e muitas vezes não conseguem se estabelecer de forma firme e ascender nos partidos. Quanto mais a sociedade se enxergar nos espaços públicos, mais forte a democracia. Quando maior a diversidade de olhares, mais abrangentes serão as políticas públicas e as legislações beneficiando toda a sociedade”.

Ela citou, ainda, o desequilíbrio da representatividade feminina. Conforme ranking da Inter-Parliamentary Union, entre os Parlamentos de 193 países, o Brasil aparece no 131º lugar em relação à representatividade das mulheres e, na América Latina, o país está à frente apenas de Belize e Haiti. “Somos mais de 52,5% da população e, na câmara federal, ocupamos 17,7% das cadeiras. E é nosso recorde histórico, pois em2014 não chegávamos a 11%”.

“A tarefa do cuidado é fundamental para a vida e também para o sistema produtivo. O cuidado produz valor econômico, por isso insistimos tanto que o poder público e a sociedade também têm sua responsabilidade, não só as mulheres. Há um processo histórico de invisibilidade. É uma cultura que precisa ser alterada e que os homens percebam seu papel nesta economia do cuidado”, analisou a advogada, integrante do Coletivo da Mulheres do PT e da Marcha Mundial da Mulheres e assessora da APP Sindicato, Marilda Ribeiro da Silva. Ela ainda destacou que há diferenças, inclusive entre as mulheres, pois as integrantes da elite podem pagar pelo trabalho do cuidado.

Para a assessora de Planejamento e Gestão da Informação na Secretaria da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa do Paraná, Tamara Zazera, os debates sobre a equidade de gênero beneficiam toda a sociedade. “O cuidado não é uma questão apenas social, mas sobre economia. Não só sobre políticas sociais, mas sobre distribuições de riqueza, feminização da pobreza. Impactam economicamente, aumentam o PIB e trazem maior desenvolvimento”.

A empregada doméstica e cabelereira, líder comunitária e também coordenadora política da Rede nacional de Mulheres Negras, Andreia Lima, idealizadora da Ong Usina de Ideias, comparou a criação das mulheres. “Ao nascer, já ganham uma boneca para reproduzir o cuidado da mãe pela vida toda, ganham um jogo der panela para fazer comida para o marido. Por isso, é preciso mudar a visão sobre o papel da mulher”.

O sociólogo e pesquisador no Núcleo de Estudos de Gênero da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Henrique da Costa Valério, defende que sem o cuidado, os outros trabalhos não seriam possíveis. “E se é tão importante, por que permanece tão inviabilizado? Historicamente relegado aos grupos colocados à margem da sociedade como as mulheres, pessoas pretas e os mais pobres. A responsabilização das mulheres pelos cuidados dos filhos e da casa impede um acesso ao mercado de trabalho quase inexistente para os homens”, pontuou. Ele também citou o envelhecimento da sociedade, que irá aumentar a necessidade de cuidado no país.

Presidente do Conselho Municipal de Direitos das Mulher de Curitiba, Renata Carneiro ressaltou que ao longo da história foram acrescentadas funções e hoje as mulheres sentem as consequências dessa sobrecarga, prejudicando a formação, o autocuidado, o lazer e o trabalho. “O cotidiano é muito cansativo e invisibilizado. Não queremos favor, ajuda, mas que sejam direitos garantidos às mulheres e o cuidado uma responsabilidade compartilhada”, afirmou.

Liderança indígena, integrante do povo Caingangue, Camila dos Santos definiu o machismo nas aldeias como um câncer. “Antes não existia e hoje a maioria das mulheres estão sofrendo com estupros. Precisamos participar integralmente das discussões.”

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